CHINA EM FOCO

China reage a anúncio da Comunidade Europeia de aumentar taxa sobre carros elétricos chineses

Governo e mercado chinês avisam que vão adotar medidas necessárias para que mercado europeu corrija medida que consideram equivocada

Créditos: Fotomontagem (Canva e Global Times)
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A China reagiu com forte oposição ao anúncio da Comissão Europeia (CE) de impor uma tarifa provisória adicional aos veículos elétricos (EVs) chineses. Múltiplos departamentos e organizações do governo chinês se pronunciaram sobre o anúncio e prometeram todas as medidas necessárias, instando a União Europeia (UE) a corrigir imediatamente suas ações equivocadas.

Em um comunicado, a CE anunciou nesta quarta-feira (12) que vai impor uma tarifa provisória adicional entre 17,4% e 38,1% sobre os EVs da China a partir de julho, apesar da oposição de países membros da União Europeia (UE) como Alemanha, Suécia e Hungria. A taxa anunciada é muito maior do que a taxa de 25% relatada pelo Financial Times.

As tarifas pesadas afetarão marcas chinesas como BYD, Geely e SAIC. Os carros da Tesla fabricados em Xangai podem "receber uma taxa de imposto calculada individualmente na fase definitiva" após um "pedido fundamentado".

Reação de Pequim

O Ministério do Comércio da China (MOFCOM) instou a UE a corrigir imediatamente suas práticas erradas e a lidar adequadamente com as fricções econômicas e comerciais por meio do diálogo e da consulta, e prometeu tomar todas as medidas necessárias para defender firmemente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas. O setor industrial chinês está profundamente desapontado e resolutamente contrário à medida, pontuou a pasta.

"A CE deliberadamente constrói e exagera o chamado programa de subsídios, e a suposição de margens de subsídios anormalmente altas é um ato flagrante de protecionismo, criando e escalando fricções comerciais, e "destruindo a concorrência justa" em nome de 'salvaguardar a concorrência justa', o que é a maior 'injustiça' de todas", observou o MOFCOM.

O ministério comentou ainda que o lado europeu ignora os fatos e as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e as repetidas objeções fortes da China. Também desconsidera os apelos e desestímulos dos governos e indústrias de muitos estados membros da UE, o que é motivo de grande preocupação e insatisfação para o lado chinês.

Já o Ministério das Relações Exteriores da China, por meio do porta-voz Lin Jian, durante coletiva de imprensa regular nesta quarta-feira, advertiu que a investigação antisubvenção da UE sobre os EVs chineses viola os princípios da economia de mercado e as regras do comércio internacional, e prejudicará os interesses dos integrantes do bloco.

"Impor tarifas adicionais sobre EVs importados da China viola os princípios da economia de mercado e as regras do comércio internacional, perturba a cooperação econômica e comercial China-UE, bem como as cadeias de fornecimento e industriais automotivas globais, e acabará prejudicando os próprios interesses da Europa", afirmou Lin.

O porta-voz comentou ainda que o governo chinês observou que altos funcionários e líderes empresariais de vários países europeus recentemente declararam oposição à investigação da Comissão Europeia e disseram que impor mais tarifas sobre os EVs chineses para proteger a indústria europeia seria uma abordagem equivocada.

"O protecionismo não tem futuro, e a cooperação aberta é o caminho certo a seguir. Instamos a UE a cumprir seu compromisso de apoiar o livre comércio e se opor ao protecionismo, e trabalhar conosco para manter a cooperação econômica e comercial entre os dois lados. A China tomará todas as medidas necessárias para defender firmemente nossos direitos e interesses legais", finalizou.

China defende seus interesses

Recentemente, durante visitas a vários países europeus, o ministro do Comércio da China, Wang Wentao, destacou que o protecionismo não é uma solução, mas um caminho perigoso e sem saída ao responder à investigação antisubvenção da UE sobre EVs chineses. Ele pediu que ambos os lados abordem suas preocupações através do diálogo e da comunicação.

Embora as autoridades chinesas ainda não tenham anunciado publicamente nenhuma contramedida sobre a imposição de tarifas adicionais, especialistas afirmam que há várias opções à disposição da China.

Um influente ator da indústria automobilística chinesa sugeriu que a China aumente temporariamente as tarifas sobre carros importados com motores maiores que 2,5 litros, a fim de reduzir as emissões de carbono. Tal medida teria um grande impacto nas importações de carros da UE, disseram especialistas.

