CHINA EM FOCO

O novo pacote chinês de investimento em cidades: foco em qualidade de vida

A iniciativa prevê requalificação de áreas urbanas, criação de cidades resilientes e políticas de financiamento verde até 2030

Quarteirão Luxiangyuan, no distrito de Huangpu revitalizado como parte de uma iniciativa de renovação urbana em Xangai
China lança pacote para renovação urbana com foco em sustentabilidade, qualidade de vida e estímulo.Quarteirão Luxiangyuan, no distrito de Huangpu revitalizado como parte de uma iniciativa de renovação urbana em XangaiCréditos: VCG
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A China acaba de lançar um amplo pacote de medidas para acelerar seu programa nacional de renovação urbana, com o objetivo de modernizar infraestruturas, ampliar funções urbanas e impulsionar um crescimento sustentável. A estratégia também visa estimular o investimento e o consumo doméstico, fortalecendo a demanda interna diante dos desafios econômicos e ambientais globais.

Durante coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (20), em Pequim, representantes de alto escalão de cinco órgãos governamentais — incluindo os ministérios da Habitação, Recursos Naturais, Finanças, Desenvolvimento e Reforma, além da Administração Nacional de Regulação Financeira — detalharam as diretrizes contidas no documento Pareceres sobre a Promoção Contínua da Ação de Renovação Urbana.

Com a taxa de urbanização chinesa atingindo 67% ao fim de 2024 — o equivalente a cerca de 940 milhões de habitantes urbanos —, o país inicia uma nova fase de desenvolvimento centrada na requalificação de áreas existentes e na resiliência das cidades, deixando para trás o modelo baseado em expansão desenfreada.

Até o final do ano passado, reformas haviam sido iniciadas em 280 mil comunidades residenciais antigas, beneficiando mais de 120 milhões de pessoas. Agora, a nova política amplia esse escopo com metas até 2030, voltadas à melhoria dos serviços públicos, preservação do patrimônio histórico, construção de comunidades completas e modernização da infraestrutura.

Segundo Qin Haixiang, vice-ministro da Habitação, a renovação urbana é crucial tanto para elevar a qualidade de vida nas cidades quanto para fortalecer a vitalidade econômica da China a longo prazo. “A população quer saber se a cidade é boa para se viver, não apenas se há mais construções”, afirmou.

Prioridades e pilares da nova política

O plano contempla oito tarefas prioritárias, como a reforma de bairros antigos, reutilização de edifícios obsoletos, construção de comunidades com serviços integrados e implementação de soluções sustentáveis. Também prevê a criação de parques urbanos, corredores ecológicos, áreas de lazer, além de iniciativas voltadas à acessibilidade e à eficiência energética.

A política se estrutura em quatro pilares: planejamento estratégico, incentivos fiscais, instrumentos legais e participação coordenada entre governos locais, bancos, empresas e sociedade civil.

O Ministério dos Recursos Naturais anunciou que flexibilizará regras para o uso do solo e promoverá o aproveitamento de terrenos subutilizados. Já o Ministério das Finanças revelou que mais de 1,5 trilhão de yuans (cerca de R$ 1,1 trilhão) já foram investidos em projetos de renovação, com expectativa de aumento por meio de títulos especiais e parcerias público-privadas.

A Administração Nacional de Regulação Financeira também terá papel central, ao criar um sistema específico de empréstimos para projetos urbanos, com critérios claros de elegibilidade e mecanismos de gestão de risco. O objetivo é garantir produtos financeiros personalizados, com estabilidade e foco em resultados concretos.

De acordo com Zhao Chengfeng, chefe do Departamento de Investimentos da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, renovar as cidades é uma forma de “ativar o potencial do mercado interno e promover o bem-estar da população”.

A política estabelece ainda um sistema de check-up urbano, com avaliações periódicas das condições das cidades para orientar os investimentos e evitar obras de fachada.

O documento orienta províncias e municípios a elaborarem planos próprios, com metas adaptadas às suas realidades locais. A implementação será coordenada nacionalmente e monitorada com base em indicadores sociais, ambientais e econômicos.

Uma resposta urbana à crise climática

A nova política de renovação urbana contínua também representa uma resposta concreta da China à crise climática global, abordando mitigação, adaptação e justiça socioambiental. Entre os principais aspectos:

  • Redução da pegada de carbono: Ao priorizar a requalificação de estruturas já existentes, a China reduz o consumo de materiais intensivos em carbono, como cimento e aço.
     
  • Eficiência energética e infraestrutura verde: A modernização de prédios com isolamento térmico, sistemas de drenagem natural e as chamadas cidades-esponja ajuda a enfrentar inundações e ondas de calor.
     
  • Uso racional de recursos: A reutilização de terrenos e infraestruturas minimiza novas extrações, favorecendo a economia circular e a preservação ambiental.
     
  • Espaços verdes e bem-estar urbano: A criação de pocket parks, corredores ecológicos e áreas arborizadas melhora a qualidade do ar, reduz ilhas de calor e favorece a saúde mental da população.
     
  • Modelo para países em desenvolvimento: A política combina planejamento urbano, inclusão social e sustentabilidade, servindo como referência para nações do Sul Global diante da urbanização acelerada e da vulnerabilidade climática.
     
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