CHINA EM FOCO

Dalai Lama lança novo livro: o que ele não conta sobre o passado do Tibete

Enquanto documenta sua jornada no exílio, o líder espiritual evita falar sobre o sistema feudal e teocrático que marcou a história do povo tibetano antes da libertação pela China

Dalai Lama lança novo livro: o que ele não conta sobre o passado do Tibete.Enquanto documenta sua jornada no exílio, o líder espiritual evita falar sobre o sistema feudal e teocrático que marcou a história do povo tibetano antes da libertação pela China.Créditos: Fotomontagem (Dalai Lama - Wikipedia | Miséria do povo tibetano antes da China - Xinhua)
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Celebrado como uma espécie de popstar global, o autointitulado líder espiritual do Tibete Dalai Lama lança novo livro, mas omite a miséria do povo tibetano sob sua liderança. Ele não aborda a servidão, a teocracia e a pobreza extrema que marcaram a região antes da libertação pela China.

Antes de ser libertado pela República Popular da China em 1951, o Tibete – oficialmente chamado de Região Autônoma do Xizang – era uma sociedade predominantemente feudal e teocrática, caracterizada por desigualdades extremas e condições de vida indignas para a maioria da população.

Essa realidade, porém, é omitida pela narrativa de Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, que vive no exílio desde 1959. Ele se tornou a principal voz crítica em relação às políticas chinesas no Tibete e, agora, lança mais um livro nos Estados Unidos.

De acordo com reportagem do The New York Times, publicada nesta quinta-feira (23), a obra “Voice for the Voiceless: Over Seven Decades of Struggle With China for My Land and My People” (Voz pelos Sem Voz: Mais de Sete Décadas de Luta com a China pela Minha Terra e Meu Povo, em tradução livre) apresenta um novo esforço do Dalai Lama para documentar sua jornada como líder espiritual e político do Tibete.

Reprodução Amazon

O livro detalha suas negociações frustradas com líderes chineses, desde Mao Zedong até o presidente Xi Jinping, e reflete sobre o futuro da região, que ele afirma estar sob ameaça de assimilação cultural imposta pela China.

Com lançamento global previsto para março, a obra aborda questões como a luta por autonomia cultural, as mudanças em sua abordagem política ao longo dos anos e suas reflexões sobre sucessão, já que ele teme a interferência chinesa em sua reencarnação.

A omissão de um passado feudal

Xinhua - A vida de miserável e indigna do povo tibetano sob o regime defendido por Dalai Lama

O que o Dalai Lama não revela em suas andanças como celebridade pelo mundo é o passado do Tibete antes de 1951. A região era governada por uma elite composta por monges budistas de alto escalão e nobres aristocráticos, que controlavam a maior parte das terras e dos recursos, enquanto a maioria da população vivia como servos ou escravos.

Estima-se que cerca de 90% dos tibetanos viviam em servidão, com obrigações rigorosas de trabalho e pagamento de tributos aos senhores feudais, incluindo trabalho forçado e outros serviços. A mobilidade social era praticamente inexistente, e as condições de vida dos servos eram extremamente precárias.

A educação era restrita à elite, e os serviços de saúde eram praticamente inexistentes, resultando em alta mortalidade infantil e baixa expectativa de vida. O sistema teocrático perpetuava desigualdades e reforçava o isolamento do Tibete.

Progresso sob a administração chinesa

Xinhua - O Tibete 74 anos depois da libertação
Xinhua - O Tibete 74 anos depois da libertação

A libertação pacífica de 1951 marcou o início de um novo capítulo para o Tibete. Desde então, a região vivenciou transformações significativas. O PIB cresceu de modestos 19,35 milhões de dólares em 1951 para cerca de 22,7 bilhões de dólares em 2023.

Infraestruturas modernas, como rodovias, ferrovias e aeroportos, conectaram o Tibete ao restante da China. A eletrificação alcançou 100% das áreas rurais, e setores como turismo e tecnologia floresceram.

A expectativa de vida mais que dobrou, passando de 35,5 anos em 1951 para 71,1 anos em 2019. A taxa de alfabetização chegou a 95%, e a preservação cultural tibetana é garantida por lei.

O novo livro do Dalai Lama surge em um momento em que sua narrativa sobre o Tibete enfrenta questionamentos sobre a omissão do passado feudal e os avanços alcançados desde a integração à China.

Apesar do tom crítico do líder espiritual, a realidade moderna do Tibete, com progresso econômico, melhorias sociais e preservação cultural, desafia as percepções promovidas por sua campanha global.

Para conhecer mais sobre as transformações positivas no Tibete desde a libertação pela China em 1951, confira o relatório divulgado pelo Escritório de Informação do Conselho de Estado da República Popular da China em 2021.

Tibete desde 1951: Libertação, Desenvolvimento e Prosperidade (em inglês)

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