CHINA EM FOCO

Musk expande negócios na China enquanto Trump reforça guerra comercial

Nova fábrica da Tesla em Xangai impulsiona mercado global de baterias enquanto EUA ampliam barreiras protecionistas

Musk expande negócios na China enquanto Trump reforça guerra comercial.Nova fábrica da Tesla em Xangai impulsiona mercado global de baterias enquanto EUA ampliam barreiras protecionistas.Créditos: Fotomontagem (Xinhua e X)
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Enquanto Donald Trump intensifica a guerra comercial com a China, seu influente assessor, Elon Musk, expande seus negócios no país. A Tesla iniciou a produção de baterias Megapack em sua nova Megafactory em Xangai, marcando uma importante expansão da montadora no mercado chinês.

Com capacidade para produzir 10 mil unidades por ano, o equivalente a 40 gigawatts-hora de armazenamento de energia, a nova fábrica fortalecerá as metas globais de energia da Tesla. A produção começou apenas oito meses após o início da construção, reforçando a eficiência da empresa na China.

Xinhua - Megafactory da Tesla em Xangai, leste da China, em 8 de fevereiro de 2025.

Os Megapacks fabricados em Xangai atenderão o mercado global, permitindo que a Tesla expanda exportações para Europa e Austrália. A unidade cobre 200 mil metros quadrados e representa um investimento de US$ 202 milhões, segundo a administração da Área Especial de Lin-gang, dentro da Zona Piloto de Livre Comércio da China.

A fábrica reforça a presença da Tesla na China, que, desde 2019, abriga a Gigafactory de Xangai, a primeira da montadora no país. Nos EUA, a Tesla já possui uma fábrica de Megapacks na Califórnia, com capacidade semelhante.

Tesla e a ascensão dos veículos elétricos na China

Xinhua - O veículo de número 3 milhões produzido pela Gigafactory da Tesla em Xangai sai da linha de montagem em Xangai em 11 de outubro de 2024.

Nos últimos anos, a China consolidou-se como líder global em veículos elétricos (NEVs, na sigla em inglês), impulsionada por forte demanda interna e incentivos à transição verde. Em 2024, a produção chinesa ultrapassou 10 milhões de unidades pela primeira vez, com a Tesla entre as principais contribuintes para esse marco.

Cerca de dois terços dos veículos produzidos na Gigafactory de Xangai são vendidos no mercado chinês, enquanto o restante é exportado, principalmente para a Europa. No quarto trimestre de 2024, a Tesla bateu recordes de entrega na China, e o Model Y foi o carro mais vendido do ano.

A China segue como um destino promissor para investimentos estrangeiros. Em 2024, 59.080 novas empresas estrangeiras foram estabelecidas no país, um aumento de 9,9% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério do Comércio da China. Além disso, o governo chinês aprovou um plano de ação para estabilizar investimentos estrangeiros em 2025, reforçando seu compromisso com a abertura econômica.

As contradições de Elon Musk

Apesar de expandir seus negócios na China, Musk ocupa um cargo estratégico no governo de Trump. Em janeiro de 2025, o bilionário assumiu a liderança do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), criado para reduzir gastos e reformular a burocracia federal.

O paradoxo fica evidente: enquanto Musk aproxima-se do mercado chinês, seu chefe na Casa Branca reforça medidas protecionistas contra a China. A guerra comercial de Trump, iniciada em seu primeiro mandato (2017-2021), visava conter o avanço tecnológico chinês e reduzir o déficit comercial dos EUA.

A disputa afetou diretamente o setor automotivo, especialmente os veículos elétricos, e levou a medidas como:

  • Tarifas de 25% sobre EVs chineses desde 2018, afetando marcas como BYD, NIO e Geely;
     
  • Restrições à importação de baterias e terras raras para reduzir a dependência da China;
     
  • Revisão do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA) para limitar o uso de componentes chineses via terceiros países;
     
  • Isenções para a Tesla, permitindo que a empresa mantivesse sua produção chinesa, enquanto GM e Ford foram prejudicadas pelas tarifas.

A guerra comercial fortaleceu o mercado interno da China, permitindo que suas montadoras aumentassem exportações para Europa e América Latina. A administração Joe Biden (2021-2025) manteve grande parte das tarifas, mas adotou um tom mais diplomático nas negociações com Pequim.

O retorno de Trump e a intensificação do protecionismo

Com a volta de Trump à Casa Branca em janeiro de 2025, as tarifas e barreiras comerciais voltaram a ser ampliadas. Entre as principais medidas do novo governo estão:

  • Aumento das tarifas sobre aço e alumínio – Em fevereiro de 2025, Trump elevou para 25% as tarifas sobre importações desses metais, atingindo Canadá, México, Brasil, China, Coreia do Sul, Alemanha e Japão.
     
  • Tarifas recíprocas sobre parceiros comerciais – O governo implementou tarifas equivalentes às impostas por outros países sobre produtos estadunidenses, encarecendo importações.
     
  • Tarifas de 50% sobre aço e alumínio do México e Canadá – Em março de 2025, as taxas serão dobradas, afetando setores dependentes desses insumos, como o automotivo.
     
  • Suspensão e posterior retomada da isenção “de minimis” – A política que isentava pacotes de baixo valor de tarifas alfandegárias foi suspensa para China, México e Canadá, mas restabelecida temporariamente até fevereiro de 2025.

Impacto na indústria de veículos elétricos

As novas barreiras comerciais agravam o protecionismo no setor automotivo e de energia limpa, trazendo desafios para empresas como a Tesla e outras montadoras dos EUA. Entre os principais efeitos estão:

  • Aumento dos custos de produção – As tarifas sobre aço e alumínio encarecem a fabricação de baterias e componentes de veículos elétricos.
     
  • Expansão da China no mercado global – Com as restrições nos EUA, fabricantes chinesas podem intensificar suas exportações para Europa e América Latina.
     
  • Inflação e impacto nos consumidores dos EUA – A alta nos custos pode encarecer os veículos elétricos nos EUA, reduzindo sua competitividade.
     
  • Dificuldade na transição energética – A restrição à importação de baterias pode atrasar a adoção de tecnologias limpas no país.

As políticas protecionistas de Trump visam fortalecer a economia dos EUA e reduzir a dependência da China. No entanto, as tarifas sobre veículos elétricos, baterias e metais estratégicos podem frear a expansão da indústria de NEVs nos EUA, enquanto a China se consolida como líder global do setor.

O projeto da Megafactory da Tesla em Xangai evidencia que, apesar da guerra comercial, os interesses econômicos entre China e EUA seguem interligados. A disputa comercial continua sendo um dos principais desafios para a economia global, com efeitos significativos na transição energética e na mobilidade elétrica.

Com informações da Xinhua

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