CHINA EM FOCO

China, Rússia e Irã reforçam diálogo sobre questão nuclear enquanto Trump intensifica sanções

Pequim, Moscou e Teerã defendem solução diplomática para o programa nuclear iraniano em contraponto à política de "pressão máxima" de Washington

China, Rússia e Irã reforçam diálogo sobre questão nuclear enquanto Trump intensifica sanções.Pequim, Moscou e Teerã defendem solução diplomática para o programa nuclear iraniano em contraponto à política de "pressão máxima" de Washington.Créditos: Xinhua
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Em contraponto à postura agressiva de Washington sob a administração de Donald Trump em relação ao Irã, China e Rússia buscam o caminho do diálogo para tratar a questão nuclear iraniana.

Nesta sexta-feira (14), foi realizada em Pequim uma reunião entre representantes da China, Rússia e Irã. Participaram do encontro o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi; o vice-ministro das Relações Exteriores da Federação Russa, Ryabkov Sergey Alexeevich; e o vice-ministro das Relações Exteriores da República Islâmica do Irã, Kazem Gharibabadi.

Xinhua - Ryabkov Sergey Alexeevich, Wang Yi e Kazem Gharibabadi.

Durante a coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, em Pequim, a porta-voz Mao Ning fez um resumo do encontro, no qual as três partes realizaram uma troca aprofundada de opiniões sobre o tema e emitiram uma declaração conjunta.

Segundo Mao, China, Rússia e Irã reiteraram que o engajamento político e diplomático, por meio do diálogo, continua sendo a única opção viável e prática, e pediram que as partes envolvidas abandonem sanções, pressões e ameaças de uso da força, além de se absterem de ações que possam agravar a situação.

As três partes reafirmaram a importância do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). China e Rússia saudaram a reafirmação do Irã de que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos e que o país não busca desenvolver armas nucleares.

Além disso, China e Rússia apoiaram o Irã na continuidade da cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e enfatizaram a necessidade de respeitar o direito iraniano ao uso pacífico da energia nuclear.

A porta-voz comentou que a questão nuclear iraniana enfrenta uma situação grave e se encontra, mais uma vez, em um momento decisivo. A reunião de Pequim representa um esforço útil de China, Rússia e Irã para avançar na resolução desse tema.

Mao destacou que sanções, pressões e ameaças de força não levam a lugar algum, enquanto o diálogo e a consulta são o caminho adequado a seguir. Ela enfatizou que Pequim conclama todas as partes a intensificarem a comunicação e o diálogo, criando as condições necessárias para a retomada das negociações o mais breve possível.

“A China está pronta para trabalhar com outras partes em busca de uma solução justa, equilibrada e sustentável para a questão nuclear iraniana, defender o regime internacional de não proliferação e promover a paz e a estabilidade internacionais e regionais”, concluiu.

Os cinco pontos da China para a questão nuclear do Irã

O chanceler chinês, Wang Yi, apresentou cinco pontos para a solução adequada da questão nuclear iraniana:

  1. Compromisso com a solução pacífica de disputas por meios políticos e diplomáticos, e oposição ao uso da força e a sanções ilegais.
     
  2. Equilíbrio entre direitos e responsabilidades, garantindo o respeito ao direito do Irã ao uso pacífico da energia nuclear.
     
  3. Manutenção do compromisso com o Acordo Nuclear de 2015 (JCPOA) como base para um novo consenso.
     
  4. Promoção da cooperação por meio do diálogo e oposição a intervenções precipitadas do Conselho de Segurança da ONU (CSNU.
     
  5. Abordagem gradual e recíproca, buscando consenso por meio da consulta e respeito mútuo.

Leia aqui os cinco pontos da China para a questão nuclear do Irã (em inglês)

Declaração conjunta de China, Rússia e Irã

Após a reunião, China, Rússia e Irã emitiram uma declaração conjunta na qual informam que realizaram discussões aprofundadas sobre a situação atual da questão nuclear e a suspensão de sanções.

Os três países enfatizaram a necessidade de encerrar todas as sanções unilaterais ilegais; reiteraram que o engajamento político e diplomático, baseado no princípio do respeito mútuo, continua sendo a única opção viável e prática para lidar com essa questão.

Também destacaram que as partes envolvidas devem se comprometer a abordar as causas fundamentais da situação atual e abandonar sanções, pressões ou ameaças de uso da força.

Reafirmaram a importância de manter o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) como pedra angular do regime internacional de não proliferação. China e Rússia saudaram a reafirmação do Irã de que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos e não visa ao desenvolvimento de armas nucleares.

O comunicado dá boas-vindas ao compromisso do Irã com o cumprimento integral de suas obrigações sob o TNP e o Acordo de Salvaguardas Abrangente.

Irã e Rússia elogiaram o papel construtivo da China e sua iniciativa de sediar a Reunião de Pequim. Os três países concordaram em continuar sua estreita consulta e cooperação no futuro.

Os três países também trocaram opiniões sobre questões regionais e internacionais de interesse comum e concordaram em manter e fortalecer sua coordenação em organizações internacionais e em arranjos multilaterais, como os BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai (OCX, da sigla em inglês).

Leia aqui a Declaração conjunta China, Rússia e Irã (em inglês)

Trump faz "pressão máxima" contra Teerã

A reunião entre China, Rússia e Irã para tratar da questão nuclear iraniana faz contraponto à postura de Washington. Desde sua primeira gestão (2017-2021) Donald Trump tem adotado uma política agressiva em relação ao Irã, reforçada após seu retorno à presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2025. 

Em 2018, ele retirou os EUA do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), conhecido como acordo nuclear iraniano, classificando-o como "um acordo horrível e unilateral que nunca deveria ter sido feito".

Em fevereiro deste ano, Trump intensificou sua estratégia ao assinar um Memorando Presidencial de Segurança Nacional, que restabeleceu a campanha de "pressão máxima" contra Teerã. A medida visa restringir o avanço do programa nuclear iraniano e conter a influência regional do país, por meio de sanções econômicas mais rígidas, impactando principalmente as exportações de petróleo iranianas.

Apesar da postura rígida, Trump indicou estar aberto a negociações para um novo acordo nuclear, mas deixou claro que opções militares permanecem sobre a mesa caso as conversas não avancem. Em um movimento diplomático controverso, ele enviou uma carta ao líder supremo do Irã, Ali Khamenei, propondo novas tratativas e alertando sobre possíveis ações militares se o país mantiver seu programa nuclear.

A resposta de Teerã veio de forma categórica. O aiatolá Ali Khamenei declarou que o Irã não se curvará às pressões dos EUA e rejeitou qualquer negociação sob coerção. O líder iraniano também reforçou que o país não aceitará novas exigências além das questões nucleares, demonstrando resistência à abordagem de Washington.

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O posicionamento de Trump segue a linha de sua primeira administração: sanções econômicas severas combinadas com uma disposição para negociar, mas sempre acompanhadas da ameaça de ação militar. Com a escalada de tensões, o cenário para um acordo diplomático continua incerto.

Enquanto Pequim, Moscou e Teerã defendem o diálogo, Washington segue impondo restrições econômicas e mantendo a possibilidade de intervenção militar. Diante desse cenário, o futuro das negociações nucleares iranianas permanece incerto, com os dois blocos apostando em estratégias opostas para resolver a questão.

 

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