CHINA EM FOCO

China reage à vigilância dos EUA sobre universitários chineses

Legislativo estadunidense pressiona universidades contra estudantes da potência asiática sob a justificativa de "risco à segurança nacional"; Pequim denuncia discriminação acadêmica

Legislativo estadunidense pressiona universidades contra estudantes da potência asiática sob a justificativa de 'risco à segurança nacional'; Pequim denuncia discriminação acadêmica. Na foto, formatura de universitárias chinesas nos EUA em 2016.
China reage à vigilância dos EUA sobre universitários chineses.Legislativo estadunidense pressiona universidades contra estudantes da potência asiática sob a justificativa de "risco à segurança nacional"; Pequim denuncia discriminação acadêmica. Na foto, formatura de universitárias chinesas nos EUA em 2016.Créditos: Getty Images (Eduardo Munoz Alvarez)
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Os Estados Unidos intensificaram a vigilância sobre estudantes chineses em suas universidades, alegando riscos à segurança nacional. 

Durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (20), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, criticou a medida e afirmou que os estudantes chineses representam cerca de um quarto dos estudantes internacionais nos EUA. 

Pequim defende que a cooperação acadêmica entre os dois países promove intercâmbio educacional e impulsiona o desenvolvimento econômico e científico dos Estados Unidos.

"Instamos os EUA a pararem de usar a segurança nacional como pretexto e a protegerem os direitos e interesses legítimos dos estudantes chineses no país. Os EUA não devem adotar medidas discriminatórias e restritivas contra estudantes chineses", declarou Mao Ning. 

Para a China, essas restrições fazem parte de uma estratégia mais ampla de Washington para conter sua influência global em setores estratégicos.

A origem do caso

Na quarta-feira (19), o presidente do Comitê Seletivo da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês (PCCh), deputado republicano por Michigan John Moolenaar, enviou cartas aos presidentes de seis universidades dos EUA.

Ele mandou mensagens para Carnegie Mellon, Purdue, Stanford, Universidade de Illinois, Universidade de Maryland e Universidade do Sul da Califórnia para pedir informações detalhadas sobre a presença de estudantes chineses em programas avançados de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, na sigla em inglês).

A iniciativa de Moolenaar reflete temores de que a China esteja utilizando seus estudantes para obter acesso a tecnologias sensíveis com aplicações militares. 

Segundo o deputado, se essa situação não for abordada, poderá comprometer a integridade da pesquisa acadêmica nos EUA, deslocar talentos estadunidenses e fortalecer as ambições tecnológicas da China às custas da segurança nacional dos EUA.

Temores e impactos na pesquisa acadêmica

O documento de Moolenaar destaca que estudantes chineses representam cerca de um terço dos estrangeiros matriculados em programas STEM nos EUA. Alega-se que alguns desses estudantes mantém vínculos com programas de recrutamento de talentos financiados pelo governo chinês e com instituições de pesquisa ligadas ao setor militar da China.

Essa preocupação se insere em um contexto maior de rivalidade tecnológica entre as duas potências. Os EUA vêm impondo diversas restrições para impedir que a China tenha acesso a tecnologias estratégicas, incluindo semicondutores e inteligência artificial. O endurecimento dessas políticas pode afetar não apenas estudantes estrangeiros nos EUA, mas também a colaboração científica e acadêmica global.

Quem é John Moolenaar?

John Robert Moolenaar, do Partido Republicano, iniciou sua carreira política no Conselho Municipal de Midland, Michigan (1997-2000). Posteriormente, atuou na Câmara dos Representantes de Michigan (2003-2008) e no Senado estadual (2011-2014). Em 2015, foi eleito para a Câmara dos Representantes dos EUA, onde representa Michigan. Desde 24 de abril de 2024, ele preside o Comitê Seletivo da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês, órgão que investiga a influência da China em diversos setores nos EUA.

Impacto na presença de estudantes estrangeiros nos EUA

Os Estados Unidos registraram um número recorde de estudantes internacionais no ano letivo de 2023-2024, ultrapassando 1,1 milhão de matrículas. A China continua sendo o principal país de origem desses estudantes, com aproximadamente 289 mil chineses matriculados em instituições de ensino superior nos EUA, de acordo com o Relatório Open Doors 2024, elaborado pelo Institute of International Education (IIE) em parceria com o Departamento de Estado dos EUA.

A Índia ocupa a segunda posição, com 277.398 estudantes, seguida pela Coreia do Sul (43.149), Canadá (28.998) e Brasil (23.157). Outros países e regiões com grande número de estudantes nos EUA incluem Vietnã (22.066), Taiwan (20.029), Arábia Saudita (17.099), México (16.877) e Nigéria (16.742).

China amplia esforços para atrair estudantes estrangeiros

Enquanto os EUA impõem restrições, a China se consolida como um destino educacional global, fortalecendo sua influência acadêmica e cultural. 

Segundo dados do Ministério da Educação da China, em 2018, havia 492.200 estudantes estrangeiros matriculados em universidades chinesas, sendo 258.100 em programas acadêmicos regulares. Esses estudantes eram provenientes de 196 países e estavam distribuídos entre 1.004 instituições de ensino superior.

A distribuição por continente era a seguinte:

  • Ásia: 295.043 estudantes (59,95%)
     
  • África: 81.562 estudantes (16,57%)
     
  • Europa: 73.618 estudantes (14,96%)
     
  • Américas: 42.154 estudantes (8,56%)
     
  • Oceania: 5.808 estudantes (1,18%)

Os principais países de origem eram:

  • Coreia do Sul: 50.600 estudantes
     
  • Tailândia: 28.608 estudantes
     
  • Paquistão: 28.023 estudantes
     
  • Índia: 23.198 estudantes
     
  • Estados Unidos: 20.996 estudantes

Interrupção causada pela pandemia e perspectivas futuras

A pandemia de Covid-19 impactou significativamente a mobilidade estudantil global, dificultando a entrada e permanência de estrangeiros na China devido a restrições sanitárias. Como consequência, os números de matrículas de estudantes estrangeiros caíram nos anos seguintes.

Atualmente, o Ministério da Educação da China ainda não publicou dados atualizados a partir de 2020, mas a tendência é de recuperação gradual, com a reabertura das fronteiras e a retomada dos programas de intercâmbio.

Incentivos para estudantes internacionais

O governo chinês investe na internacionalização do ensino superior, oferecendo bolsas de estudo pelo Programa "Study in China" e pelo Programa de Bolsas do Governo Chinês. Esses incentivos atraem estudantes de diversas nacionalidades, fortalecendo parcerias educacionais e promovendo a cooperação acadêmica.

Além das universidades, os Institutos Confúcio desempenham um papel fundamental na disseminação da língua e cultura chinesas. Até 2019, a China havia estabelecido 535 Institutos Confúcio e 1.134 Salas de Aula Confúcio em 158 países, promovendo o ensino do mandarim e incentivando intercâmbios acadêmicos.

A China se destaca como um polo educacional global e espera um aumento contínuo no número de estudantes estrangeiros nos próximos anos, impulsionado pela modernização do ensino superior e pelo fortalecimento das relações internacionais. 

A combinação de baixos custos de vida, ensino de qualidade e amplas oportunidades de pesquisa tem tornado as universidades chinesas cada vez mais competitivas no cenário global.

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