CHINA EM FOCO

IA: China chama política do Canadá para pesquisa de "míope e imprudente"

Pequim comenta veto de Ottawa a mais de 100 universidades - da China, Rússia e Irã - por "ameaça a segurança nacional"; reveja bronca de Xi Jinping em Justin Trudeau

Créditos: Reprodução YouTube - Xi Jinping repreende Justin Trudeau por vazamento de informações de diálogo privado
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Universidades canadenses e pesquisadores estudando tecnologias avançadas e emergentes, incluindo inteligência artificial, em breve serão inelegíveis para bolsas federais se estiverem afiliados a instituições estrangeiras que Ottawa diz representar uma ameaça à segurança nacional.

Na terça-feira (16), o governo federal do Canadá divulgou lista de mais de 100 instituições na China, Rússia e Irã por representarem o "maior risco à segurança nacional do Canadá". O governo afirma que as instituições listadas estão conectadas aos militares e agências de segurança do estado desses países.

Nesta quarta (17), o Ministério das Relações Exteriores da China comentou sobre a medida de Ottawa. A porta-voz Mao Ning disse que o anúncio do governo canadense prejudica seriamente o intercâmbio e a cooperação científico-tecnológica entre os dois países e não é propício para melhorar e estabilizar as relações bilaterais. "A China deplora veementemente e se opõe firmemente a isso".

Mao destacou que o intercâmbio e a cooperação científico-tecnológica entre a China e o Canadá são bidirecionais e mutuamente benéficos.

"A política relevante do Canadá é míope e imprudente e prejudica a si mesma e aos outros", disse Mao.

A porta-voz afirmou que Pequim insta Ottawa a abandonar o viés ideológico e a mentalidade da Guerra Fria e parar de estender excessivamente o conceito de segurança nacional, de politizar questões de cooperação científico-tecnológica e usá-las como ferramenta, de criar barreiras que dificultam o intercâmbio e a cooperação científico-tecnológica normal entre a China e o Canadá.

"Criar condições e ambiente para a melhoria e crescimento das relações bilaterais, em vez de fazer o contrário", finalizou.

Veto a pesquisas 'sensíveis'

O governo de Justin Trudeau também divulgou o que chamou de lista de áreas de pesquisa "sensíveis" — incluindo armas avançadas, tecnologias quânticas, robótica, aeroespacial, tecnologia espacial e de satélites, e tecnologia médica e de saúde.

Pesquisadores canadenses que buscam solicitações de bolsas para estudar em qualquer um desses campos precisarão atestar que não estão trabalhando com ou recebendo dinheiro de nenhuma das organizações e instituições estrangeiras citadas na lista como ameaças à segurança nacional.

Tensão antiga entre Canadá em China

Em maio de 2023, o governo chinês declarou que a cônsul do Canadá em Xangai era 'persona non grata' no país. A canadense Jennifer Lynn Lalonde teve que deixar o território do país asiático. Essa resposta dura ocorreu em resposta à decisão do Canadá no dia anterior de declarar 'persona non grata' o cônsul da China em Toronto, Zhao Wei.

A decisão do Canadá de expulsar o diplomata chinês ocorreu depois que vieram à tona notícias de que o deputado conservador Michael Chong e sua família, que vive em Hong Kong, teriam sido pressionados por questionarem o governo chinês.

O jornal canadense The Globe and Mail informou que a agência de inteligência da China tinha planos de sancionar Chong e familiares por ele ter votado, em fevereiro de 2021, em favor de uma moção que condenava as ações de Pequim na região de Xinjiang em referência às acusações de que há um 'genocídio contra a minoria uigur'.

Uigures de Xinjiang

O governo chinês nega a existência de ações contra a minoria étnica uigur em Xinjiang. Há um white paper, em inglês, sobre o tema, de julho de 2021. Intitulado 'Respeitando e protegendo os direitos de todos os grupos étnicos em Xinjiang'.

O texto do Gabinete de Informação do Conselho de Estado do governo da China lista um resumo dos avanços em direitos civis, políticos, econômicos, culturais, sociais e das mulheres e crianças para todos os grupos étnicos de Xinjiang, inclusive os uigures.

Relembre encontro tenso de Xi Jinping e Trudeau

O desconforto diplomático entre China e Canadá teve um evento tenso em 17 de novembro de 2022, durante encontro do G20 na Indonésia. Naquela ocasião, Xi Jinping repreendeu Trudeau de forma irritada depois que autoridades canadenses vazaram detalhes de um encontro anterior.

Em um clipe gravado pela mídia na cúpula em Bali, um Xi visivelmente frustrado repreende o primeiro-ministro canadense Trudeau sobre vazamento para a imprensa de detalhes de uma conversa anterior entre os dois líderes.

"Tudo o que discutimos foi vazado para o jornal, isso não é apropriado", diz Xi a Trudeau através de um tradutor. "E essa não é a maneira como a conversa foi conduzida", acrescentou.

A troca tensa ocorreu um dia depois que fontes do governo informaram que, durante uma conversa anterior nas margens da cúpula, Trudeau havia levantado "sérias preocupações" com Xi sobre as atividades de "interferência" cada vez mais agressivas da China.

A irritação de Xi flagrada neste vídeo foi um rompimento raro com suas aparições públicas.

"No Canadá, acreditamos em diálogo livre, aberto e franco, e é isso que continuaremos a ter", disse Trudeau, interrompendo o tradutor de Xi. “Continuaremos a procurar trabalhar de forma construtiva juntos, mas haverá coisas em que discordaremos.”

Gesticulando com as mãos, Xi disse a Trudeau que os dois devem "criar as condições primeiro". A dupla encerrou sua conversa apertando as mãos e saindo em direções opostas, com o primeiro-ministro canadense parecendo abatido com o encontro.