CHINA EM FOCO

Protecionismo ameaça progresso na redução das desigualdades, alerta OMC

Relatório Mundial do Comércio 2024 reforça papel da China no cenário global para a redução da pobreza e promoção da prosperidade compartilhada

Créditos: Fotomontagem (Xinhua) - Xi Jinping inspeciona alívio da extrema pobreza pelo país. Por meio do comércio global a China contribui para redução da pobreza, como fez internamente.
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O protecionismo crescente, como o que tem sido capitaneado pelos Estados Unidos e aliados na tentativa de conter o crescimento econômico da China, pode reverter o progresso na redução das desigualdades entre ricos e pobres. Esse é o alerta feito pela diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, na apresentação do Relatório Mundial de Comércio 2024.

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O documento foi lançado na segunda-feira (9) e reforça o papel vital do comércio global na redução da pobreza e na promoção de prosperidade compartilhada ao longo das últimas três décadas. O relatório alerta para os riscos do crescente protecionismo, que ameaça desfazer três décadas de progresso na diminuição das desigualdades de renda.

No texto, a OMC defende um comércio mais inclusivo e globalmente integrado, destacando a importância de políticas domésticas complementares para garantir que todas as economias possam se beneficiar das oportunidades oferecidas pelos mercados globais. O relatório também aponta que a cooperação internacional é essencial para evitar retrocessos e garantir um crescimento sustentável.

Reprodução capa Relatório Mundial de Comércio 2024

China critica protecionismo

Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China desta quinta-feira (12), a porta-voz Mao Ning comentou sobre o alerta da OMC quanto ao risco que representa o protecionismo de desfazer 30 anos de progresso na redução das desigualdades de renda entre ricos e pobres por meio do comércio global.

Mao observou que o relatório afirma que o aumento do protecionismo prejudicará as perspectivas de crescimento de todas as economias, mas os pobres e marginalizados economicamente serão os mais afetados.

"A China é um importante contribuinte para o comércio aberto. Sempre nos opusemos firmemente ao protecionismo comercial. Defendemos uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva, e estamos comprometidos em reduzir a divisão entre o Norte e o Sul, promovendo o desenvolvimento global por meio do comércio", comentou a porta-voz.

Mao relembrou que durante a Cúpula de Pequim do Fórum de Cooperação China-África, o presidente Xi Jinping anunciou que a China implementará dez ações de parceria, incluindo a Ação de Parceria para a Prosperidade Comercial, abrirá unilateralmente seu mercado de forma mais ampla e concederá tratamento de isenção de tarifas a 100% das linhas tarifárias dos países menos desenvolvidos da África. "Isso fez da China o primeiro grande país em desenvolvimento e a primeira grande economia a tomar tal medida", destacou.

"O protecionismo não tem futuro. A prosperidade e a estabilidade não são possíveis em um mundo onde os ricos ficam mais ricos enquanto os pobres ficam mais pobres. Estamos prontos para discutir com mais países do Sul Global acordos de livre comércio, ajudar outros países em desenvolvimento a melhorar seu transporte e logística por meio de cooperação prática, incluindo a cooperação da Iniciativa Cinturão e Rota, e torná-los jogadores mais fortes no comércio internacional", finalizou.

Risco do protecionismo para a luta contra desigualdades

No Relatório Mundial de Comércio 2024 reitera a importância do comércio para a redução da pobreza e a criação de prosperidade compartilhada, além de destacar que o crescente protecionismo ameaça desfazer 30 anos de progresso na redução das desigualdades de renda entre ricos e pobres.

A diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, afirmou que o protecionismo não é um caminho eficaz para a inclusão. Em vez disso, mais e melhores trocas comerciais são o caminho para trazer mais economias e comunidades das margens para o centro da economia global.

"O protecionismo, como demonstra o relatório, não é um caminho eficaz para a inclusão: restringir o comércio é, normalmente, uma maneira cara de proteger empregos para grupos específicos dentro da sociedade, além de aumentar os custos de produção e provocar retaliações dispendiosas de parceiros comerciais insatisfeitos", escreve Iweala.

Comércio global promove convergência

Contrariando as críticas de que o comércio global estaria aprofundando desigualdades, o Relatório Mundial de Comércio 2024 revela que o oposto está ocorrendo. Bilhões de pessoas em economias em desenvolvimento estão se aproximando das nações mais avançadas, impulsionadas pela abertura econômica e integração mundial. Esse fenômeno tem ampliado o acesso a mercados, tecnologias e novos modelos de crescimento inclusivo e sustentável.

Apesar desse progresso, o relatório alerta que algumas economias, e grupos dentro delas, ainda não colhem os frutos desse crescimento. Barreiras comerciais, limitações de oferta e conectividade deficiente são apontados como obstáculos ao pleno aproveitamento do potencial de comércio dessas nações. Além disso, o ritmo mais lento de integração global nas últimas décadas e o risco crescente de protecionismo ameaçam reverter os avanços.

China no comércio global

O Relatório Mundial de Comércio 2024 enfatiza que, para garantir um comércio verdadeiramente inclusivo, é necessário intensificar ações em níveis doméstico e internacional, promovendo políticas mais coerentes e colaborativas. O documento destaca o papel da China no contexto de convergência econômica global e tensões geopolíticas.

A China teve um crescimento impressionante nas últimas décadas, com uma média de 9% ao ano, ajudando a levantar milhões de pessoas da pobreza e reduzindo a diferença de padrões de vida em relação aos países desenvolvidos. Em 1990, o PIB da China era apenas 7% do dos EUA, mas em 2022 chegou a 73%, com um PIB de US$ 18,3 trilhões.

As tensões comerciais entre China e EUA levaram a uma realocação nas atividades de cadeias de suprimentos globais. Houve uma redução nas importações diretas dos EUA da China, mas um aumento de importações de países como Vietnã e México. Isso mostra que algumas economias se beneficiaram das tensões geopolíticas, mas esses ganhos não são suficientes para alcançar uma convergência econômica de longo prazo.

Já os atritos geopolíticos, como a rivalidade entre EUA e China, representam riscos para a convergência econômica global, com potencial de reduzir o comércio global em 13% e prejudicar a transferência de tecnologia. Pequenos países e economias emergentes são particularmente vulneráveis a essas mudanças.

Por sim, o documento destaca que as tecnologias digitais têm impulsionado o desenvolvimento industrial na China, especialmente com políticas de Big Data, que ajudaram na modernização de suas estruturas industriais regionais.

Leia aqui o Relatório Mundial do Comércio 2024 em inglês.

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