CHINA EM FOCO

A estratégia da China para lidar com a ofensiva de Trump

Pequim impõe novas sanções contra empresas estadunidenses, amplia tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA e rejeita tentativa de pressão de Washington

China responde a tarifas dos EUA e avisa: “Estamos prontos para lutar até o fim”.Pequim impõe novas sanções contra empresas dos EUA, amplia tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA e rejeita tentativa de pressão de Washington. Na foto, presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Donald Trump, em Pequim em 9/11/2017. Créditos: Xinhua
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A China anunciou uma série de retaliações econômicas contra os Estados Unidos após a decisão do presidente Donald Trump de dobrar as tarifas sobre produtos chineses, elevando-as de 10% para 20%. Em resposta, Pequim aplicará novas taxas sobre produtos agropecuários estadunidenses e ampliará restrições a empresas do país.

O aumento tarifário dos EUA, anunciado na última terça-feira (4), foi justificado como uma resposta às "práticas comerciais desleais" da China e uma forma de proteger setores industriais e de tecnologia estadunidenses. As tarifas adicionais afetam diversos produtos chineses, incluindo eletrônicos, têxteis, máquinas e equipamentos industriais. O objetivo declarado é reduzir o déficit comercial dos EUA e incentivar a produção doméstica.

Em contrapartida, a China anunciou tarifas adicionais de 10% a 15% sobre produtos agrícolas dos EUA, como frango, trigo, milho, soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios. Além disso, Pequim incluiu 10 empresas dos EUA na Lista de Entidades Não Confiáveis, restringindo suas operações no mercado chinês.

A escalada tarifária entre as duas maiores economias do mundo gerou preocupação sobre os impactos no comércio global e no crescimento econômico. Organizações internacionais e parceiros comerciais têm apelado por negociações para evitar uma intensificação da guerra comercial.

China rejeita justificativa dos EUA e endurece o discurso

Durante coletiva de imprensa regular do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quarta-feira (5), o porta-voz Lin Jian criticou duramente a justificativa de Washington para o aumento das tarifas, que foi associada à crise de opioides nos EUA.

"A questão do fentanil é uma desculpa frágil para aumentar as tarifas sobre as importações chinesas. A China já deixou claro mais de uma vez sua oposição a essa medida. Nossas contramedidas para defender nossos direitos e interesses são totalmente legítimas e necessárias", afirmou Lin.

O porta-voz ressaltou que os próprios EUA, e não outro país, são responsáveis pela crise do fentanil dentro de seu território. Segundo ele, Pequim tem cooperado ativamente no combate ao tráfico da substância, e autoridades estadunidenses já reconheceram essa colaboração em diversas ocasiões.

Entretanto, Lin acusou Washington de ignorar essa cooperação e adotar uma postura hostil, culpando a China pela crise e impondo novas tarifas como forma de pressão. Para ele, essas medidas não apenas falham em solucionar o problema, mas também comprometem o diálogo e a cooperação bilateral no combate às drogas.

"Reitero que intimidação não nos assusta. Ameaças não funcionam conosco. Pressão, coerção ou intimidação não são formas adequadas de lidar com a China. Quem tenta impor pressão máxima sobre a China está escolhendo o adversário errado e cometendo um erro de cálculo", declarou.

Lin foi ainda mais incisivo ao afirmar que, caso os EUA realmente queiram resolver a questão do fentanil, o caminho correto seria um diálogo baseado em igualdade, respeito mútuo e benefícios recíprocos.

"Se os EUA tiverem outra agenda em mente e quiserem guerra – seja tarifária, comercial ou de qualquer outro tipo –, estamos prontos para lutar até o fim. Instamos os EUA a deixarem de ser dominadores e a retornarem ao caminho correto do diálogo e da cooperação", finalizou.

Resposta prática de Pequim: sanções contra empresas dos EUA

Além das declarações contundentes, o governo chinês adotou medidas concretas em resposta ao aumento tarifário dos EUA. O Ministério do Comércio da China divulgou três comunicados nesta terça-feira (4), afetando diretamente 26 empresas estadunidenses.

