CHINA EM FOCO

China apoia proposta de Lula para governança global da Inteligência Artificial

Presidente do Brasil apresenta prioridades da presidência brasileira no BRICS e defende regulação internacional da IA

China apoia proposta de Lula para governança global da Inteligência Artificial.Presidente Lula durante Abertura da Primeira Reunião de Sherpas da presidência brasileira do BRICS. Palácio do Itamaraty, Brasília - DF.Créditos: Ricardo Stucker (PR)
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A Primeira Reunião de Sherpas da Presidência Brasileira do BRICS foi realizada nesta quarta-feira (26), no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF). Na ocasião, o presidente Lula destacou os eixos prioritários que irão orientar os trabalhos do bloco sob a liderança do Brasil. Entre os temas centrais, a regulação da inteligência artificial ganhou destaque.

Durante a coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, nesta quinta-feira (27), em Pequim, o veículo brasileiro TVT questionou o porta-voz Lin Jian sobre a proposta apresentada por Lula.

O jornalista Mauro Ramos, que também atua para o site Brasil de Fato a partir da capital chinesa, perguntou qual a posição oficial de Pequim sobre a iniciativa do presidente brasileiro de propor uma Declaração de Líderes sobre Governança da Inteligência Artificial para o Desenvolvimento (leia abaixo). Segundo Lula, os países do BRICS devem recolocar os Estados no centro desses debates.

Lin Jian afirmou que a China está comprometida com o desenvolvimento de uma inteligência artificial voltada para o bem comum e para as pessoas, que seja segura, controlável, sustentável, inclusiva e de baixa emissão de carbono.

"A inteligência artificial é um patrimônio comum da humanidade. Não deve e não pode ser reduzida a uma ferramenta para perpetuar hegemonia e busca de supremacia."

O porta-voz ressaltou que, na governança e desenvolvimento da IA, os países devem apoiar-se mutuamente, trabalhar juntos e garantir direitos iguais, oportunidades justas e regras comuns. Além disso, destacou a necessidade de um ambiente aberto, inclusivo e não discriminatório, que beneficie todas as nações.

Lin Jian declarou ainda que a China apoia um papel mais ativo dos países do BRICS na governança global da IA e se dispõe a colaborar com todas as nações para reduzir a desigualdade tecnológica e promover o desenvolvimento sustentável.

Se as discussões na ONU não avançarem no ritmo esperado, Lin não mencionou diretamente uma estratégia alternativa, mas indicou que o BRICS pode atuar para acelerar o debate e garantir que as novas tecnologias sejam desenvolvidas de maneira equilibrada e acessível para todos os países.

Foco na Inteligência Artificial

Em seu discurso na reunião do BRICS, Lula destacou os riscos de concentração tecnológica nas mãos de poucos países e grandes corporações. Segundo ele, a revolução digital não pode aprofundar desigualdades, e o bloco tem a responsabilidade de garantir que essa tecnologia beneficie todas as nações, especialmente as do Sul Global.

"Grandes corporações não têm o direito de silenciar e desestabilizar nações inteiras com desinformação. O interesse público e a soberania digital devem prevalecer sobre a ganância corporativa."

O presidente anunciou que o Brasil irá propor, durante sua liderança no BRICS, a Declaração de Líderes sobre Governança da Inteligência Artificial para o Desenvolvimento, com o objetivo de garantir uma regulamentação justa e equitativa, sob o amparo das Nações Unidas.

"O BRICS precisa tomar para si a tarefa de recolocar o Estado no centro dos debates para a construção de uma governança justa e equitativa."

Lula também alertou que qualquer tentativa de desenvolvimento econômico hoje passa pela inteligência artificial, e que não se pode permitir que a distribuição desigual dessa tecnologia deixe o Sul Global à margem.

Eixos prioritários do BRICS sob a presidência do Brasil

Durante o evento, Lula elencou os seis grandes eixos de discussão que irão guiar a agenda do BRICS ao longo do ano:

  1. Reforma da governança global – Inclusão do Sul Global nos processos decisórios e reformulação do Conselho de Segurança da ONU.
     
