A China reafirmou com firmeza sua defesa do multilateralismo e do livre comércio, que enfrentam atualmente desafios severos, conforme apontado no relatório Situação e Perspectivas da Economia Mundial em Meados de 2025, publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (15).
Segundo o relatório, o aumento de tarifas e a incerteza nas políticas comerciais enfraqueceram as perspectivas econômicas globais para 2025, impondo múltiplos desafios ao mundo — especialmente às economias em desenvolvimento, como a China.
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Durante a coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores chinês nesta sexta-feira (16), em Pequim, o porta-voz Lin Jian afirmou que os fatos comprovam, mais uma vez, que a globalização econômica é uma tendência histórica, que a cooperação aberta é o desejo comum da comunidade internacional, e que o multilateralismo é a escolha correta.
"Diante da situação atual, é ainda mais importante que todas as partes defendam o sistema multilateral de comércio e as regras econômicas internacionais, preservem o ambiente global de cooperação aberta e promovam o desenvolvimento duradouro e a prosperidade compartilhada", disse Lin.
O porta-voz alertou que, quanto maiores os riscos enfrentados pela economia global, maior é a necessidade de abertura e cooperação para superá-los. Ele também destacou o compromisso da China com um ambiente de negócios transparente, estável e previsível, orientado pelo mercado e baseado no Estado de Direito.
"A China está comprometida em oferecer às empresas estrangeiras um ambiente de negócios de padrão internacional, compartilhando as oportunidades de seu vasto mercado com o mundo e promovendo uma globalização inclusiva e benéfica para todos. Uma China aberta é sempre uma fonte de oportunidades para o restante do mundo", enfatizou Lin.
Perspectiva global em declínio
De acordo com a atualização do relatório da ONU, a economia global está em um momento delicado. As tensões comerciais e a incerteza política levaram a uma revisão para baixo do crescimento global, que agora deve ser de 2,4% em 2025 — abaixo dos 2,9% estimados para 2024 e 0,4 ponto percentual inferior à previsão anterior, feita em janeiro.
A alta de tarifas nos Estados Unidos elevou significativamente as taxas efetivas de importação, pressionando as cadeias globais de suprimentos, aumentando custos de produção e atrasando decisões de investimento, além de provocar maior volatilidade nos mercados financeiros. Economias desenvolvidas e em desenvolvimento são afetadas, e países dependentes do comércio enfrentam queda nas exportações, preços mais baixos das commodities, aperto das condições financeiras e altos níveis de endividamento.
Mesmo com a desaceleração da inflação, o relatório aponta que os riscos relacionados ao aumento de custos e à instabilidade continuam pressionando os formuladores de políticas. A ONU sugere o uso de instrumentos variados, incluindo política monetária, medidas fiscais, reformas estruturais e estratégias industriais, para estabilizar os preços e aumentar a resiliência econômica.
O relatório ainda faz um alerta importante: o enfraquecimento das economias compromete o progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O crescimento lento e o aumento do custo de vida tendem a aprofundar desigualdades, penalizando as populações mais pobres e vulneráveis. A queda dos investimentos também prejudica as perspectivas de longo prazo.
China desacelera em meio à guerra comercial com os EUA
A economia chinesa deverá crescer 4,6% em 2025, segundo o relatório da ONU — uma redução de 0,2 ponto percentual em relação à previsão anterior. A queda é atribuída principalmente às tarifas impostas pelos EUA e à crise prolongada no setor imobiliário.
A China é um dos países em desenvolvimento mais afetados pelas tensões comerciais. As tarifas adicionais dos EUA pressionam especialmente as indústrias exportadoras, gerando interrupções nas cadeias de produção e ampliando incertezas que impactam negativamente os investimentos e o consumo doméstico.
O relatório também menciona um aumento modesto no desemprego chinês no início de 2025. Embora o Banco Popular da China tenha promovido cortes nas taxas de juros para estimular a economia, o crescimento continua limitado.
Outro dado preocupante é a queda de 29% no investimento direto estrangeiro (IDE) na China em 2024 — o segundo ano consecutivo de retração. O movimento reflete o impacto da guerra comercial e a reestruturação das cadeias globais de suprimento.
Para a ONU, a continuidade dessas tensões comerciais e da instabilidade pode não apenas frear a recuperação chinesa, mas também acirrar desigualdades globais e comprometer seriamente o cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável até 2030.
Projeções oficiais de Pequim
Durante a sessão anual do Congresso Nacional do Povo, realizada em março de 2025, o governo chinês estabeleceu uma meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de aproximadamente 5% para o ano.
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Essa meta foi anunciada pelo premiê Li Qiang no relatório de trabalho do governo, que também delineou planos para estabilizar o crescimento econômico por meio do aumento da demanda interna e da criação de 12 milhões de novos empregos urbanos.
Para alcançar esse objetivo, o governo anunciou medidas como a emissão de 300 bilhões de yuans em títulos do tesouro para programas de incentivo ao consumo, além de investimentos em setores de alta tecnologia, como inteligência artificial e redes 6G.
No primeiro trimestre de 2025, a economia chinesa apresentou um crescimento de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando as expectativas do mercado. Esse desempenho foi impulsionado por um aumento nas exportações e investimentos em setores de alta tecnologia.
No entanto, analistas alertam que esse impulso pode ser difícil de sustentar devido às tarifas impostas pelos Estados Unidos e à desaceleração do setor imobiliário.
Enquanto a ONU projeta um crescimento de 4,6% para a China em 2025, o governo chinês mantém uma meta mais ambiciosa de aproximadamente 5%, apoiada por medidas de estímulo fiscal e investimentos em setores estratégicos.
A resposta oficial de Pequim enfatiza o compromisso com o multilateralismo e a abertura econômica, contrastando com as preocupações internacionais sobre as tensões comerciais e seus impactos na economia global.