O presidente da China, Xi Jinping, durante o seu discurso na segunda sessão da 19ª Cúpula do G20, realizada nesta segunda-feira (18) no Rio de Janeiro (RJ), destacou a urgência de as lideranças globais presentes ao evento apoiem as Nações Unidas e o seu Conselho de Segurança a desempenhar um papel maior, e apoiar todos os esforços conducentes à solução pacífica de crises.
"Para desescalar a crise na Ucrânia e buscar uma solução política, devemos seguir os princípios de não expansão do campo de batalha, não escalada dos combates e não inflamação da situação por qualquer parte", ressaltou.
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A fala de Xi coincidiu com os mil dias de conflito entre Ucrânia e Rússia, iniciado em 24 de fevereiro de 2022. Nos últimos dias, houve uma escalada alarmante das tensões (leia abaixo).
Apelo chinês ao Conselho de Segurança da ONU
Na mesma data, o representante permanente adjunto da China nas Nações Unidas, Geng Shuang, participou de uma reunião de alto nível do Conselho de Segurança da ONU que marcou os mil dias desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia.
O enviado chinês reiterou o apelo para resolver a crise na Ucrânia por meio do diálogo e da negociação, instando a comunidade internacional a apoiar esses esforços e criar condições favoráveis para conversas de paz.
Geng afirmou que os combates em terra têm intensificado a crise humanitária e ampliado os efeitos colaterais globais. No entanto, ele observou o aumento da demanda mundial por paz.
O diplomata pediu às partes em conflito que iniciem negociações de paz o mais cedo possível e apelou à comunidade internacional para oferecer apoio e criar condições propícias à reconciliação e ao diálogo.
Geng reafirmou a posição clara e consistente da China sobre a questão da Ucrânia, destacando que o país sempre defendeu a paz e o diálogo.
"Desde o início do conflito, a China enfatizou a importância de respeitar a soberania e a integridade territorial de todas as nações, aderir aos princípios da Carta da ONU, tratar das preocupações legítimas de segurança e apoiar esforços que contribuam para uma resolução pacífica", observou.
O diplomata ressaltou que a China tem mantido comunicação com a Rússia e a Ucrânia, participado ativamente de esforços diplomáticos e promovido o diálogo para alcançar uma solução política.
Proposta de paz China e Brasil
O presidente Xi, em seu discurso na Cúpula do G20, também reforçou a proposta de paz na Ucrânia liderada pela China e pelo Brasil e que teve a adesão de vários países do Sul Global.
"A China e o Brasil, junto com outros países do Sul Global, criaram o grupo de Amigos da Paz para abordar a crise da Ucrânia, cujo objetivo é reunir mais vozes que advogam a paz", disse.
A proposta de paz na Ucrânia forjada por Pequim e Brasília foi acordada em 23 de maio de 2024 pelo principal diplomata chinês, o chanceler Wang Yi, e pelo assessor especial para assuntos internacional do presidente Lula, Celso Amorim.
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O entendimento entre Brasil e China sobre a Ucrânia consiste em seis pontos:
1. Pedido para que todas as partes relevantes observem três princípios para desescalar a situação:
- não expandir o campo de batalha,
- não escalar os combates e
- não provocar nenhuma das partes.
2. Defesa do diálogo e negociação como única solução viável para a crise na Ucrânia.
- Todas as partes devem criar condições para a retomada do diálogo direto e impulsionar a desescalada da situação até a realização de um cessar-fogo abrangente.
- China e Brasil apoiam uma conferência internacional de paz realizada em momento adequado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes, bem como discussão justa de todos os planos de paz.
3. Necessidade de esforços para aumentar a assistência humanitária às regiões relevantes e prevenir uma crise humanitária em maior escala.
- Ataques contra civis ou instalações civis devem ser evitados, e os civis, incluindo mulheres e crianças
- Prisioneiros de guerra (POWs, da sigla em inglês) devem ser protegidos. As duas partes apoiam a troca de POWs entre as partes em conflito.
4. Condena o uso de armas de destruição em massa, particularmente armas nucleares, químicas e biológicas.
- Todos os esforços possíveis devem ser feitos para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma crise nuclear.
