CHINA EM FOCO

A história da mina no Amazonas comprada pela China

Mineradora chinesa CNT acaba de comprar de uma empresa do Peru uma das mais importantes operações minerais do Brasil

Mina de Pitinga foi comprada por mineradora chinesa..Imagens da Mina de Pitinga, operada pela Mineração Taboca, em Presidente Figueiredo (AM) com vista aérea do local e operários uniformizados com equipamentos de proteção individual.Créditos: Mineração Taboca (divulgação)
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A Mina de Pitinga é uma das mais importantes operações minerais do Brasil e acaba de ser comprada por uma mineradora chinesa de uma empresa peruana.

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A Mineração Taboca, que opera a Mina de Pitinga, está localizada em Presidente Figueiredo (AM) e foi adquirida pela empresa chinesa China Nonferrous Trade (CNT), um braço do grupo estatal China Nonferrous Metal Mining (CNMM).

A transação, avaliada em US$ 340 milhões (cerca de R$ 2 bilhões), foi oficializada pela peruana Minsur S.A., antiga controladora, e comunicada ao governo do Amazonas em 26 de novembro.

Mudanças de dono

O controle da Mina de Pitinga pelos peruanos durou 16 anos. Em novembro de 2008, a mineradora do Peru, terceira maior produtora de estanho do mundo, comprou 100% das ações da Mineração Taboca por meio de sua subsidiária Serra da Madeira Participações Ltda. À época, a transação envolveu um investimento de R$ 850 milhões e marcou a primeira aquisição internacional da Minsur. 

Antes de sua aquisição pela peruana Minsur, a Mineração Taboca era controlada pelo grupo brasileiro Paranapanema. Fundada em 1961, a empresa iniciou suas atividades na construção civil pesada e, em 1969, descobriu ocorrências de cassiterita na Amazônia, fundando a Mineração Taboca para explorar esses depósitos. 

Nos anos 1980, a Paranapanema consolidou-se como uma das principais do setor mineral no país, especialmente após a descoberta da Mina de Pitinga. A empresa atua na fundição e refino de cobre primário, além da produção de semimanufaturados de cobre e suas ligas. É responsável por 100% do volume de cobre refinado (cátodos) produzido no Brasil. 

Atualmente, a Paranapanema tem capital pulverizado, sem um acionista controlador definido. Nenhum acionista individual detém mais de 24% do capital social, e não há acordos de acionistas ou grupos de controle estabelecidos. 

A empresa opera três plantas industriais: uma em Dias d’Ávila (BA), produtora de cobre refinado; outra em Santo André (SP); e uma terceira em Serra (ES), ambas dedicadas à produção de produtos de cobre e suas ligas. A distribuição é realizada pela controlada Centro de Distribuição de Produtos de Cobre Ltda. (CDPC), com unidades na Bahia e no Rio de Janeiro

Em novembro de 2022, a Paranapanema e duas de suas controladas — CDPC e Paraibuna Agropecuária — entraram com pedido de recuperação judicial, listando R$ 450 milhões em dívidas. 

Em agosto de 2023, o plano de recuperação judicial foi aprovado em assembleia geral de credores, permitindo à empresa avançar na retomada de suas operações. A Paranapanema está listada na B3 desde 1971 sob o ticker PMAM3 e integra o Novo Mercado de Governança Corporativa desde fevereiro de 2012.

Mina estratégica

A Mina de Pitinga, localizada no município de Presidente Figueiredo, a aproximadamente 300 km ao norte de Manaus, no estado do Amazonas, é uma das mais significativas operações minerais do Brasil. É considerada uma das mais ricas do mundo, com uma longevidade estimada em 100 anos.

A Mineração Taboca destaca-se por ser uma das poucas no mercado mundial de estanho a contar com mina própria. Para sustentar suas operações na Amazônia, a Taboca conta com uma usina hidrelétrica própria, situada a 80 km da mina, garantindo energia elétrica para suas atividades industriais.

A Mina de Pitinga é uma das principais fontes de estanho do país. Além desse mineral, é reconhecida por sua riqueza polimetálica, produzindo também nióbio e tântalo. Estudos indicam que a mina tem uma das maiores reservas de tântalo conhecidas mundialmente, com uma produção significativa de óxido de tântalo de alta pureza. 

A importância do tântalo

O tântalo, encontrado em abundância na Mina de Pitinga, é um metal raro e estratégico, amplamente utilizado devido à sua resistência à corrosão, alta condutividade e estabilidade térmica. Ele é essencial na indústria eletrônica, especialmente na fabricação de capacitores, semicondutores e dispositivos portáteis. Na área médica, é empregado em implantes e instrumentos cirúrgicos por sua biocompatibilidade.

Na indústria aeroespacial, o tântalo compõe superligas resistentes a altas temperaturas, enquanto na química é usado para revestir equipamentos industriais. Também é relevante no setor energético, em capacitores e baterias, e na defesa, em sistemas eletrônicos e munições. Além disso, é valorizado na joalheria por sua durabilidade e estética.

Sua importância estratégica reside no papel crucial em tecnologias avançadas, destacando-se em setores como eletrônica, defesa, saúde e energia.

Gigante chinesa da mineração

A compra da Mineração Taboca pelo grupo CNMC reflete a estratégia da estatal da China de expandir suas operações em metais não ferrosos na América Latina

A CNMC é uma empresa estatal chinesa fundada em 1983, especializada na mineração e processamento de metais não ferrosos. 

