CHINA EM FOCO

China se posiciona sobre mudança de regime na Síria

Pequim comenta queda de Bashar al-Assad, que marca nova fase na crise síria; grupo extremista assume controle

Mudança de regime na Síria..Um homem, uma criança e uma mulheres caminham em uma rua de Damasco, capital da Síria, com fumaça preta ao fundo (8/12/24)Créditos: CFP
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Após mais de uma década de guerra civil, o governo do presidente sírio Bashar al-Assad foi oficialmente derrubado neste fim de semana. O anúncio da renúncia de Assad veio em meio a uma ofensiva relâmpago do grupo Hay'at Tahrir al-Sham (HTS), antiga afiliada da Al-Qaeda, que assumiu o controle de importantes cidades como Aleppo, Hama e Damasco.

Durante coletiva de imprensa regular do Ministério das Relações Exteriores da China nesta segunda-feira (9), em Pequim, a porta-voz Mao Ning respondeu a perguntas sobre o fim do governo de Bashar al-Assad e a possível formação de um novo governo.

“A China está acompanhando de perto a situação na Síria e espera que as partes relevantes tenham em mente os interesses fundamentais do povo sírio e encontrem, o mais rápido possível, uma solução política que restaure a estabilidade no país”, afirmou.

Ao ser questionada sobre os desdobramentos dessa mudança de regime, a porta-voz destacou que o futuro da Síria deve ser decidido pelo povo sírio.

“O futuro da Síria deve ser decidido pelo povo sírio. Esperamos que as partes relevantes encontrem uma solução política para restaurar a estabilidade e a ordem na Síria, em benefício dos interesses fundamentais e de longo prazo do povo sírio”, enfatizou.

Sobre a informação de que Israel, durante os tumultos na Síria, tomou as Colinas de Golã e lançou ataques aéreos contra instalações em Damasco Mao reforçou que a China acompanha de perto a situação e ressaltou que a soberania e a integridade territorial do país devem ser respeitadas.

No que diz respeito às relações próximas entre Pequim e Damasco, a porta-voz destacou que as relações amistosas da China com a Síria são para todo o povo sírio.

“Esperamos que a estabilidade retorne o mais rápido possível”, disse.

Relações entre China e Síria

As relações diplomáticas e comerciais entre a China e a Síria têm se fortalecido ao longo das últimas décadas, caracterizadas por cooperação política, econômica e militar.

A China e a Síria estabeleceram relações diplomáticas em 1º de agosto de 1956. Desde então, ambos os países mantêm embaixadas em Pequim e Damasco, respectivamente.

Em 2009, o comércio entre China e Síria alcançou aproximadamente US$ 2,2 bilhões, com a China sendo o principal exportador para a Síria. As exportações sírias para a China representaram menos de 1% desse total, indicando uma balança comercial favorável à China. 

A China tem demonstrado interesse em participar da reconstrução da Síria, especialmente após os danos causados pela guerra civil. Empresas chinesas estão envolvidas em projetos de infraestrutura, energia e outros setores, visando contribuir para a recuperação econômica do país.

Historicamente, a China forneceu equipamentos militares à Síria e participou de programas de treinamento. Em 2016, autoridades militares chinesas expressaram interesse em fortalecer a cooperação com as Forças Armadas Sírias.

A China, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, vetou diversas resoluções relacionadas à Síria, enfatizando a importância da soberania síria e a necessidade de soluções políticas para o conflito.

Parceria estratégica Pequim e Damasco 

Xinhua - Xi Jinping recebe Bashar al-Assad em Pequim em setembro de 2023.

Em setembro de 2023, durante uma visita oficial do presidente sírio Bashar al-Assad à China, os dois países anunciaram o estabelecimento de uma "parceria estratégica". 

O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que essa parceria marcaria um marco importante nas relações bilaterais, destacando o apoio da China à soberania e integridade territorial da Síria. 

Xi e Assad se encontraram na cidade chinesa de Hangzhou, antes da abertura dos Jogos Asiáticos. O presidente chinês destacou a longa história de laços diplomáticos entre os dois países e reafirmou o compromisso de apoiar a reconstrução da Síria, combater o terrorismo e defender sua soberania.

A cooperação será ampliada por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota, com foco em importação de produtos agrícolas sírios e projetos de desenvolvimento. 

Na ocasião, Assad elogiou o papel da China em promover justiça global e destacou o desejo de aprofundar a colaboração em questões regionais e internacionais.

A reunião culminou na assinatura de acordos bilaterais e na emissão de uma declaração conjunta, reforçando os esforços de ambas as nações em fortalecer a parceria em diversas áreas estratégicas.

Mudança de regime

O avanço das forças do HTS surpreendeu analistas internacionais pela rapidez e eficiência, resultando no colapso do regime sírio em questão de dias. A ofensiva culminou na queda do governo, que enfrentava pressões internas e externas desde o início do conflito em 2011.

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Com o controle do HTS sobre o país, a Síria entra em uma fase ainda mais instável, gerando preocupações globais sobre o futuro da região e a ameaça representada por grupos extremistas. 

A comunidade internacional observa com atenção os próximos desdobramentos, enquanto milhões de sírios enfrentam uma nova realidade sob um regime marcado por um histórico de radicalismo.

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