5. Condena ataques a usinas nucleares e outras instalações nucleares pacíficas.
- Todas as partes devem cumprir o direito internacional, incluindo a Convenção sobre Segurança Nuclear, e prevenir resolutamente acidentes nucleares provocados pelo homem.
6. Condena a divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados.
- As duas partes pedem esforços para melhorar a cooperação internacional em energia, moeda, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infraestrutura crítica, incluindo oleodutos e gasodutos, cabos ópticos submarinos, instalações de eletricidade e energia e redes de fibra óptica, a fim de proteger a estabilidade das cadeias globais de suprimentos e industriais.
Novo patamar do conflito
O conflito entre Rússia e Ucrânia atingiu um novo patamar de gravidade. Kiev usou seis mísseis balísticos ATACMS para atacar a região russa de Bryansk, informou o Ministério da Defesa russo nesta terça-feira (19)
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O ataque ocorreu dois dias após a autorização dos Estados Unidos para o uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia contra alvos em território russo, segundo reportagem publicada no último domingo (17) pelo The New York Times.
A autorização veio diretamente da Casa Branca, sob a liderança de Joe Biden, faltando menos de dois meses para sua saída do cargo. Donald Trump, que assumirá a presidência, prometeu encerrar o conflito como um dos pilares de sua campanha.
Fornecidos por Washington, os mísseis têm como alvos iniciais forças russas posicionadas na região de Kursk, no oeste da Rússia. Essa autorização permite à Ucrânia ampliar significativamente seu alcance militar, potencialmente atingindo grandes centros urbanos como Moscou e São Petersburgo.
Os mísseis autorizados têm capacidade de alcançar grandes centros urbanos como Moscou e São Petersburgo, tem sido interpretado pela Rússia como uma declaração de guerra pela OTAN.
Enquanto isso, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, intensificou seus pedidos por apoio militar adicional de Washington, incluindo a autorização para ataques em solo russo.
O New York Times também mencionou relatos de supostas tropas norte-coreanas estacionadas em Kursk, que poderiam ser um dos alvos estratégicos dos ataques. No entanto, a presença de forças norte-coreanas não foi confirmada por autoridades da Rússia ou da Coreia do Norte.
Putin autoriza uso de armas nucleares
O presidente russo, Vladimir Putin, assinou nesta terça-feira (19) um decreto que amplia os cenários em que a Rússia pode recorrer ao uso de armas nucleares, em uma decisão que eleva ainda mais as tensões globais.
A nova resolução autoriza o uso de armas atômicas contra qualquer “agressão” de um Estado não nuclear que tenha o apoio ou a participação de um país nuclear.
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O decreto estabelece que uma resposta nuclear será possível em casos de:
- Ameaça crítica à soberania da Rússia, mesmo com armas convencionais;
- Ataques à Bielorrússia, como membro do Estado da União com a Rússia;
- Agressões massivas, incluindo o lançamento de aeronaves militares, mísseis de cruzeiro, drones e outros meios que cruzem a fronteira russa.
Além disso, o documento define as ameaças militares que podem justificar a dissuasão nuclear, incluindo ações contra a Rússia ou seus aliados por "potenciais inimigos".
Terceira Guerra Mundial
A medida intensifica o alerta internacional, ampliando os temores de uma confrontação nuclear em meio ao agravamento das tensões entre a Rússia e o Ocidente. A comunidade internacional observa com preocupação os desdobramentos, que podem aprofundar a crise e levar o conflito a um nível sem precedentes.
Putin já havia alertado em setembro que qualquer ataque ao território russo reconhecido internacionalmente, realizado com armamento fornecido pela OTAN, seria considerado uma declaração de guerra contra o bloco militar. A decisão de Washington aumenta os riscos de uma confrontação direta entre a Rússia e o Ocidente.
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Dmitri Medvedev, ex-presidente e vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, classificou a situação como o início da "Terceira Guerra Mundial". Ele afirmou que o uso de mísseis fornecidos pela OTAN dá à Rússia o direito de realizar ataques retaliatórios com armas de destruição em massa contra Kiev e instalações estratégicas da aliança militar ocidental.
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