CHINA EM FOCO

Brasil na Nova Rota da Seda: Alckmin pode oficializar adesão brasileira em viagem à China

Vice-presidente desembarca em Pequim esta semana para reunião da Cosban, principal instrumento de cooperação sino-brasileiro

Créditos: Ricardo Stuckert - Visita de Geraldo Alckmin à China é desdobramento dos acordos feitos pela viagem de Lula ao país asiático em abril de 2023.
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O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, participa na próxima quinta-feira (6) da sétima reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban) que será realizada em Pequim, capital nacional da China. Antes de desembarcar em solo chinês, ele passará pela Arábia Saudita.

A Cosban é um instrumento de negociação entre Brasil e China criado no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004 que permite negociações de alto nível em diversos setores. Este ano de 2024 marca os 20 anos do mecanismo de diálogo e os 50 anos de estabelecimento de relações bilaterais entre os dois países.

Alckmin embarcou para a viagem internacional para Arábia Saudita e China no último sábado (1). Ele lidera uma delegação brasileira de ministros e empresários que busca fortalecer laços, estabelecer cooperação em várias  áreas e abrir mercados para os produtos brasileiros.

"Teremos uma agenda intensa com autoridades, empresários e investidores e esperamos trazer na bagagem bons acordos e perspectivas de negócios para as empresas brasileiras”, comentou o vice-presidente em comunicado oficial.

A agenda do vice-presidente na China prevê encontros, seminários e negociações, que abarcam as áreas de indústria, infraestrutura, comércio e investimentos, em um desdobramento da viagem oficial feita pelo presidente Lula ao país, em 2023.

Em Pequim, o fórum empresarial organizado por MDIC, ApexBrasil, Itamaraty, Ministério do Comércio da China e China Council for the International Investment Promotion  (CCIIP), terá a presença de 400 empresários, entre brasileiros e chineses, para debater parcerias e celebrar as cinco décadas de relações bilaterais.

Encontro com vice-presidente chinês

Alckmin também irá se reunir com o vice-presidente chinês Han Zheng, que copreside a Cosban ao lado do vice brasileiro.

Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta segunda-feira (3), a porta-voz Mao Ning comentou a visita de Alckmin.

A diplomata destacou que China e Brasil são ambos grandes países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes, e são parceiros estratégicos abrangentes entre si. Este ano marca o 50º aniversário das relações diplomáticas entre China e Brasil e o 20º aniversário da criação do Comitê de Coordenação e Cooperação de Alto Nível China-Brasil.

"A China espera que esta visita ajude a consolidar ainda mais a confiança política mútua, fortalecer a comunicação estratégica e aprofundar a cooperação prática em vários campos entre os dois lados para o crescimento sustentado de nossa parceria estratégica abrangente", comentou.

Cosban

O relacionamento bilateral entre Brasil e China em ciência, tecnologia, inovação e comunicações tem acompanhado a evolução das relações diplomáticas dos dois países desde seu estabelecimento, em 1974, intensificando-se a partir de 2004, com a criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), que consiste no principal mecanismo institucional de coordenação das relações bilaterais, orientando-as e estabelecendo novas metas para seu futuro.

A Cosban atua por meio de suas subcomissões e grupos de trabalho, a exemplo da Subcomissão de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), que se reunirá, pela 7ª vez, em 6 de junho de 2024, em Pequim. Confira acordos celebrados nessa comissão:

  • Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China, assinado em 25/03/1982, em vigor desde 30/03/1984;
  • Memorando de Entendimento entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre o Estabelecimento da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação, assinado em 24/05/2004;
  • Plano Decenal de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China – 2012-2021, assinado em 21/06/2012;
  • Plano de Ação Conjunta entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China – 2015-2021, assinado em 19/05/2015;

Principais projetos bilaterais Brasil e China

  • Centro Brasil China de Biotecnologia;
  • Centro Brasil-China de Mudança Climática e Tecnologias Inovadoras para Energia;
  • Centro Brasil-China de Pesquisa e Inovação em Nanotecnologia;
  • Laboratórios Conjuntos Brasil-China de Ciências Agrárias;
  • Programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite).

