O Brasil pretende aderir à Nova Rota da Seda. Resta agora compreender como o país pode ser beneficiado com o ingresso à Iniciativa Cinturão e Rota (ICR) um megaprojeto de desenvolvimento global proposto pela China em 2013 cujo objetivo é revitalizar e expandir as antigas rotas comerciais terrestres e marítimas entre a Ásia, a Europa e além e estabelecer uma rede de comércio e infraestrutura que conecta cerca de dezenas de países.
O anúncio da possibilidade de o Brasil aderir à Nova Rota da Seda foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última nesta sexta-feira (19), em São José dos Campos (SP), durante cerimônia para liberação de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras e intervenções na Via Dutra e na Rio-Santos.
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Lula comentou que o Brasil analisa uma proposta de adesão à Nova Rota da Seda e pondera a necessidade de entender os benefícios para o país nesta parceria.
"Precisamos elaborar uma proposta clara: o que ganhamos com isso? Qual será a participação significativa do Brasil?", questionou o presidente.
Lula, que também confirmou sua participação na próxima reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) no Peru, ressaltou que a Nova Rota da Seda será um dos tópicos principais nas discussões. O presidente enfatizou a importância de reforçar os laços com a China, um movimento que busca reverter o isolacionismo vivido pelo Brasil em anos recentes.
O presidente também aproveitou para falar sobre os esforços em seu terceiro mandato para restaurar a imagem internacional do Brasil. Ele relembrou desafios diplomáticos enfrentados durante a gestão anterior e enfatizou o compromisso do Brasil com uma política externa amigável e não confrontativa.
"Nosso foco é manter boas relações com todos os países, independentemente de suas escolhas políticas internas. O importante é o benefício mútuo nas relações de estado para estado", declarou Lula.
Ele ainda mencionou futuros compromissos internacionais, incluindo a COP30 e a cúpula dos BRICS, reforçando a crescente presença do Brasil no cenário global.
Confira
O que o Brasil pode ganhar com a Nova Rota da Seda
A Nova Rota da Seda, também conhecida como Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês) é um ambicioso projeto de desenvolvimento global lançado pela China em 2013. O projeto visa estimular o crescimento econômico e fortalecer os laços comerciais entre a Ásia, a Europa, a África e outras regiões, através do desenvolvimento de infraestrutura e investimentos.
A iniciativa faz referência às antigas rotas comerciais da Rota da Seda e inclui não apenas a construção de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, mas também o desenvolvimento de redes de telecomunicações, energia e infraestruturas urbanas.
Investimentos em Infraestrutura: A adesão à Iniciativa do Cinturão e Rota pode trazer investimentos chineses em infraestrutura no Brasil, o que seria essencial para melhorar a eficiência dos transportes e logística no país. Isso incluiria desenvolvimentos em portos, ferrovias e rodovias que facilitariam tanto o comércio interno quanto as exportações.
Acesso a Mercados: A colaboração mais estreita com a China e outros países envolvidos na iniciativa poderia abrir novos mercados para produtos brasileiros. Isso é especialmente significativo dado o papel da China como um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, com forte demanda por commodities brasileiras como soja, carne e minério de ferro.
Financiamento: O Brasil poderia ter acesso a novas fontes de financiamento para grandes projetos de infraestrutura, incluindo fundos de bancos de desenvolvimento liderados pela China. Isso poderia ser crucial para o Brasil, cuja capacidade de investimento público tem sido limitada por restrições fiscais.
Desenvolvimento Tecnológico e Capacitação: A parceria com a China e outros países da BRI pode facilitar a transferência de tecnologia e o desenvolvimento de capacidades em setores estratégicos como tecnologia da informação, energia renovável e manufatura avançada.
Fortalecimento da Posição Geopolítica: Ao se integrar mais ativamente em iniciativas globais como a BRI, o Brasil poderia fortalecer sua posição em fóruns internacionais e aumentar sua influência em assuntos globais, especialmente em desenvolvimento sustentável e economia global.
Como ressaltou o presidente Lula, apesar desses benefícios potenciais, a adesão à Nova Rota da Seda também requer cuidadosa avaliação dos termos de cooperação e das obrigações financeiras envolvidas, bem como dos impactos ambientais e sociais dos grandes projetos de infraestrutura. É fundamental que qualquer acordo priorize o desenvolvimento sustentável e a inclusão social, alinhados com as necessidades e políticas nacionais do Brasil.
Desde o lançamento da iniciativa do Cinturão e Rota em 2013, 151 países já aderiram, segundo a Universidade Fudan de Xangai. Na América do Sul, Brasil, Colômbia e Paraguai permanecem como os únicos que não formalizaram adesão.
Como funciona a Nova Rota da Seda
Entre os objetivos da Nova Rota da Seda estão promover o comércio, estimular o crescimento econômico, fortalecer a cooperação diplomática e expandir a influência global da China.
A Nova Rota da Seda é vista tanto como uma oportunidade para o crescimento econômico quanto como uma ferramenta de soft power da China, destinada a criar uma nova ordem global centrada em Pequim.
A BRI quer facilitar o comércio entre a China e os países ao longo das rotas através da redução de barreiras comerciais, melhoria da infraestrutura de transporte e criação de zonas de comércio livre. Além de estimular o crescimento econômico com investimento em infraestrutura crítica nos países participantes, o que pode ajudar a estimular o crescimento econômico nessas regiões.
Pretende ainda aprofundar laços diplomáticos com países chave, promovendo uma maior cooperação econômica e política posicionar a China como uma potência líder em iniciativas de desenvolvimento global e fortalecer sua influência em questões globais.
A Nova Rota da Seda tem vários componentes. O Cinturão Econômico da Rota da Seda é o módulo terrestre do projeto e visa construir uma rede de ferrovias, rodovias, oleodutos e redes de telecomunicações que ligam a China à Europa através da Ásia Central e do Oriente Médio. Ele busca recriar a antiga Rota da Seda que historicamente conectava a China com o Ocidente através de caravanas que transportavam seda, especiarias e outros itens de valor.
O componente marítimo foca no desenvolvimento de portos e rotas marítimas. Ele se estende do Leste da China até o Mar do Sul da China e, depois, para o Oceano Índico, alcançando a Europa via canal de Suez, e também abrindo rotas para a África Oriental e outras regiões.
Mídia chinesa repercute fala de Lula
O jornal chinês South China Morning Post noticiou a fala do presidente Lula de que o país estuda aderir à Nova Rota da Seda. Em matéria publicada no sábado (20) o veículo destacou que este foi o primeiro pronunciamento público do governo brasileiro sobre a possibilidade de adesão ao projeto chinês, que já havia estendido convites ao Brasil anteriormente.
Apesar de o Brasil ser historicamente um dos maiores destinatários de investimentos chineses, o país tem sido cauteloso em se integrar formalmente a essa rede de comércio e infraestrutura, que ainda não conta com a participação de outros países sul-americanos como Colômbia e Paraguai.
A relutância em aderir ao projeto muitas vezes é motivada pelo receio de que isso possa prejudicar as relações com parceiros ocidentais e indicar um alinhamento automático com a China.
No último ano, apesar das relações já estabelecidas entre Brasil e China serem robustas, os benefícios específicos de uma adesão à Iniciativa do Cinturão e Rota ainda não são claros.
Em junho, surgiu uma especulação feita pelo líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara Federal, deputado José Guimarães (PT-CE), de que o vice-presidente Geraldo Alckmin finalizaria a adesão durante uma visita a Pequim. Contudo, Alckmin, após uma reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível para Consulta e Cooperação (Cosban), negou esses rumores, afirmando que a questão ainda estaria em discussão.