CHINA EM FOCO

China sobe o tom contra medidas dos EUA que miram empresas chinesas

Pequim reage à recentes medidas protecionistas da administração Biden, que planeja aumento de tarifas de importação de veículos elétricos chineses

Créditos: VCG - Montagem de um veículo elétrico na startup chinesa Leapmotor em Jinhua, na província de Zhejiang, leste da China, em 1º de abril de 2024. A fábrica inteligente de VEs entregou 14.567 novos veículos em março, um aumento anual de 136%.
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A China classifica como abusiva a medida do Departamento de Comércio dos EUA de adicionar 37 entidades chinesas do setor de alta tecnologia à Lista de Entidades para controle de exportação.

Em coletiva de imprensa regular em Pequim nesta sexta-feira (10), o porta-voz Lin Jian, do Ministério das Relações Exteriores da China, comentou que a decisão, anunciada por Washington nesta quinta-feira (9) e que também inclui empresas "suspeitas de envio de itens controlados para a Rússia", é um abuso de ferramentas de controle de exportação para suprimir empresas chinesas.

"Nós nos opomos fortemente à lista de abusos de entidades dos EUA e outros controles de exportação para ir atrás de empresas chinesas. A China e a Rússia têm direito à cooperação econômica e comercial normal, e essa cooperação não deve estar sob interferência ou restrição externa. Eu gostaria de enfatizar que por um longo período de tempo, os EUA suprimiram as empresas chinesas citando seus “riscos à segurança nacional”, mas não conseguiram produzir nenhuma evidência", destacou o porta-voz.

Lian afirmou ainda que o governo chinês insta os EUA a parar de sobrecarregar o conceito de segurança nacional, parar de politizar questões comerciais e tecnológicas ou usá-las como armas e parar de abusar de vários tipos de listas de sanções para suprimir empresas chinesas.

"A China continuará a fazer o que for necessário para defender os direitos e interesses legais das empresas chinesas", destacou.

Vantagens da China no comércio internacional

As medidas de Washington para conter a China não param por aí. Durante o Fórum Sedona, evento promovido pelo Instituto McCain no dia 3 de maio, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que, no comércio internacional, a China depende de "vantagem injusta", e não de "vantagem comparativa".

Na coletiva de imprensa desta sexta-feira Lin também rebateu essa análise de Blinken. Ele comentou que essas observações do secretário de Estado dos EUA carecem de senso econômico e ignoram os fatos.

"A economia chinesa cresceu fortemente ao participar do vasto mercado global. A China segue as normas internacionais de comércio e as regras da economia de mercado, dependendo do nosso mercado de grande escala, gama completa de indústrias de apoio, recursos humanos ricos e concorrência plena no mercado. Todas essas são vantagens comparativas da China", afirmou o porta-voz.

Lin comentou ainda que os EUA exageram o conceito de segurança nacional na economia e no comércio, e perturbam o comércio internacional normal, engajando-se em desacoplamento e ruptura de cadeias de suprimentos e construindo "pequenos quintais com cercas altas".

O porta-voz prossegue que Washington também adotou a Lei de Redução da Inflação e outras medidas para subsidiar indústrias específicas dos EUA e incluíram na lei um grande número de disposições discriminatórias direcionadas a empresas estrangeiras e, em particular, medidas para restringir e conter a China.

"Esses movimentos não são - movimentos que promovem a desglobalização, excluem a concorrência e violam a lei da economia de mercado - não têm como objetivo buscar 'vantagem injusta?'. Além de culpar a China, os próprios EUA têm dito uma coisa e feito outra. Isso é um padrão duplo típico e bullying. A China pede aos EUA que respeitem a lei da economia de mercado, observem as regras do comércio internacional, parem de difamações e calúnias irresponsáveis, parem de exagerar o conceito de segurança nacional e corrijam suas políticas e práticas comerciais", finalizou.

Tarifas sobre carros elétricos chineses

O governo Biden está prestes a anunciar uma decisão abrangente sobre as tarifas da China na próxima semana, sinalizando que mais tarifas estão a caminho. A expectativa é que a medida de Washington afete setores estratégicos importantes, como os veículos elétricos (VE).

Para a China, o plano dos Estados Unidos de impor tarifas sobre importações de indústrias emergentes da China está adicionando erros a erros.

Lin observou que as tarifas impostas pela administração Trump à China interromperam severamente as trocas comerciais e econômicas normais entre os dois países. 

"A OMC [Organização Mundial do Comércio] já determinou que essas tarifas são contrárias às regras da OMC. Em vez de acabar com essas práticas erradas, os EUA continuam a politizar as questões comerciais, abusar do chamado processo de revisão das tarifas da Seção 301 e planejar aumentos tarifários. Isso vai dobrar a culpa dos EUA.Instamos os EUA a seguir as regras da OMC, suspender todas as tarifas adicionais sobre a China e não impor novas. A China tomará todas as medidas necessárias para defender seus direitos e interesses", alertou o porta-voz.

