Enquanto Donald Trump intensifica a guerra comercial com a China, seu influente assessor, Elon Musk, expande seus negócios no país. A Tesla iniciou a produção de baterias Megapack em sua nova Megafactory em Xangai, marcando uma importante expansão da montadora no mercado chinês.
Com capacidade para produzir 10 mil unidades por ano, o equivalente a 40 gigawatts-hora de armazenamento de energia, a nova fábrica fortalecerá as metas globais de energia da Tesla. A produção começou apenas oito meses após o início da construção, reforçando a eficiência da empresa na China.
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Os Megapacks fabricados em Xangai atenderão o mercado global, permitindo que a Tesla expanda exportações para Europa e Austrália. A unidade cobre 200 mil metros quadrados e representa um investimento de US$ 202 milhões, segundo a administração da Área Especial de Lin-gang, dentro da Zona Piloto de Livre Comércio da China.
A fábrica reforça a presença da Tesla na China, que, desde 2019, abriga a Gigafactory de Xangai, a primeira da montadora no país. Nos EUA, a Tesla já possui uma fábrica de Megapacks na Califórnia, com capacidade semelhante.
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Tesla e a ascensão dos veículos elétricos na China
Nos últimos anos, a China consolidou-se como líder global em veículos elétricos (NEVs, na sigla em inglês), impulsionada por forte demanda interna e incentivos à transição verde. Em 2024, a produção chinesa ultrapassou 10 milhões de unidades pela primeira vez, com a Tesla entre as principais contribuintes para esse marco.
Cerca de dois terços dos veículos produzidos na Gigafactory de Xangai são vendidos no mercado chinês, enquanto o restante é exportado, principalmente para a Europa. No quarto trimestre de 2024, a Tesla bateu recordes de entrega na China, e o Model Y foi o carro mais vendido do ano.
A China segue como um destino promissor para investimentos estrangeiros. Em 2024, 59.080 novas empresas estrangeiras foram estabelecidas no país, um aumento de 9,9% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério do Comércio da China. Além disso, o governo chinês aprovou um plano de ação para estabilizar investimentos estrangeiros em 2025, reforçando seu compromisso com a abertura econômica.
As contradições de Elon Musk
Apesar de expandir seus negócios na China, Musk ocupa um cargo estratégico no governo de Trump. Em janeiro de 2025, o bilionário assumiu a liderança do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), criado para reduzir gastos e reformular a burocracia federal.
O paradoxo fica evidente: enquanto Musk aproxima-se do mercado chinês, seu chefe na Casa Branca reforça medidas protecionistas contra a China. A guerra comercial de Trump, iniciada em seu primeiro mandato (2017-2021), visava conter o avanço tecnológico chinês e reduzir o déficit comercial dos EUA.
A disputa afetou diretamente o setor automotivo, especialmente os veículos elétricos, e levou a medidas como:
- Tarifas de 25% sobre EVs chineses desde 2018, afetando marcas como BYD, NIO e Geely;
- Restrições à importação de baterias e terras raras para reduzir a dependência da China;
- Revisão do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA) para limitar o uso de componentes chineses via terceiros países;
- Isenções para a Tesla, permitindo que a empresa mantivesse sua produção chinesa, enquanto GM e Ford foram prejudicadas pelas tarifas.
A guerra comercial fortaleceu o mercado interno da China, permitindo que suas montadoras aumentassem exportações para Europa e América Latina. A administração Joe Biden (2021-2025) manteve grande parte das tarifas, mas adotou um tom mais diplomático nas negociações com Pequim.
O retorno de Trump e a intensificação do protecionismo
Com a volta de Trump à Casa Branca em janeiro de 2025, as tarifas e barreiras comerciais voltaram a ser ampliadas. Entre as principais medidas do novo governo estão:
- Aumento das tarifas sobre aço e alumínio – Em fevereiro de 2025, Trump elevou para 25% as tarifas sobre importações desses metais, atingindo Canadá, México, Brasil, China, Coreia do Sul, Alemanha e Japão.
- Tarifas recíprocas sobre parceiros comerciais – O governo implementou tarifas equivalentes às impostas por outros países sobre produtos estadunidenses, encarecendo importações.
- Tarifas de 50% sobre aço e alumínio do México e Canadá – Em março de 2025, as taxas serão dobradas, afetando setores dependentes desses insumos, como o automotivo.
- Suspensão e posterior retomada da isenção “de minimis” – A política que isentava pacotes de baixo valor de tarifas alfandegárias foi suspensa para China, México e Canadá, mas restabelecida temporariamente até fevereiro de 2025.
Impacto na indústria de veículos elétricos
As novas barreiras comerciais agravam o protecionismo no setor automotivo e de energia limpa, trazendo desafios para empresas como a Tesla e outras montadoras dos EUA. Entre os principais efeitos estão:
- Aumento dos custos de produção – As tarifas sobre aço e alumínio encarecem a fabricação de baterias e componentes de veículos elétricos.
- Expansão da China no mercado global – Com as restrições nos EUA, fabricantes chinesas podem intensificar suas exportações para Europa e América Latina.
- Inflação e impacto nos consumidores dos EUA – A alta nos custos pode encarecer os veículos elétricos nos EUA, reduzindo sua competitividade.
- Dificuldade na transição energética – A restrição à importação de baterias pode atrasar a adoção de tecnologias limpas no país.
As políticas protecionistas de Trump visam fortalecer a economia dos EUA e reduzir a dependência da China. No entanto, as tarifas sobre veículos elétricos, baterias e metais estratégicos podem frear a expansão da indústria de NEVs nos EUA, enquanto a China se consolida como líder global do setor.
O projeto da Megafactory da Tesla em Xangai evidencia que, apesar da guerra comercial, os interesses econômicos entre China e EUA seguem interligados. A disputa comercial continua sendo um dos principais desafios para a economia global, com efeitos significativos na transição energética e na mobilidade elétrica.
Com informações da Xinhua