O presidente dos EUA, Joe Biden, deve quadruplicar as tarifas sobre veículos elétricos (VE) da China, passando de aproximadamente 25% para 100%, e aumentar outras tarifas em setores-chave incluindo semicondutores, energia solar e baterias. O anúncio está previsto para essa terça-feira (14).
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No dia 9 de maio, durante uma entrevista a um programa de rádio dos EUA, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, não quis dar detalhes sobre as mudanças esperadas nas tarifas sobre a China, mas disse que o governo Biden vai garantir que as autoridades chinesas sejam informadas antes de qualquer ação de Washington.
"Estamos subsidiando explicitamente investimentos nessas áreas estratégicas importantes. Não queremos ver subsídios chineses massivos que simplesmente expulsarão nossas empresas do mercado", explicou Yellen.
Yellen também reiterou suas acusações de uma viagem em abril, alegando que "a China está subsidiando massivamente o investimento neste conjunto de indústrias que eles têm como alvo crítico para suas perspectivas de crescimento," resultando em um campo de jogo que não era "nivelado."
Ela comentou ainda que, em setores emergentes como veículos elétricos e baterias, os EUA estavam "sendo superados pelos chineses."
Yellen observou que o governo dos EUA fornece subsídios para setores estratégicos como energia limpa e veículos elétricos, que ela argumentou serem "críticos para a segurança nacional, pela resiliência da cadeia de suprimentos, e para criar bons empregos na indústria onde as pessoas podem progredir para ter uma presença nessas indústrias."
Duplo padrão de Washington
A vice-ministra de Relações Exteriores da China, Hua Chunying, recorreu às redes sociais nesta segunda-feira (13) para criticar os Estados Unidos por adotar um padrão duplo em resposta aos comentários de Yellen, que novamente enfatizou a narrativa alegada de "excesso de capacidade" visando setores de energia verde chineses, como veículos elétricos e energia solar.
Hua postou no X (antigo Twitter), que o governo dos EUA "apoia as indústrias dos EUA com subsídios porque é estratégico, mas quando outros fazem isso, é concorrência desleal."
Na semana passada, a diplomacia chinesa já havia reagido à notícia de sobre o aumento de tarifas para a indústria verde da China. Para a potência asiática, o plano dos Estados Unidos de impor tarifas sobre importações de indústrias emergentes chinesas está adicionando erros a erros.
EUA querem conter a China
A alegação de Yellen está alinhada com a intensificação da repressão de Washington ao setor de alta tecnologia da China em todas as frentes, usando a retórica de "excesso de capacidade", com o objetivo de conter o desenvolvimento dos setores de alta tecnologia emergentes da China e impedir suas atualizações industriais, avaliam analistas chineses.
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Para elevar o tom da repressão, os EUA planejam impor tarifas sobre importações de indústrias emergentes da China, incluindo uma possível tarifa de 100% sobre veículos elétricos chineses (VE).
Esse movimento, juntamente com uma série de medidas tomadas pelo governo dos EUA para conter as indústrias de alta tecnologia emergentes da China, enfrenta desafios e questionamentos tanto internos quanto externos, disseram analistas.
Em agosto de 2022, os EUA aprovaram a Lei de Redução da Inflação, que alocou quase 370 bilhões de dólares em subsídios para promover setores limpos, visando estimular a produção e adoção doméstica de veículos elétricos e outras tecnologias verdes.
Além disso, a Lei CHIPS e Ciência, com uma alocação de cerca de 50 bilhões de dólares, foi promulgada para estimular a produção doméstica de semicondutores, buscando promover o "reshoring".
Esse processo de reshoring consiste em trazer de volta a produção e a manufatura para o país de origem de uma empresa, após terem sido previamente deslocadas para outros países, geralmente em busca de custos de produção mais baixos. É o oposto de "offshoring", que é a prática de transferir operações de produção para o exterior.
Nesse caso, Washington pretende promover o "reshoring" da fabricação de chips através de subsídios substanciais à indústria e disposições assertivas destinadas a conter a concorrência.