De acordo com matéria de Bloomberg desta sexta-feira (10), a administração de Joe Biden deverá anunciar na próxima semana novas tarifas sobre o comércio chinês, com impostos focados em setores estratégicos, incluindo veículos elétricos, numa revisão de medidas inicialmente implementadas sob Donald Trump.

Um anúncio planejado para a próxima terça-feira (14) manterá os aumentos gerais de impostos introduzidos pelo governo Trump e os complementará com tarifas direcionadas a indústrias relacionadas a veículos elétricos, incluindo baterias e células solares.

O plano será o ápice de uma revisão das amplas tarifas sobre Pequim que começaram em 2018. Durante o governo Trump foram impostas taxas de 27,5% sobre as importações de veículos elétricos chineses que Biden desde então estendeu, o que manteve o número de carros chineses nas estradas dos EUA extremamente baixo.

Se introduzidas, as tarifas sobre VE representariam um dos maiores movimentos de Biden na guerra comercial com a China. No mês passado, o presidente lançou uma investigação sobre a indústria de transporte marítimo chinesa junto com um pedido por tarifas mais altas sobre o aço e alumínio chinês como parte de um apelo aos trabalhadores sindicalizados antes das eleições presidenciais em novembro.

Embora a China não venda diretamente VE nos EUA, ela tem participações majoritárias em outras empresas no exterior que vendem carros fabricados na China.

Líderes políticos dos EUA temem as importações de VE chineses porque a China é capaz de oferecer preços mais baixos que os fabricantes estadunidenses, enquanto inclui baterias mais potentes e tecnologia avançada.

A Aliança pela Manufatura Americana, um grupo de advocacia, disse que a introdução de carros chineses no mercado dos EUA seria um "evento de nível de extinção" para os fabricantes de automóveis dos EUA.

A União Europeia e os EUA têm sofrido com uma enxurrada de importações mais baratas da China, decorrente da estratégia do presidente Xi Jinping de aumentar a fabricação enquanto tenta reverter a economia.

As restrições às importações de "carros inteligentes" chineses também abordariam preocupações de segurança, já que muitos têm modems que poderiam ser hackeados. A Casa Branca disse que carros conectados à internet poderiam usar câmeras e sensores para coletar detalhes e interagir com a infraestrutura crítica dos EUA.

Em março, Trump disse que, se eleito presidente este ano, colocaria uma tarifa de 100% em "cada carro que atravessar a linha" de fábricas de propriedade chinesa na China.

"Eles não vão vender esses carros", ameaçou Trump, que prometeu aumentar os impostos sobre todas as importações chinesas em 60%, uma abordagem que críticos dizem que aumentaria os preços para os consumidores dos EUA já lidando com a inflação.

Em abril, Biden disse que "não estava procurando uma briga com a China", mas que os EUA precisavam enfrentar as "práticas econômicas injustas e a sobrecapacidade industrial" da China. "Estou procurando competição, mas uma competição justa", disse ele.

Avaliação dos especialistas chineses

Ao jornal chinês Global Times, observadores disseram que essas movimentações dos EUA revelaram que a campanha difamatória ilógica e infundada pela mídia e políticos ocidentais, que exageram a chamada "sobrecapacidade" chinesa em produtos verdes, não é mais do que um trampolim para medidas protecionistas comerciais há muito planejadas pela administração Biden, o que expõe o motivo oculto dos EUA de reprimir e impedir o desenvolvimento da China.

Comunidades empresariais internacionais e globais têm expressado sérias preocupações sobre as perspectivas de tensões crescentes entre as duas maiores economias do mundo e suas implicações para a recuperação econômica global.

A primeira-vice-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, disse na última terça-feira (7) que as tensões crescentes entre os EUA e a China causaram ondulações globais, e os países estão reavaliando seus parceiros comerciais e de investimento com base em preocupações econômicas e de segurança nacional, deixando o mundo dividido em três blocos.

Muitos no setor corporativo também expressaram dúvidas sobre o exagero do Ocidente em relação à "sobrecapacidade" chinesa em exportações verdes.

"Com tecnologias verdes, a China está fazendo uma grande contribuição para o mundo porque precisamos avançar muito rápido para a energia solar e para a mobilidade elétrica. A China está ajudando a alcançar isso tanto na China quanto no mundo", disse Frank Hammes, CEO global da empresa suíça de tecnologia de qualidade do ar IQAir.

A China está bem posicionada em setores importantes que facilitam uma transição global para uma geração de energia e transporte mais verdes e sustentáveis, disse ele.

A China, que manteve uma postura contida em resposta às provocações dos EUA, poderia reagir quando julgar necessário nesta escalada de tensões comerciais diante das ações protecionistas comerciais teimosas dos EUA, alertaram analistas.

Apesar de certos políticos dos EUA pressionarem pelo desacoplamento contra as exportações chinesas, o comércio bilateral mostrou sinais de crescimento constante, com o comércio total China-EUA expandindo 1,1% ano a ano para 203,42 bilhões de dólares em termos denominados em yuan nos primeiros quatro meses deste ano, revertendo uma contração de 0,7% nos primeiros três meses, mostraram dados aduaneiros da China na quinta-feira (9).

Com informações do The Guardian e Global Times

 

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