O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou diversas vezes durante sua campanha eleitoral que elevaria tarifas de importação sobre produtos da China, México, Canadá e outros países. Em seu discurso de posse, ele retomou o assunto, falando sobre o estabelecimento e um "serviço de receita externa".
Em 2024, ele chegou a prometer a imposição de tarifas de 10% sobre as importações globais, uma sobretaxa de importação de 25% sobre produtos canadenses e mexicanos e 60% sobre produtos chineses.
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No entanto, muitos esperavam que essas tarifas entrassem em vigor já no primeiro dia do novo mandato do republicano, o que não aconteceu. A decisão de analisar melhor o tema foi entendida como um sinal para o governo canadense.
“Talvez ele [Trump] tenha tomado decisões para suspender a ameaça de tarifas sobre uma série de países. Vamos esperar para ver”, disse o Ministro das Finanças do Canadá, Dominic LeBlanc. “O senhor Trump tem sido imprevisível em um mandato anterior, então nosso trabalho é garantir que estejamos prontos para qualquer cenário”, afirmou ele à PBS.
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Ou seja, ninguém sabe ao certo se e como as tarifas serão de fato implementadas.
Os possíveis impactos das tarifas
Embora a retórica trumpista seja a de que uma política protecionista ajudaria a indústria dos Estados Unidos que sofre com a concorrência estrangeira, os impactos poderiam ser diversos. Um deles seria o fortalecimento da China no mercado externo.
O economista e professor de Pós-Graduação da PUC-SP Ladislau Dowbor explica que um fator importante nas relações comerciais entre os países é a reciprocidade. "O México, por exemplo, se deu conta dessa tendência de protecionismo [de Trump], e o que ele faz? Está se abrindo para grandes investimentos chineses", pontua.
"[O México] vai ter dificuldade de exportar para os Estados Unidos e vai se voltar para a economia interna, com investimento de infraestrutura chinesa. Então, de certa maneira, esse fechamento dos EUA abre as portas de diversos países para a China", diz o economista, em entrevista ao programa Outra Manhã.
A China e o Brics na Era Trump
Outro ponto importante durante o novo governo de Donald Trump é o dólar, um grande fator que ajuda os EUA a manterem seu poderio econômico e geopolítico. "Grande parte da força econômica dos Estados Unidos é a possibilidade de o dólar ser o dinheiro mundial e de controlar a emissão dessa moeda. Eles têm cerca de 800 bases militares pelo mundo afora. Como financiam isso? Simplesmente emitem dólar", avalia Dowbor.
"Você repassa isso para as suas bases militares que vão usar isso no mercado local, portanto, não gera inflação nos Estados Unidos. Eles podem emitir dinheiro à vontade sem gerar pressão inflacionária. Na realidade, eles estão 'comprando o mundo'. O De Gaulle, na época, já via isso e dizia: nós estamos pagando para que nos comprem", destaca.
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Em um artigo no The Conversation, o professor de Finanças da Universidade de Stirling, no Reino Unido, David McMillan, explica que esta condição faz com que outros países precisem manter dólares americanos para facilitar o comércio e pagar por muitas commodities. "Isso significa que a demanda pelo dólar americano permanece alta, então ele não sofre pressão para depreciar."
No entanto, uma política protecionista serviria para fortalecer ainda mais o dólar americano, já que menos importações significarão menos dólares sendo vendidos no mercado de câmbio. E, segundo McMillan, os países poderiam concordar em usar alternativas como moeda de reserva e um meio de pagar por commodities internacionais, para fugir do custo elevado do dólar.
Neste caso, abre-se mais uma oportunidade para a China e o Brics. "A discussão que está no centro hoje, no conjunto dos Brics, é poder efetivamente sair do dólar e entrar num conjunto de sistemas de pagamento recíproco com moedas locais, da elaboração de um pool de moedas que possam cruzar os direitos. Sair do dólar é absolutamente fundamental", aponta Dowbor. "E o pessoal que está em torno do Trump, os bilionários que efetivamente vão administrar esse negócio, eles estão plenamente conscientes que essa capacidade de 'comprar o mundo' sem meter a mão na massa, digamos, sem produzir, é o que está ameaçado."