Sob a administração da Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais do Conselho de Estado da China, a CNMC desempenha um papel significativo no desenvolvimento de recursos minerais tanto na China quanto internacionalmente. 

A CNMC mantém operações em diversos países, com destaque para projetos na Ásia e África. A empresa é reconhecida por sua cadeia industrial verticalmente integrada, que abrange desde a mineração até a venda de produtos de cobre e cobalto, especialmente em países como a Zâmbia. 

Com uma trajetória de mais de quatro décadas, a CNMC continua a consolidar sua posição como uma das principais empresas globais no setor de mineração de metais não ferrosos, contribuindo para o desenvolvimento econômico e industrial em diversas regiões.

Presença chinesa na mineração brasileira

A presença de mineradoras chinesas no Brasil tem se intensificado nos últimos anos, com investimentos significativos em diversos projetos de extração mineral. 

Essas iniciativas abrangem a exploração de minerais estratégicos e a aquisição de empresas locais, consolidando a atuação chinesa no setor mineral brasileiro. Além da CNMC, confira outros investimento de empresas da China em mineração:

Recentes:

  • Sul Americana de Metais (SAM): Subsidiária da Honbridge Holdings, de Hong Kong, a SAM desenvolve o Projeto Bloco 8 no norte de Minas Gerais. Com investimentos estimados em US$ 2,1 bilhões, o projeto visa produzir anualmente 27,5 milhões de toneladas de pellet feed de minério de ferro. O empreendimento inclui a construção de um mineroduto de 480 km até Ilhéus, na Bahia, para facilitar a exportação, principalmente para o mercado chinês.
     
  • CMOC Brasil: Subsidiária da China Molybdenum Co., Ltd., a CMOC Brasil atua na mineração e beneficiamento de nióbio e fosfatos, essenciais para a indústria global e a agricultura brasileira. As operações estão localizadas em Catalão e Ouvidor, em Goiás, e em Cubatão, São Paulo.
     
  • Baiyin Nonferrous: O grupo chinês Baiyin Nonferrous está em processo de aquisição da Mineração Vale Verde, localizada em Alagoas, que opera a mina Serrote, produtora de concentrado de cobre. A conclusão da transação está prevista para o início de 2025, sujeita à aprovação das autoridades competentes. 

Projeto em negociação:

  • BYD e Sigma Lithium: A fabricante chinesa de veículos elétricos BYD está em negociações avançadas para adquirir a Sigma Lithium, maior mineradora de lítio do Brasil, com operações no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. A transação é avaliada em aproximadamente US$ 2,9 bilhões. 

Estrangeiros na mineração brasileira

Não é só a China que atua no setor de mineração do Brasil. O país abriga diversas mineradoras estrangeiras envolvidas na extração de recursos como minério de ferro, ouro, bauxita, nióbio e fosfatos.

  • Anglo American (Reino Unido): opera o projeto Minas-Rio, uma das maiores minas de minério de ferro do mundo, localizada em Minas Gerais.
     
  • Kinross Gold (Canadá): atua na extração de ouro, com operações em Minas Gerais. 
     
  • Yamana Gold (Canadá): envolvida na mineração de ouro, com atividades em Goiás. 
     
  • ArcelorMittal (Luxemburgo): produz minério de ferro e aço, com operações em Minas Gerais.
     
  • Alcoa World Alumina and Chemicals (AWAC) (Estados Unidos/Austrália): focada na produção de bauxita e alumina, com operações no Pará.
     
  • Jaguar Mining (Canadá): Especializada na extração de ouro, com minas em Minas Gerais. 

Críticas à presença estrangeira na mineração

A crescente presença de investidores estrangeiros no setor mineral brasileiro levanta debates sobre soberania, impactos ambientais e benefícios econômicos. 

O Brasil corre o risco de exportação de riquezas sem retorno adequado ao país, além de potenciais danos ambientais em grandes projetos, como barragens de rejeitos.

Comunidades e organizações ambientais criticam a falta de práticas sustentáveis, enquanto lucros são frequentemente repatriados, contribuindo pouco para o desenvolvimento local. 

A eficácia do governo na regulação e monitoramento é vista como crucial para equilibrar desenvolvimento econômico, proteção ambiental e preservação da soberania nacional.

Exemplo da mineração na China

Um exemplo de soberania nacional sobre os recursos minerais vem justamente da China. No que diz respeito aos investimentos estrangeiros, o país asiático adota uma abordagem cautelosa e estratégica. 

Embora a potência asiática seja um dos maiores consumidores de produtos minerais, especialmente commodities como carvão e minério de ferro, o setor de mineração é amplamente dominado por empresas estatais chinesas. 

A participação estrangeira é limitada e geralmente ocorre por meio de joint ventures ou parcerias que envolvem transferência de tecnologia e conhecimento. Essa política visa garantir o controle sobre recursos estratégicos e promover o desenvolvimento sustentável da indústria mineral.

Em 2023, o Ministério dos Recursos Naturais da China anunciou a descoberta de 124 novos locais de mineração, dos quais 44 são de grande extensão, 52 de médio porte e 28 pequenos. Essas descobertas refletem os esforços contínuos do país em expandir e diversificar sua base mineral dentro de um projeto nacional de desenvolvimento.

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