Segundo o Global Times, jornal chinês que circula em inglês, indústrias relevantes têm coletado evidências enquanto planejam apresentar uma solicitação às autoridades para iniciar uma investigação antidumping sobre certos produtos de carne suína da UE. Há ainda a informação de que algumas empresas chinesas planejam solicitar às autoridades a abertura de uma investigação antisubvenção sobre as importações de alguns produtos lácteos da UE.

Reação do mercado

A Câmara de Comércio da China para a UE (CCCEU) expressou choque, grande decepção e profunda insatisfação com o anúncio da CE. A entidade sustenta que a vantagem da indústria de EVs da China reside na inovação tecnológica e na gestão de custos.

"Isso é alcançado por meio de iteração tecnológica contínua e intensa competição de mercado, aproveitando as vantagens da cadeia de suprimentos abrangente da China para cultivar uma robusta competitividade no mercado", comentou.

A câmara expressou ainda preocupação de que a medida protecionista da CE possa escalar as fricções comerciais entre a China e a UE, impactando negativamente as relações econômicas, comerciais e empresariais entre as duas economias.

Mais de 40 empresas chinesas operando na Europa expressaram sérias preocupações sobre o crescente protecionismo da UE durante reuniões com autoridades de comércio chinesas, informa a CCCEU.

Já a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis, um órgão da indústria, comentou que a decisão da CE é totalmente inaceitável, instando o bloco a evitar prejudicar e distorcer a cadeia global da indústria automotiva.

O secretário-geral da Associação Chinesa de Automóveis de Passageiros, Cui Dongshu, disse que as tarifas impostas aos EVs chineses aumentarão os custos para os fabricantes chineses, mas de forma alguma vão alterar o cenário competitivo entre empresas chinesas e da UE.

O que dizem os especialistas

Ao Global Times, especialistas avaliam que a decisão da CE tira uma opção dos consumidores da UE em troca de não oferecer nenhuma vantagem competitiva para suas indústrias automotivas. Além disso, desconsidera a oposição substancial dos países membros do bloco, dos órgãos industriais e os repetidos apelos da China para resolver a questão por meio do diálogo e consultas.

A competitividade atual da China no campo dos EVs e outras indústrias verdes vem da inovação, da competição de mercado, de um layout industrial completo e de tecnologias centrais, atestam especialistas chineses.

Os especialistas chineses alertaram ainda que a decisão da CE de adotar medidas protecionistas, em vez de enfrentar a concorrência por meio de coordenação e cooperação abertas, é politicamente motivada e sacrificará os interesses dos consumidores europeus e a busca do bloco por um futuro verde e de baixo carbono.

O pesquisador sênior do Instituto de Estudos Europeus da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Sun Yanhong, comentou que a chamada investigação antisubvenção da UE em relação aos EVs chineses pode ser vista como um ato auto-orquestrado com um forte viés político realizado pela CE.

"De fato, os EVs chineses ajudam os consumidores locais com renda relativamente baixa a comprar veículos devidamente certificados com um alto desempenho de custo, uma opção que agora ficou mais cara devido à decisão arbitrária e protecionista da Comissão Europeia", observou Sun.

Já o pesquisador sênior da Associação Chinesa de Comércio Internacional, Li Yong, classificou a medida da CE como "ridícula".

"Agora estamos vendo os resultados iniciais do que é uma investigação ridícula desde o início - não surgiu de respostas do mercado local ou pedidos de empresas locais, mas foi imposto a entidades de mercado devido à manipulação de algumas partes com motivações políticas ulteriores e preconceitos teimosos", comentou Li.

"Não é baseado em regras, não é baseado em fatos, mas sim em fantasias e fabricações... Isso explica por que não obteve apoio das indústrias da UE, dos países membros da UE e dos consumidores da UE", prosseguiu Li.

Reação na Europa

A decisão tarifária da CE, que foi adiada repetidamente, ocorre em meio a divisões internas na UE, com vários países membros, órgãos industriais e empresas expressando sua oposição e preocupações.

O chanceler federal alemão Olaf Scholz alertou recentemente que "isolamento e barreiras aduaneiras ilegais... no final das contas, só tornam tudo mais caro e todos mais pobres."

Horas após o anúncio da Comissão Europeia, fabricantes de automóveis alemães, incluindo Volkswagen e Mercedes-Benz, expressaram suas preocupações.

"Os efeitos negativos dessa decisão superam quaisquer benefícios potenciais para a indústria automotiva europeia e, especialmente, alemã", afirmou a Volkswagen em um comunicado .