Independentemente de quem ocupe a Casa Branca, China e Rússia seguem como parceiros estratégicos abrangentes de coordenação para uma nova era.
Esse é o posicionamento oficial da diplomacia de Pequim sobre os possíveis impactos da vitória de Donald Trump na Presidência dos EUA. Os comentários foram feitos nesta sexta-feira (8) pelo Ministério das Relações Exteriores da China, durante uma coletiva de imprensa.
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A porta-voz Mao Ning ressaltou que Pequim e Moscou, como sempre, fortalecem suas relações bilaterais e promovem a cooperação em todos os aspectos, com base nos princípios de não-alinhamento, não-confronto e sem visar terceiros.
"A China acredita que a competição entre grandes potências vai contra a tendência dos tempos e que políticas de contenção, supressão e confrontos em blocos não terão apoio. Respeito mútuo e cooperação vantajosa para todos são o caminho correto para as relações entre os países", destacou.
Mao foi questionada sobre a declaração do presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou nesta quinta-feira (7) que os EUA estão adotando uma política de contenção dupla, tentando conter tanto a China quanto a Rússia, mas que, se os EUA mudarem seu direcionamento em relação a Moscou e Pequim, todos sairão ganhando.
Putin também acrescentou que a Rússia apoia a China porque esta adota uma política contida e é aliada da Rússia.
Mao comentou ainda sobre a afirmação de Putin de que estaria aberto a retomar conversas com Trump e que as declarações do presidente eleito sobre a Ucrânia “merecem atenção”.
"A relação entre a Rússia e os Estados Unidos é uma questão entre esses dois países. Quanto à crise na Ucrânia, a posição da China é consistente. Nós apoiamos todos os esforços que sejam favoráveis a uma solução política para a crise", concluiu.
China e Rússia: parceria segue firme
As declarações de Putin, comentadas pela diplomacia chinesa, foram feitas durante discurso no Clube de Discussão Valdai, na quinta-feira (7). Na ocasião, ele ressaltou a relação de confiança e cooperação inédita entre Rússia e China e descreveu a parceria como um pilar para a segurança e estabilidade da região, sem direcionamento contra terceiros.
Putin destacou sua proximidade com o presidente chinês, Xi Jinping, como um fator essencial para o desenvolvimento das relações entre os dois países, que consolidaram uma amizade baseada em interesses e respeito mútuo.
Ele enfatizou que a política da China é "absolutamente equilibrada" e que Pequim é um aliado estratégico de Moscou, frisando que a confiança mútua é "algo que nos falta nas relações com outros países, especialmente os ocidentais."
O presidente russo afirmou ainda que, apesar de a Rússia manter laços de cooperação militar com a China, esses esforços visam exclusivamente o reforço da segurança de ambos os países e não têm como objetivo desafiar outras nações.
"Nossa cooperação com a China, em geral, e a cooperação militar e de defesa, em particular, visa reforçar nossa segurança e não é direcionada contra terceiros," disse Putin.
No contexto global, Putin defendeu a multipolaridade e criticou tentativas de hegemonia de um único país ou bloco, sugerindo que Rússia e China trabalham para fortalecer uma ordem mundial onde todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas.
Apoio à China na Questão de Taiwan
Putin reforçou seu apoio às reivindicações de Pequim sobre Taiwan durante o discurso no Clube de Discussão Valdai, realizado no resort de Sochi, no Mar Negro. Ele afirmou que o fortalecimento da cooperação sino-russa não representa ameaça a outros países.
Putin comentou que, ao contrário do que alguns afirmam, a China não adota uma postura agressiva na região e sugeriu que Taiwan estaria buscando criar uma crise semelhante à da Ucrânia na Ásia, visando obter apoio externo.
"Não acreditamos que a China esteja conduzindo uma política agressiva na região", disse Putin, ao comentar os exercícios militares chineses em torno de Taiwan, ilha que Pequim considera como parte de seu território.
"Todos reconhecem formalmente que, sim, Taiwan faz parte da China. Mas, na prática, vemos um movimento na direção oposta, uma escalada provocada", ponderou.
Efeito Trump em Pequim e Moscou
A eleição de Trump como presidente dos Estados Unidos tem o potencial de impactar significativamente as relações entre EUA, China e Rússia. Durante sua campanha, o agora presidente eleito expressou o desejo de restaurar as relações com a Rússia e buscar uma resolução para a crise na Ucrânia. Em resposta, o presidente Putin afirmou que essas declarações "merecem atenção" e que está disposto a retomar conversas com Trump.
No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, destacou que a Rússia não deve fazer uma avaliação oficial até ver "palavras e ações concretas" da nova administração dos EUA. Peskov enfatizou que "as relações estão atualmente em seu ponto histórico mais baixo" e que é "praticamente impossível que as relações piorem ainda mais".
Analistas sugerem que a eleição de Trump pode trazer menos previsibilidade e cooperação com aliados globais, incluindo a União Europeia, além de aumentar as tensões comerciais com a China. Há expectativas de que Trump possa pressionar a Europa a se distanciar da China e adotar uma postura mais dura em relação a Pequim.
O retorno de Trump à Casa Branca pode levar a uma reavaliação das relações dos EUA com a Rússia e a China, com possíveis mudanças nas dinâmicas de cooperação e competição entre essas potências.
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