A China anunciou uma série de retaliações econômicas contra os Estados Unidos após a decisão do presidente Donald Trump de dobrar as tarifas sobre produtos chineses, elevando-as de 10% para 20%. Em resposta, Pequim aplicará novas taxas sobre produtos agropecuários estadunidenses e ampliará restrições a empresas do país.
O aumento tarifário dos EUA, anunciado na última terça-feira (4), foi justificado como uma resposta às "práticas comerciais desleais" da China e uma forma de proteger setores industriais e de tecnologia estadunidenses. As tarifas adicionais afetam diversos produtos chineses, incluindo eletrônicos, têxteis, máquinas e equipamentos industriais. O objetivo declarado é reduzir o déficit comercial dos EUA e incentivar a produção doméstica.
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Em contrapartida, a China anunciou tarifas adicionais de 10% a 15% sobre produtos agrícolas dos EUA, como frango, trigo, milho, soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios. Além disso, Pequim incluiu 10 empresas dos EUA na Lista de Entidades Não Confiáveis, restringindo suas operações no mercado chinês.
A escalada tarifária entre as duas maiores economias do mundo gerou preocupação sobre os impactos no comércio global e no crescimento econômico. Organizações internacionais e parceiros comerciais têm apelado por negociações para evitar uma intensificação da guerra comercial.
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China rejeita justificativa dos EUA e endurece o discurso
Durante coletiva de imprensa regular do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quarta-feira (5), o porta-voz Lin Jian criticou duramente a justificativa de Washington para o aumento das tarifas, que foi associada à crise de opioides nos EUA.
"A questão do fentanil é uma desculpa frágil para aumentar as tarifas sobre as importações chinesas. A China já deixou claro mais de uma vez sua oposição a essa medida. Nossas contramedidas para defender nossos direitos e interesses são totalmente legítimas e necessárias", afirmou Lin.
O porta-voz ressaltou que os próprios EUA, e não outro país, são responsáveis pela crise do fentanil dentro de seu território. Segundo ele, Pequim tem cooperado ativamente no combate ao tráfico da substância, e autoridades estadunidenses já reconheceram essa colaboração em diversas ocasiões.
Entretanto, Lin acusou Washington de ignorar essa cooperação e adotar uma postura hostil, culpando a China pela crise e impondo novas tarifas como forma de pressão. Para ele, essas medidas não apenas falham em solucionar o problema, mas também comprometem o diálogo e a cooperação bilateral no combate às drogas.
"Reitero que intimidação não nos assusta. Ameaças não funcionam conosco. Pressão, coerção ou intimidação não são formas adequadas de lidar com a China. Quem tenta impor pressão máxima sobre a China está escolhendo o adversário errado e cometendo um erro de cálculo", declarou.
Lin foi ainda mais incisivo ao afirmar que, caso os EUA realmente queiram resolver a questão do fentanil, o caminho correto seria um diálogo baseado em igualdade, respeito mútuo e benefícios recíprocos.
"Se os EUA tiverem outra agenda em mente e quiserem guerra – seja tarifária, comercial ou de qualquer outro tipo –, estamos prontos para lutar até o fim. Instamos os EUA a deixarem de ser dominadores e a retornarem ao caminho correto do diálogo e da cooperação", finalizou.
Resposta prática de Pequim: sanções contra empresas dos EUA
Além das declarações contundentes, o governo chinês adotou medidas concretas em resposta ao aumento tarifário dos EUA. O Ministério do Comércio da China divulgou três comunicados nesta terça-feira (4), afetando diretamente 26 empresas estadunidenses.
Paralelamente, a Comissão Tarifária do Conselho de Estado da China informou que, a partir de 10 de março de 2025, tarifas de 15% incidirão sobre frango, trigo, milho e algodão dos EUA. Já sorgo, soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios serão taxados em 10%.
Pequim já havia reagido ao primeiro aumento tarifário imposto por Washington, criticando as medidas unilaterais e alertando para os impactos negativos sobre empresas e consumidores dos EUA.
"A imposição unilateral de tarifas pelos EUA prejudica o sistema de comércio multilateral, aumenta a carga sobre empresas e consumidores americanos e mina a base da cooperação econômica e comercial entre China e EUA", afirmou a Comissão em comunicado oficial.
Novas sanções contra empresas dos EUA
Além das tarifas, a China anunciou sanções contra companhias dos EUA. Dez empresas foram incluídas na Lista de Entidades Não Confiáveis, o que as impede de operar na China ou realizar investimentos no país. Segundo Pequim, a medida visa proteger a segurança nacional e se opor ao unilateralismo e protecionismo comercial.
Outra empresa alvo das restrições foi a Illumina Inc., que teve suas exportações para a China proibidas. A companhia, especializada em sequenciamento genético, foi acusada de interromper negociações com empresas chinesas e adotar medidas discriminatórias.
A terceira decisão do Ministério do Comércio chinês afetou outras 15 empresas, que foram adicionadas à Lista de Controle de Exportação. Isso significa que empresas chinesas não poderão vender a essas companhias bens de dupla utilização, ou seja, produtos com aplicações civis e militares.
Empresas dos EUA afetadas pelas sanções da China
Entre as empresas sancionadas, estão gigantes dos setores de defesa, tecnologia e análise de dados:
- Indústria armamentista e aeroespacial: Cubic Corporation, TCOM, L.P, Teledyne Brown Engineering, Inc., S3 AeroDefense e ACT1 Federal
- Aviação: Stick Rudder Enterprises LLC
- Construção naval e defesa: Huntington Ingalls Industries Inc.
- Análise de dados: Exovera e TextOre
- Engenharia: Planate Management Group
Além disso, outras 15 empresas ligadas ao Complexo Militar-Industrial dos EUA sofrerão restrições para importação de insumos chineses, incluindo:
- Leidos
- Gibbs & Cox, Inc.
- IP Video Market Info, Inc.
- Sourcemap, Inc.
- Skydio, Inc.
- Rapid Flight LLC
- Red Six Solutions
- Shield AI, Inc.
- HavocAI
- Neros Technologies
- Group W
- Aerkomm Inc.
- General Atomics Aeronautical Systems, Inc.
- General Dynamics Land Systems
- AeroVironment
Impacto global da escalada comercial
A intensificação da guerra comercial entre EUA e China representa um momento crítico para a economia e a política global. Os impactos dessas tensões vão além dos dois países e já geram repercussões em mercados internacionais.
A implementação das tarifas resultou em quedas nas bolsas de valores e aumento da volatilidade nos mercados financeiros. Setores como tecnologia e manufatura, altamente dependentes das cadeias de suprimentos globais, foram particularmente afetados.
Além disso, commodities como minério de ferro sofreram desvalorização devido às incertezas comerciais. O contrato de referência para abril na Bolsa de Cingapura caiu 1,42%, para US$ 99,4 por tonelada, refletindo a sensibilidade do mercado à disputa entre Washington e Pequim.
Especialistas alertam que a continuidade dessa disputa pode desacelerar o crescimento econômico global, impactando cadeias de suprimentos e elevando custos de produção. No âmbito geopolítico, a resposta firme da China, incluindo o aumento de 7,2% no orçamento militar, sinaliza que Pequim está preparada para enfrentar qualquer tipo de confronto imposto pelos EUA.
A tensão deve continuar nos próximos meses, enquanto o mundo observa os desdobramentos desse embate entre as duas superpotências.
Com informações do Brasil de Fato