Paralelamente, a Comissão Tarifária do Conselho de Estado da China informou que, a partir de 10 de março de 2025, tarifas de 15% incidirão sobre frango, trigo, milho e algodão dos EUA. Já sorgo, soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios serão taxados em 10%.

Pequim já havia reagido ao primeiro aumento tarifário imposto por Washington, criticando as medidas unilaterais e alertando para os impactos negativos sobre empresas e consumidores dos EUA.

"A imposição unilateral de tarifas pelos EUA prejudica o sistema de comércio multilateral, aumenta a carga sobre empresas e consumidores americanos e mina a base da cooperação econômica e comercial entre China e EUA", afirmou a Comissão em comunicado oficial.

Novas sanções contra empresas dos EUA

Além das tarifas, a China anunciou sanções contra companhias dos EUA. Dez empresas foram incluídas na Lista de Entidades Não Confiáveis, o que as impede de operar na China ou realizar investimentos no país. Segundo Pequim, a medida visa proteger a segurança nacional e se opor ao unilateralismo e protecionismo comercial.

Outra empresa alvo das restrições foi a Illumina Inc., que teve suas exportações para a China proibidas. A companhia, especializada em sequenciamento genético, foi acusada de interromper negociações com empresas chinesas e adotar medidas discriminatórias.

A terceira decisão do Ministério do Comércio chinês afetou outras 15 empresas, que foram adicionadas à Lista de Controle de Exportação. Isso significa que empresas chinesas não poderão vender a essas companhias bens de dupla utilização, ou seja, produtos com aplicações civis e militares.

Empresas dos EUA afetadas pelas sanções da China

Entre as empresas sancionadas, estão gigantes dos setores de defesa, tecnologia e análise de dados:

  • Indústria armamentista e aeroespacial: Cubic Corporation, TCOM, L.P, Teledyne Brown Engineering, Inc., S3 AeroDefense e ACT1 Federal
  • Aviação: Stick Rudder Enterprises LLC
  • Construção naval e defesa: Huntington Ingalls Industries Inc.
  • Análise de dados: Exovera e TextOre
  • Engenharia: Planate Management Group

Além disso, outras 15 empresas ligadas ao Complexo Militar-Industrial dos EUA sofrerão restrições para importação de insumos chineses, incluindo:

  • Leidos
  • Gibbs & Cox, Inc.
  • IP Video Market Info, Inc.
  • Sourcemap, Inc.
  • Skydio, Inc.
  • Rapid Flight LLC
  • Red Six Solutions
  • Shield AI, Inc.
  • HavocAI
  • Neros Technologies
  • Group W
  • Aerkomm Inc.
  • General Atomics Aeronautical Systems, Inc.
  • General Dynamics Land Systems
  • AeroVironment

Impacto global da escalada comercial

A intensificação da guerra comercial entre EUA e China representa um momento crítico para a economia e a política global. Os impactos dessas tensões vão além dos dois países e já geram repercussões em mercados internacionais.

A implementação das tarifas resultou em quedas nas bolsas de valores e aumento da volatilidade nos mercados financeiros. Setores como tecnologia e manufatura, altamente dependentes das cadeias de suprimentos globais, foram particularmente afetados.

Além disso, commodities como minério de ferro sofreram desvalorização devido às incertezas comerciais. O contrato de referência para abril na Bolsa de Cingapura caiu 1,42%, para US$ 99,4 por tonelada, refletindo a sensibilidade do mercado à disputa entre Washington e Pequim.

Especialistas alertam que a continuidade dessa disputa pode desacelerar o crescimento econômico global, impactando cadeias de suprimentos e elevando custos de produção. No âmbito geopolítico, a resposta firme da China, incluindo o aumento de 7,2% no orçamento militar, sinaliza que Pequim está preparada para enfrentar qualquer tipo de confronto imposto pelos EUA.

A tensão deve continuar nos próximos meses, enquanto o mundo observa os desdobramentos desse embate entre as duas superpotências.

Com informações do Brasil de Fato

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