CHINA EM FOCO

China avança na mediação pela paz entre Rússia e Ucrânia

Principal diplomata chinês, Wang Yi, recebe o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, e conversa sobre proposta de paz desenhada por Brasília e Pequim

Créditos: MFA - Chanceler chinês, Wang Yi, recebe homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba
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Os ministros de Relações Exteriores da China, Wang Yi, e da Ucrânia, Dmytro Kuleba, se reuniram nesta quarta-feira (24) em Guangzhou, cidade do sul da potência asiática, para uma rodada de conversas bilaterais. Entre os assuntos abordados esteve a guerra contra a Rússia, que se prolonga desde fevereiro de 2022 e entrou em seu terceiro ano.

Principal diplomata chinês, o chanceler Wang reafirmou o compromisso da China com uma solução política para a crise, baseada nos princípios propostos pelo presidente Xi Jinping e nos seis entendimentos comuns desenvolvidos com o Brasil, que enfocam na desescalada do conflito e na proteção humanitária.

"A China acredita que a resolução de todos os conflitos deve, em última instância, começar com um retorno à mesa de negociação, e a resolução de todas as disputas deve ser alcançada por meios políticos. Recentemente, tanto a Rússia quanto a Ucrânia sinalizaram, em graus variados, sua disposição para negociar. Embora as condições e o momento ainda não estejam maduros, apoiamos todos os esforços que contribuam para a paz", disse o diplomata chinês.

Wang frisou que os entendimentos comuns representam o terreno comum mais amplo da comunidade internacional e foram amplamente apoiados e endossado e também destacam a necessidade de prevenir riscos nucleares e proteger a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos.

A China, prosseguiu o chanceler, acredita que todos os conflitos devem ser resolvidos, em última instância, na mesa de negociação, e as soluções para qualquer disputa só podem ser encontradas por meios políticos.

"Continuaremos a desempenhar um papel construtivo para possibilitar um cessar-fogo e a retomada das conversas de paz. A China se preocupa com a situação humanitária na Ucrânia e continuará a fornecer suprimentos de ajuda humanitária", destacou Wang.

Kuleba comentou que a Ucrânia valoriza os esforços de paz da China e acrescentou que as negociações com a Rússia devem ser "racionais e significativas" para alcançar uma paz justa e duradoura.

"A Ucrânia atribui importância às visões da China e examinou de perto os seis entendimentos comuns emitidos pela China e pelo Brasil sobre a solução política da crise na Ucrânia. A Ucrânia está disposta e pronta para dialogar e negociar com a Rússia. E claro, as negociações devem ser racionais, substanciais e visar alcançar uma paz justa e duradoura",afirmou Kuleba.

Parceria estratégica

MFA - Delegação de diplomatas da china recebe homólogos ucranianos em Guangzhou

O encontro entre os diplomatas da China e da Ucrânia marca um passo significativo no fortalecimento das relações entre os dois países. A reunião, realizada em um momento de tensões globais, reflete a profunda amizade e cooperação que caracterizam as relações sino-ucranianas, consolidadas por mais de uma década de parceria estratégica.

Durante as discussões, Wang enfatizou a importância da continuidade da cooperação e do entendimento mútuo. "China e Ucrânia não são apenas parceiros estratégicos, mas também amigos que se respeitam e tratam como iguais", declarou. Ele relembrou que ambos os países devem encarar suas relações bilaterais com uma visão de longo prazo, promovendo a confiança mútua e o intercâmbio cultural.

A conversa também tocou em pontos cruciais da modernização da China e como isso pode beneficiar globalmente, incluindo a Ucrânia, um dos primeiros países a participar da Nova Rota da Seda, a Iniciativa Cinturão e Rota. 

"A China permanece como o maior parceiro comercial da Ucrânia, e nosso comércio bilateral cresce rapidamente, mostrando grande potencial para futuras cooperações", comentou Wang.

O chanceler chinês também expressou gratidão pela assistência da Ucrânia durante a evacuação de cidadãos chineses no início do conflito ucraniano.

Uma só China

Kuleba observou que China e Ucrânia são parceiros estratégicos e importantes parceiras econômicas e comerciais. A Ucrânia apoia a posição da China sobre a questão de Taiwan e permanecerá comprometida com o princípio de "Uma só China".

"A Ucrânia espera trabalhar com a China para implementar os importantes entendimentos comuns entre os dois presidentes, cimentar a confiança política mútua, ativar a cooperação em áreas como comércio e agricultura, e fortalecer as trocas subnacionais e entre cidades irmãs", disse Kuleba

Essa foi a primeira visita oficial de Kuleba, principal diplomata de Kiev, à China desde o início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022.

Ambos os líderes também discutiram questões internacionais e regionais de interesse mútuo, prometendo continuar a comunicação e os esforços conjuntos.

Entendimento entre Brasil e China sobre a Ucrânia

A proposta de paz defendida por China e Brasil está baseada na defesa do diálogo e da negociação como única solução viável para a crise na Ucrânia. Os dois países apoiam uma conferência internacional de paz realizada em momento adequado, que seja reconhecida tanto por Moscou quanto por Kiev, com participação igualitária de todas as partes, bem como discussão justa de todos os planos de paz.

Esse foi o entendimento foi costurado em maio deste ano entre o chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, e principal diplomata chinês, o ministro das Relações Exteriores Wang Yi, que também integra o Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh).

Confira os principais pontos dessa proposta de paz defendida por Brasília e Pequim:

1. Pedido para que todas as partes relevantes observem três princípios para desescalar a situação:

  • não expandir o campo de batalha,
  • não escalar os combates e
  • não provocar nenhuma das partes.

2. Defesa do diálogo e negociação como única solução viável para a crise na Ucrânia.

  • Todas as partes devem criar condições para a retomada do diálogo direto e impulsionar a desescalada da situação até a realização de um cessar-fogo abrangente.
  • China e Brasil apoiam uma conferência internacional de paz realizada em momento adequado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes, bem como discussão justa de todos os planos de paz.

3. Necessidade de esforços para aumentar a assistência humanitária às regiões relevantes e prevenir uma crise humanitária em maior escala.

  • Ataques contra civis ou instalações civis devem ser evitados, e os civis, incluindo mulheres e crianças
  • Prisioneiros de guerra (POWs, da sigla em inglês) devem ser protegidos. As duas partes apoiam a troca de POWs entre as partes em conflito.

4. Condena o uso de armas de destruição em massa, particularmente armas nucleares, químicas e biológicas.

  • Todos os esforços possíveis devem ser feitos para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma crise nuclear.

5. Condena ataques a usinas nucleares e outras instalações nucleares pacíficas.

  • Todas as partes devem cumprir o direito internacional, incluindo a Convenção sobre Segurança Nuclear, e prevenir resolutamente acidentes nucleares provocados pelo homem.

6. Condena a divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados.

  • As duas partes pedem esforços para melhorar a cooperação internacional em energia, moeda, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infraestrutura crítica, incluindo oleodutos e gasodutos, cabos ópticos submarinos, instalações de eletricidade e energia e redes de fibra óptica, a fim de proteger a estabilidade das cadeias globais de suprimentos e industriais.

Brasil e China acolhem os membros da comunidade internacional para apoiar e endossar os entendimentos comuns e desempenharem conjuntamente um papel construtivo na desescalada da situação e na promoção de negociações de paz.