CHINA EM FOCO

China desmascara a hipocrisia dos EUA com pacote protecionista contra carros elétricos chineses

De olho nas eleições, administração de Joe Biden pesou a mão em taxas de importação sobre produtos da indústria de nova energia chinesa, aço e alumínio; Pequim escancara duplo padrão do 'livre comércio' de Washington

Créditos: Fotomontagem (Canva e Xinhua) - EUA anunciam pacote protecionista contra a China
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A China destaca o duplo padrão e a hipocrisia dos Estados Unidos de classificar como 'livre comércio' a vantagem comparativa do país, mas quando se refere a outras nações, como a chinesa, é chamada de 'concorrência desleal' ou 'sobre-capacidade'.

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A resposta de Pequim vem no contexto da medida anunciada pela administração de Joe Biden nesta terça-feira (14) de aumento significativo das tarifas sobre importações chinesas que mira, principalmente, veículos elétricos, chips, painéis solares, aço e alumínio.

Em coletiva de imprensa em Pequim, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, deixou clara as críticas a Washington.

"Baseado na lógica dos EUA, as subvenções estadunidenses são 'investimentos em indústrias críticas', enquanto as subvenções de outros países são vistas como 'concorrência desleal preocupante'", observou.

Wang comentou ainda que as exportações dos EUA com vantagem comparativa constituem 'livre comércio", enquanto as exportações de outros países com vantagem comparativa são sinais de 'sobre-capacidade'.

O porta-voz citou um ditado chinês para ilustrar a lógica de Washington: "O magistrado permite-se acender fogo, mas proíbe todos os outros de acender velas." Também usou uma expressão dos EUA: "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço."

"Os EUA estão essencialmente usando a narrativa de 'sobre-capacidade' para prejudicar as indústrias fortes de outros países e praticar protecionismo, pisando nos princípios de mercado e nas regras de comércio internacional em nome da 'concorrência justa.' Isso não é nada além de bullying", acusou.

Novas indústrias de energia da China

Wang destacou que o rápido crescimento das indústrias de nova energia da China, incluindo veículos elétricos, baterias de lítio e produtos fotovoltaicos, só foi possível a partir da inovação tecnológica contínua, cadeias industriais e de fornecimento completas e competição de mercado plena.

"Nossa vantagem líder é resultado de vantagem comparativa e leis de mercado combinadas, e não por chamadas 'subvenções', explicou.

Por outro lado, comentou Wang, nos últimos anos, os EUA promulgaram a Lei CHIPS e Ciência e a Lei de Redução da Inflação para intervir diretamente na alocação de recursos de mercado por meio de subsídios diretos e indiretos que totalizam centenas de bilhões de dólares. "Os EUA são os grandes subvencionadores de suas indústrias".

O porta-voz ressaltou ainda que subvenções não garantem competitividade industrial e que protecionismo não nutre verdadeiros campeões empresariais.

"As novas indústrias de energia de rápido crescimento da China são o que a economia mundial precisa para a transição verde. Serve aos interesses da China, dos EUA e do mundo todo. Instamos os EUA a abandonar sua hipocrisia e padrão duplo, e a não cometer o mesmo erro de recorrer ao protecionismo", finalizou.

Biden em contraponto a Trump

As medidas de Biden contra a China fazem parte de um esforço pré-eleitoral para proteger empregos nos EUA e também para conter a eficiência de Xi Jinping, presidente chinês, em liderar a transição energética, plano que o democrata tem para o seu próprio país.

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Pelas redes sociais, Biden resumiu a medidas anunciadas.

"Acabei de impor uma série de tarifas sobre produtos fabricados na China: 25% em aço e alumínio, 50% em semicondutores, 100% em veículos elétricos, e 50% em painéis solares. A China está determinada a dominar essas indústrias. Estou determinado a garantir que a América lidere o mundo nelas", escreveu.

Biden quer mostrar que o protecionismo dele é diferente do de Donald Trump, seu principal concorrente em novembro. O atual presidente deu uma guinada significativa na política comercial dos EUA: mudou o jeito de fazer negócios com a China num combinado entre restrições comerciais e investimentos estratégicos em setores de tecnologia avançada, como os de energia limpa.

