CHINA EM FOCO

China critica protecionismo do Canadá, na contramão da tradição do país

Pequim reage a anúncio de Ottawa de impor tarifas de 100% sobre carros elétricos chineses que iguala o país aos Estados Unidos

Créditos: Fotomontagem (Xinhua e Canva) - Canadá segue os EUA e impõe tarifa de importação de 100% sobre carros elétricos chineses.
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A China avalia que o anúncio feito pelo Canadá de que vai aplicar tarifas de 100% sobre as importações de veículos elétricos (VE) chineses viola as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), ignora fatos e contraria a tendência histórica.

O Ministério do Comércio da China expressou nesta terça-feira (27) forte insatisfação e firme oposição ao anúncio do governo canadense de impor tarifas adicionais sobre a importação de veículos elétricos chineses.

As declarações vieram após o governo canadense afirmar nesta segunda-feira (26) que tomará medidas restritivas, incluindo novas tarifas sobre VEs, bem como produtos de aço e alumínio importados da China.

Um porta-voz do Ministério do Comércio comentou que o governo canadense desconsiderou os fatos e as regras da OMC, ignorou as repetidas representações solenes da China e agiu unilateralmente.

"O desenvolvimento da indústria de VEs e outras indústrias chinesas é baseado em suas próprias vantagens comparativas e resultado de uma competição aberta. Os VEs chineses são bem recebidos por usuários ao redor do mundo, incluindo consumidores canadenses. Eles também fizeram grandes contribuições à resposta global às mudanças climáticas e aos esforços de transição verde" disse o porta-voz.

O porta-voz comentou ainda que o governo canadense afirma apoiar o livre comércio e o sistema comercial multilateral baseado nas regras da OMC, mas violou flagrantemente as regras da OMC, seguiu cegamente certos países e tomou medidas tarifárias unilaterais contra produtos chineses. Ele descreveu tais práticas como "protecionismo comercial típico."

Além disso, o porta-voz alertou que a medida desestabilizará as cadeias industriais e de suprimentos globais, prejudicará seriamente o sistema econômico global e as regras econômicas e comerciais, e afetará gravemente as relações econômicas e comerciais entre China e Canadá.

"Também prejudicará os interesses das empresas de ambos os países, afetará os consumidores canadenses e arriscará comprometer os esforços de transição verde do Canadá e a resposta global às mudanças climáticas. O lado canadense deve corrigir suas práticas erradas imediatamente. A China tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar resolutamente os direitos e interesses legítimos de suas empresas", finalizou.

O Ministério das Relações Exteriores da China, por meio do porta-voz Lin Jian, comentou sobre a medida canadense durante coletiva regular de imprensa nesta terça-feira (27).

Lin observou que o movimento canadense é tipicamente protecionista e perturba as relações comerciais entre China e Canadá, prejudica os interesses das empresas e consumidores canadenses, e pouco beneficia o processo de transição verde do Canadá e o esforço global para resposta ao clima. "A China lamenta e se opõe a isso", observa.

"Subsídios não geram competitividade industrial. O protecionismo não protege nada além do atraso, com o futuro como seu custo. O rápido desenvolvimento da indústria de veículos elétricos da China é resultado de persistente inovação tecnológica, cadeias industriais e de fornecimento bem estabelecidas, e completa competição de mercado. Isso é o que acontece quando nossas vantagens comparativas fornecem exatamente o que o mercado necessita", pontuou.

O porta-voz comentou ainda que a China insta o Canadá a respeitar os fatos, observar as regras da OMC, corrigir essa decisão errada imediatamente e parar de politizar as questões comerciais. "A China tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas", finalizou.

Medida contraria tradição canadense de livre mercado

A Embaixada da China em Ottawa também reagiu à medida e divulgou uma nota na qual critica o anúncio feito pelo governo canadense de impor tarifas de importação sobre os veículos elétricos chineses e outros produtos.

O comunicado avalia que a decisão do governo canadense desconsidera as repetidas objeções e démarches - medida formal tomada por um governo em assuntos diplomáticos - da China, insistiu em impor tarifas sobre veículos elétricos chineses e que Pequim expressa sua forte insatisfação e oposição resoluta.

"Essa medida é típico protecionismo comercial e uma decisão politicamente motivada, que viola as regras da OMC e contraria a imagem tradicional do Canadá como um campeão global do livre comércio e da mitigação das mudanças climáticas", ressalta a nota.

O texto avalia que a medida canadense prejudicará a cooperação comercial e econômica entre China e Canadá, afetará os interesses dos consumidores e das empresas canadenses, retardará o processo de transição verde do governo canadense e certamente não ajudará os esforços globais para enfrentar as mudanças climáticas, o que não beneficia ninguém e apenas terá efeitos contraproducentes.

O comunicado enfatiza que o rápido desenvolvimento da indústria de veículos elétricos da China é resultado de uma persistente inovação tecnológica, cadeias industriais e de fornecimento bem estabelecidas, e plena competição de mercado. Destaca que a competitividade é obtida através da utilização de suas vantagens comparativas e seguindo os princípios de mercado, em vez de depender de subsídios governamentais.

"A acusação do lado canadense sobre a suposta 'sobrecapacidade' da China é infundada. O desenvolvimento da indústria de VE da China fez contribuições positivas aos esforços mundiais para enfrentar as mudanças climáticas e realizar a transformação da energia verde", afirma o comunicado.

Por fim, a nota comenta que a China insta o lado canadense a respeitar os fatos, cumprir as regras da OMC, corrigir imediatamente suas práticas erradas e parar de politizar questões econômicas e comerciais. "A China tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas", finaliza o texto.

Protecionismo canadense

O anúncio do Canadá de impor uma tarifa de 100% sobre as importações de veículos elétricos fabricados na China foi feito nesta segunda-feira (26). A medida iguala as tarifas impostas pelos EUA, que os governos ocidentais afirmam ser devido aos subsídios da China que conferem à sua indústria uma vantagem injusta.

A medida veio após encorajamento do assessor de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, durante uma reunião com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e ministros do gabinete no último domingo (25). Sullivan inicia sua primeira visita a Pequim nesta terça-feira (27).

Trudeau disse que o Canadá também vai impor uma tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio chineses.

“Atores como a China optaram por se dar uma vantagem injusta no mercado global,” ele disse.

Um dos veículos elétricos fabricados na China importados para o Canadá é da Tesla, fabricado na fábrica da empresa em Xangai, embora a companhia do bilionário Elon Musk, que também é dono, entre outras empresas, do X (antigo Twitter), possa evitar a tarifa mudando para fornecer ao Canadá a partir de fábricas nos EUA ou na Alemanha.

As marcas chinesas ainda não têm presença no Canadá. No entanto, a gigante chinesa BYD estabeleceu uma entidade corporativa canadense na última primavera e indicou que pretende tentar entrar no mercado canadense já no próximo ano.