Áreas prioritárias para cooperação bilateral - aeroespacial, biotecnologia, energias renováveis e biocombustíveis, cidades inteligentes, ciências florestais e agrárias, espaço, meteorologia e prevenção e mitigação de desastres naturais, mudanças climáticas, novos materiais e nanotecnologia, parques científicos e tecnológicos, políticas de inovação, tecnologias da informação e comunicação (TICs), computação em nuvem, ciência e tecnologia do bambu e do ratã.

Comitiva brasileira

Além de Alckmin, compõem a comitiva brasileira os ministros Rui Costa (Casa Civil) Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Márcio França (Micro e Pequenas Empresas) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), além dos presidentes da ApexBrasil, Jorge Viana, e da ABDI, Ricardo Cappelli.

Pelo MDIC, participam da viagem o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços, Uallace Moreira, e a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres. A delegação será integrada por Nelson Barbosa, diretor de Planejamento e estruturação de projetos do BNDES, e por Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Nova Rota da Seda

O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara, deputado federal José Guimarães, anunciou pelas redes sociais que entre as atividades previstas pela comitiva liderada por Alckmin à China está "finalizar a inclusão do Brasil no Cinturão e Rota".

A Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês), também conhecido como a Nova Rota da Seda, é um grande projeto de desenvolvimento econômico e infraestrutura lançado pelo presidente chinês, Xi Jinping, em 2013 e tem o objetivo de melhorar a conectividade e cooperação entre a Ásia, Europa e África, criando uma rede abrangente de rotas comerciais terrestres e marítimas.

A BRI é composta por duas partes principais. O Cinturão Econômico da Rota da Seda, que se refere a uma série de corredores terrestres que conectam a China à Europa através da Ásia Central, da Rússia, e do Oriente Médio. Esta rota busca reviver a antiga Rota da Seda, que era uma rede de rotas comerciais que ligava o Oriente ao Ocidente.

A outra parte é a Rota da Seda Marítima do Século XXI, que se refere-se a rotas marítimas que ligam os portos da China aos portos no Sudeste Asiático, Sul da Ásia, África Oriental e Europa. Esta rota pretende melhorar a conectividade marítima e facilitar o comércio marítimo global.

A Nova Rota da Seda é um esforço global que envolve muitos países ao redor do mundo. Mais de 140 países e de 30 organizações internacionais já expressaram interesse ou firmaram acordos para participar da iniciativa.

  • Ásia: Paquistão, Índia, Rússia, Cazaquistão, Tailândia, Indonésia, Malásia, Vietnã, e muitos outros países asiáticos.
  • Europa: Itália, Grécia, Polônia, Hungria, Sérvia, entre outros.
  • África: Quênia, Etiópia, Nigéria, Egito, África do Sul, entre outros.
  • América Latina: Argentina, Chile, Peru, entre outros.
  • Oriente Médio: Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Turquia, entre outros.

Os principais objetivos da Iniciativa do Cinturão e Rota são melhorar a conectividade com a construção e melhoraria  da infraestrutura de transporte (ferrovias, rodovias, portos, aeroportos) para facilitar o comércio e a movimentação de pessoas; facilitar o comércio com a redução de barreiras comerciais e promoção do comércio entre os países participantes; desenvolvimento econômico, com o estímulo do desenvolvimento econômico e a criação de empregos nos países participantes; cooperação financeira com promoção da cooperação financeira e aumentar os investimentos transnacionais; e intercâmbio cultural, com o fortalecimento dos laços culturais e promoção do intercâmbio entre os povos.

Agenda em Riade

Em Riade, na Arábia Saudita, manterá encontro bilateral com o ministro de Investimentos, Khalid Al Falih e com o ministro da Defesa, príncipe Khalid bin Salman.

A agenda saudita inclui ainda reuniões com empresários e fundos de investimento dos dois países, em que participam BNDES, CNI, ApexBrasil e ABDI.