Se Trump via os veículos elétricos, chineses ou estadunidenses, como prejudiciais ao emprego nos EUA, Biden tem incentivado ativamente a produção e o consumo desses veículos através de legislações robustas. As medidas incluem financiamento para a instalação de 500 mil estações de carregamento e incentivos atrativos para a fabricação local.

Biden expressou preocupações com a entrada de produtos chineses a preços baixos, como carros elétricos, que poderiam comprometer a indústria nacional. Em resposta, planeja aumentar significativamente as tarifas sobre esses produtos, elevando a taxa sobre veículos elétricos importados para 100%.

Além disso, Biden busca fortalecer laços com aliados internacionais, formando uma coalizão de países ricos para enfrentar a China no campo da energia limpa. Esse esforço conjunto foi evidenciado durante a cúpula do G7 do ano passado, onde se delineou uma estratégia harmonizada de subsídios para competir com o financiamento estatal chinês em novas tecnologias.

Trump isolou os EUA

Essa iniciativa marca um contraste com as políticas anteriores de Trump, que impôs tarifas unilateralmente, até mesmo contra aliados. O plano do republicano inclui mais tarifas e menos comércio.

Trump acusou Biden de agir muito lentamente e de não ir longe o suficiente. "Onde eles estiveram nos últimos três anos e meio? Eles deveriam ter feito isso há muito tempo. Mas eles também têm que fazer isso em outros veículos e têm que fazer isso em muitos outros produtos, porque a China está comendo nosso almoço agora".

Durante sua administração, Trump rompeu décadas de consenso político ao impor restrições agressivas ao comércio com a China durante sua presidência. Ele aplicou tarifas em mais de US$ 360 bilhões em produtos chineses, incluindo brinquedos, eletrônicos e mobiliário doméstico, provocando tarifas retaliatórias de Pequim.

Trump prometeu novos esforços para cortar a relação comercial entre as nações se for eleito para um segundo mandato. Isso inclui barreiras aos investimentos entre os EUA e China, além de proibições às importações de aço, eletrônicos e produtos farmacêuticos chineses. Ele também propôs uma tarifa adicional de 10% sobre todas as importações para os Estados Unidos, não apenas aquelas da China. E ele criticou Biden.

Oficiais chineses "estavam aterrorizados com a ideia de eu impor tarifas adicionais", disse Trump à CNBC em março. "E nós não usamos isso, a China é agora nosso chefe. Eles são o chefe dos Estados Unidos, quase como se fôssemos uma subsidiária da China, e isso porque a administração Biden tem sido tão fraca."

Livre comércio só para os EUA

Em uma das maiores medidas anunciadas, os EUA vão quadruplicar a tarifa sobre veículos elétricos chineses, passar de 25% para 100% este ano. Também triplicará a taxa sobre importações de aço e alumínio. A taxa sobre chips chineses será dobrada a partir de 2025, e a tarifa sobre células solares será dobrada este ano para 50%.

A Casa Branca afirmou que 18 bilhões de dólares em bens chineses seriam afetados pelos aumentos, que foram "cuidadosamente direcionados a setores estratégicos" e projetados para dar tempo às empresas do país de enfrentar a concorrência em tecnologia verde.

Apenas 2% das importações de veículos elétricos dos EUA vêm da China, de acordo com o CSIS, um think-tank. Mas as tarifas mais altas são projetadas para tornar ainda mais difícil para a China ganhar uma posição real.

Na fact sheet (ficha informativa) divulgada por Washington as medidas anunciadas estão centradas em três eixos:

  1. Proteção ao Trabalhador dos EUA: Iniciativas destinadas a salvaguardar empregos e indústrias locais das práticas consideradas desleais por parte da China.
     
  2. Defesa do Setor Empresarial: Medidas implementadas para fortalecer empresas americanas frente à concorrência internacional predatória.
     
  3. Combate ao Comércio Injusto: Estratégias adotadas para equilibrar a balança comercial e promover uma concorrência leal.

Leia aqui o informe da Casa Branca em inglês.

O Ministério das Relações Exteriores da China declarou que Pequim "se opõe a aumentos tarifários unilaterais que violam as regras da Organização Mundial do Comércio e tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar seus direitos e interesses legítimos".