  2. Parceria para eliminação de doenças negligenciadas – Foco em ampliar acesso a tratamentos para doenças socialmente determinadas e tropicais.
     
  3. Aprimoramento do sistema monetário e financeiro internacional – Discussão sobre alternativas ao dólar e fortalecimento de mecanismos financeiros do BRICS.
     
  4. Crise climática – Medidas concretas para mitigar os impactos ambientais e garantir o financiamento da transição energética.
     
  5. Regulação da Inteligência Artificial (IA) – Desenvolvimento de mecanismos que democratizem a IA e protejam a soberania digital das nações.
     
  6. Fortalecimento institucional do BRICS – Estruturar mecanismos internos para tornar as decisões do bloco mais eficazes e com maior impacto global.

BRICS busca protagonismo global

Na presença de representantes de Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, além de embaixadores de países parceiros, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com um mundo multipolar e relações internacionais menos assimétricas.

"A presidência brasileira vai reforçar a vocação do bloco como espaço de diversidade e diálogo em prol de um mundo multipolar e de relações menos assimétricas. Esses objetivos guiarão o nosso trabalho ao longo deste ano."

O chefe de Estado brasileiro também destacou que, diante dos desafios globais, o BRICS continuará sendo um pilar fundamental para a implementação da Agenda 2030, do Acordo de Paris e do Pacto para o Futuro.

"Neste momento de crise, nossa responsabilidade histórica é buscar soluções construtivas e equilibradas."

A reunião de sherpas ocorre em um momento de fortalecimento do BRICS como alternativa aos blocos tradicionais, impulsionado pela recente ampliação do grupo. A presidência brasileira busca consolidar o BRICS como um espaço de cooperação entre países emergentes, com maior autonomia frente às grandes potências.

Leia aqui o discurso completo de Lula

Rumo à Cúpula de Líderes no Rio de Janeiro

A reunião de sherpas, como são chamados os enviados dos chefes de Estado dos países-membros, tem a missão de conduzir os debates que culminarão na Cúpula de Líderes do BRICS, marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro.

Além dos representantes dos países-membros, o encontro no Itamaraty contou com a presença de embaixadores de Belarus, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão, reforçando o compromisso do BRICS em ampliar o diálogo com outras nações emergentes.

A reunião consolida o Brasil como protagonista nas articulações do BRICS, em um momento crucial para a redefinição da governança global. Lula reafirmou que, sob sua presidência, o bloco terá um papel ativo na promoção de um sistema internacional mais justo e inclusivo.

Assista

China e a Inteligência Artificial

Assim como o Brasil, a China tem se destacado na promoção de uma governança global para a inteligência artificial (IA), enfatizando a necessidade de cooperação internacional e inclusão dos países em desenvolvimento nos debates sobre o tema. 

Em outubro de 2023, o presidente Xi Jinping apresentou a "Iniciativa de Governança Global para a Inteligência Artificial", propondo soluções para o uso responsável e benéfico da IA.

LEIA TAMBÉM: China reafirma compromisso com governança global da IA e participará de cúpula em Paris

Durante a Cúpula do G20 realizada no Rio de Janeiro, em novembro de 2024, Xi Jinping reforçou que a IA não deve ser uma "brincadeira de países ricos" e defendeu que a tecnologia seja utilizada de forma ética e inclusiva. Ele sugeriu que o G20 lidere esforços para garantir que a IA beneficie todas as nações, especialmente as em desenvolvimento.

Em dezembro de 2024, o Ministério da Indústria da China anunciou a criação de um comitê técnico de padronização para a IA, composto por 41 membros, incluindo representantes de empresas como Baidu e da Universidade de Pequim. O objetivo é estabelecer padrões industriais em áreas como modelos de linguagem de grande escala e avaliação de riscos em IA, refletindo a ambição da China de liderar na definição de normas internacionais para a tecnologia.

Essas iniciativas demonstram o compromisso da China em sintonia com o posicionamento do Brasil em promover uma governança global da IA que seja inclusiva, ética e beneficie todas as nações, especialmente aquelas em desenvolvimento.

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