O novo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, já disse a que veio logo nos primeiros dias no cargo responsável pela diplomacia e política externa de Washington: provocar e tentar desestabilizar a China.
Nesta quarta-feira (22), em seu segundo dia como principal diplomata da administração de Donald Trump, Rubio conversou por telefone com o ministro das Relações Exteriores das Filipinas, Enrique Manalo. O principal assunto foi Pequim e, para o secretário de Estado de Trump, “as ações perigosas e desestabilizadoras” da potência asiática no Mar do Sul da China.
Te podría interesar
Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores chinês nesta quinta-feira (23), em Pequim, a porta-voz Mao Ning se posicionou sobre a fala incendiária de Rubio. Primeiro, ela delineou que as atividades da China nas águas relevantes são legítimas, legais e plenamente justificadas.
Segundo, relembrou que Washington não faz parte do sudeste asiático, logo, o que ocorre por lá não diz respeito a Rubio.
Te podría interesar
“Os EUA não são parte da questão do Mar do Sul da China e não têm o direito de interferir nas questões marítimas entre a China e as Filipinas. A cooperação militar entre os EUA e as Filipinas não deve prejudicar a soberania e os direitos e interesses marítimos da China no Mar do Sul da China, muito menos apoiar ou promover reivindicações ilegais das Filipinas”, frisou.
Mao avisou que Pequim vai seguir atuando em defesa dos próprios interesses.
“A China continuará tomando as medidas necessárias para defender firmemente sua soberania territorial e direitos e interesses marítimos, além de preservar a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China”, afirmou.
A conversa de Rubio e Manalo
Em um comunicado oficial, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, informou que a conversa entre Rubio e Manalo abordou questões de interesse mútuo, com destaque para as "ações perigosas e desestabilizadoras" da República Popular da China (RPC) no Mar do Sul da China.
Rubio afirmou que o comportamento da China representa uma ameaça à paz e à estabilidade regionais, além de ser incompatível com o direito internacional.
Durante a conversa, o chefe da diplomacia estadunidense reafirmou os "compromissos inabaláveis" dos EUA com as Filipinas, conforme o Tratado de Defesa Mútua entre os dois países.
Os diplomatas também discutiram formas de fortalecer a cooperação em segurança, ampliar os laços econômicos para fomentar prosperidade compartilhada e explorar novas oportunidades para colaboração regional. O encontro reforça a crescente aliança estratégica entre os EUA e Filipinas.
Mísseis dos EUA nas Filipinas
Outro fato relevante na escalada de tensões na região do Mar do Sul da China é a transferência de lançadores de mísseis Typhon pelos Estados Unidos para as Filipinas. Esse movimento reforça a presença militar estadunidense no Indo-Pacífico em meio a tensões crescentes com a China.
Pequim reagiu com firmeza e preocupação a essa movimentação militar de Washington. Mao afirmou que ao trazer esta arma estratégica ofensiva para esta parte do mundo, as Filipinas estão essencialmente criando tensões e antagonismos na região, além de incitar a confrontação geopolítica e uma corrida armamentista.
“Esta é uma medida altamente perigosa e uma escolha extremamente irresponsável para seu próprio povo, para os povos de outros países do Sudeste Asiático e para a segurança regional”, observou a porta-voz.
Mao reforçou o pedido por prudência ao governo filipino.
“Reiteramos nosso apelo para que as Filipinas ouçam o chamado dos países e povos da região, corrijam este erro o mais rápido possível, retirem rapidamente o sistema de mísseis Typhon, conforme prometido publicamente, e parem de seguir por este caminho errado”, encerrou.
Rubio dá alô para aliados
Recém-empossado no cargo, Rubio teve uma série de ligações nesses primeiros dias de administração Trump, principalmente com aliados dos EUA.
Essa rodada de telefonemas do secretário de Estado dos EUA faz parte de sua aproximação com vários países, incluindo os do Indo-Pacífico. Além das Filipinas, ele conversou com chanceleres do Japão, Austrália e Coreia do Sul.
Até agora, nenhum sinal para Pequim. Rubio, inclusive, é sancionado pela sua postura anti-China desde agosto de 2020.
LEIA TAMBÉM: Novo secretário de Estado dos EUA é proibido de visitar a China
A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, ao ser questionada sobre o silêncio do chefe da diplomacia de Washington, afirmou não ter informações para responder essa omissão.
“Permita-me dizer de forma mais ampla que é necessário que autoridades de alto nível da China e dos EUA mantenham diálogo de maneira apropriada. Ao mesmo tempo, a China defenderá firmemente seus interesses nacionais”, disse.
Armas de Washington alcançam a China
De acordo com notícia da Reuters desta quinta, o sistema de lançadores de mísseis Typhon transferido pelos Estados Unidos para as Filipinas inclui mísseis Tomahawk, capazes de atingir alvos na China e na Rússia, e mísseis SM-6, que podem alcançar alvos aéreos ou marítimos a mais de 200 km.
A realocação, informa a agência, tem o objetivo de avaliar a mobilidade do sistema para torná-lo mais eficaz em potenciais conflitos.
Embora os EUA não tenham revelado o destino exato dos lançadores, analistas ouvidos pela Reuters destacam que o deslocamento faz parte de uma estratégia para equilibrar o domínio militar da China na região.
Com planos de adquirir mais de 800 mísseis SM-6 nos próximos cinco anos, os EUA pretendem acelerar sua capacidade de resposta no Indo-Pacífico.
China e a “linha dos nove traços”
Os embates entre China e Filipinas no Mar do Sul da China envolvem disputas territoriais, confrontos diplomáticos e crescente militarização da região. Essa região é estratégica por sua localização e recursos naturais, como pesca e reservas de petróleo e gás.
A China reivindica a maior parte do Mar do Sul da China com base na "linha de nove traços". Essa demarcação remonta à década de 1940, foi inicialmente estabelecida pelo governo da República da China e posteriormente adotada pela República Popular da China.
Em 12 de julho de 2016, o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia decidiu que a China não tem base legal para reivindicar "direitos históricos" sobre a maior parte das águas do Mar do Sul da China, invalidando a chamada "linha de nove traços".
Em resposta, o governo chinês rejeitou veementemente a decisão, classificando-a como "nula e não vinculativa". Pequim afirmou que "nem aceita nem reconhece" o veredicto e que a arbitragem foi conduzida sem seu consentimento, considerando-a uma afronta à sua soberania territorial e aos seus interesses marítimos.
Do ponto de vista de Pequim, a "linha de nove traços" representa direitos históricos sobre o Mar do Sul da China, fundamentados em registros antigos de pescadores e ocupações militares em algumas ilhas. A China considera que essas evidências históricas legitimam suas reivindicações territoriais na região.
Além disso, o controle sobre o Mar do Sul da China é visto por Pequim como vital para sua segurança econômica e energética, devido à abundância de recursos naturais e à importância estratégica das rotas marítimas que atravessam a área.
A militarização de ilhas e recifes na região é, portanto, percebida como uma medida necessária para proteger os interesses nacionais chineses.
Em resposta às disputas territoriais, a China tem buscado resolver as questões por meio de negociações bilaterais, preferindo tratar diretamente com os países envolvidos, em vez de recorrer a organizações multilaterais.
Essa abordagem reflete a posição de Pequim de que as disputas no Mar do Sul da China devem ser resolvidas entre as partes diretamente interessadas, sem interferência externa.