De olho nas Eleições dos EUA
A medida de elevar para 100% tarifas sobre veículos elétricos e outros produtos de fabricação chinesa por Washington tem implicações para a eleição presidencial de 2024, já que Biden busca reforçar sua imagem como sendo mais duro e inteligente em relação à China do que o ex-presidente Donald Trump.
Em estados decisivos, Biden prometeu proteger os trabalhadores estadunidenses da concorrência estrangeira e disse no mês passado na Pensilvânia que aumentaria significativamente as tarifas sobre o aço da China.
A decisão foi tomada após uma revisão obrigatória de vários anos das tarifas que Trump impôs em cerca de 300 bilhões de dólares em importações. A maioria dessas tarifas da era Trump permanecerá em vigor.
Ao implementar um aumento acentuado nas tarifas de VE, a administração Biden visa impedir uma enxurrada de carros fabricados na China de entrar no mercado dos EUA — um mercado em que a China até agora não foi um jogador significativo.
O nível das tarifas nos setores adicionais ainda não está claro.
Trump disse que consideraria impor tarifas de 60% ou mais em todas as importações chinesas e zombou do plano de Biden durante seu comício em Nova Jersey neste fim de semana.
"Ele diz que vai colocar uma tarifa de 100% em todos os veículos elétricos chineses. Não é ótimo?" disse Trump. "Biden deveria ter feito isso há quatro anos."
A administração Biden afirma que sua abordagem é mais direcionada e estratégica do que a abordagem de Trump.
O presidente Biden tem se concentrado em melhorar a fabricação doméstica e aumentar os investimentos em energia verde durante sua administração. As tarifas apontam para preocupações crescentes de que a superprodução desses tipos de bens pela China poderia prejudicar significativamente sua agenda — particularmente em um ano eleitoral quando ambos os candidatos prometem ser duros com a China.
Potência de inflar relações com a China
No entanto, alguns economistas ocidentais alertam que o aumento das tarifas inflamará as tensões com a China, aumentará os custos para os consumidores e piorará a inflação.
Como o presidente e fundador do Eurasia Group, uma empresa de pesquisa e consultoria de risco político, Ian Bremmer, que disse que as tarifas mais altas sobre VE poderiam complicar a agenda climática de Biden.
Bremmer disse que "os veículos chineses são muito melhores no lado dos VE do que qualquer outro por aí."
"O ponto político interessante aqui é que Biden pretende ser o presidente pró-clima. Mas nós não apoiamos a redução das emissões quando isso vem às custas do trabalho estadunidense. E não nos importamos se isso significa que será menos competitivo e os americanos terão acesso a veículos elétricos mais caros e de baixa qualidade. Essa é a mensagem que eles estão enviando", observou.
Elon Musk, CEO da Tesla, disse na teleconferência de resultados de sua empresa no início deste ano que as empresas chinesas de carros são "as empresas de carros mais competitivas do mundo."
"Francamente, eu acho que se não houver barreiras comerciais estabelecidas, elas praticamente dizimarão a maioria das outras empresas de carros no mundo," acrescentou Musk.
Durante sua visita à China no mês passado, a secretária Yellen alertou sobre os crescentes investimentos em "novas" indústrias visadas pela política industrial da China," incluindo veículos elétricos, baterias de íon de lítio e energia solar.
"A China agora é simplesmente grande demais para o resto do mundo absorver essa capacidade enorme. As ações tomadas pela China hoje podem mudar os preços mundiais. E quando o mercado global é inundado por produtos chineses artificialmente baratos, a viabilidade de empresas americanas e de outros países estrangeiros é colocada em questão," disse Yellen em declarações à imprensa na China.
"Já vimos essa história antes. Há mais de uma década, o massivo apoio do governo da China levou ao aço chinês abaixo do custo que inundou o mercado global e dizimou indústrias pelo mundo e nos Estados Unidos. Deixei claro que o presidente Biden e eu não aceitaremos essa realidade novamente," encerrou Yellen.