CHINA EM FOCO

EUA mandam e Taiwan deixa de vender chips avançados para a China

Maior fabricante da tecnologia do mundo, a TSMC, localizada na ilha chinesa, acata determinação de Washington e interrompe envio de componentes usados para inteligência artificial

Donald Trump e Xi Jinping.Donald Trump conversa com Xi Jinping. Ambos estão sentados em um sofá no resort Mar-a-Lago, na Flórida, Estados Unidos, em 6 de abril de 2017. Créditos: Xinhua
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Os EUA ordenaram que uma das mais importante empresas de tecnologia do mundo, a Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC), com sede na ilha de chinesa de Taiwan, interrompa o envio de chips avançados para clientes da China, frequentemente utilizados em aplicações de inteligência artificial (IA), a partir da próxima segunda-feira (18).

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As informações são da Reuters, que noticia que o Departamento de Comércio dos EUA enviou uma carta à TSMC impondo restrições de exportação a certos chips sofisticados, de 7 nanômetros ou designs mais avançados, destinados à China, que são usados em aceleradores de IA e unidades de processamento gráfico (GPU).

O governo chinês comentou que a medida adotada pelas autoridades do Partido Progressista Democrático (DPP, da sigla em inglês) de Taiwan prejudica os negócios locais ao obstruir a cooperação entre as duas margens do Estreito de Taiwan, alinhada à agenda de "desacoplamento" defendida por Washington. 

A declaração de Pequim foi feita nesta quarta-feira (13), durante coletiva de imprensa do Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado. A porta-voz Zhu Fenglian, destacou que a promoção da cooperação industrial entre as duas margens do Estreito de Taiwan beneficia o desenvolvimento dos negócios e melhora o bem-estar de ambos os lados.

Carta de Taiwan 

A porta-voz comentou que essa medida da TSMC reforça que Washington sacou a ‘carta de Taiwan’ para intensificar as tensões no Estreito de Taiwan e com o objetivo de conter a China. 

“Na tentativa de se apoiar em forças externas para buscar a "independência de Taiwan", as autoridades do DPP seguiram cegamente os EUA, promovendo o "desacoplamento e desconexão", criando barreiras artificiais à cooperação industrial entre as duas margens, observou Zhu.

Essa abordagem prejudica, em última análise, os interesses das empresas de Taiwan, enfraquece a competitividade dos setores industriais locais e faz com que Taiwan perca oportunidades futuras de desenvolvimento industrial, finalizou a porta-voz. 

O que é desacoplamento

O desacoplamento, tradução da expressão em inglês decoupling, refere-se à política que vem sendo adotada pelos Estados Unidos no relacionamento comercial com a China para reduzir a interdependência econômica e tecnológica entre as duas maiores economias do mundo.

Washington tem impulsionado esse movimento sob a justificativa de questões de segurança nacional, disputas comerciais e preocupações com espionagem e direitos humanos, o que tem promovido mudanças significativas em diversos setores, incluindo tecnologia, comércio e investimentos.

Já Pequim considera essa estratégia prejudicial tanto para as economias dos dois países quanto para a estabilidade econômica global. 

Autoridades chinesas afirmam que o decoupling representa um retrocesso para as relações econômicas e comerciais bilaterais e alertam que tal movimento resultaria em graves consequências para cadeias de suprimento e para o crescimento global.

A China enxerga o desacoplamento como um esforço dos Estados Unidos para conter o desenvolvimento chinês e interferir em sua economia, ao mesmo tempo em que alerta que essa abordagem intensificaria tensões geopolíticas e poderia gerar instabilidade para ambos os países. 

Em resposta, a China tem se posicionado em defesa do comércio livre e aberto por meio da promoção do multilateralismo e integração econômica, além de encorajar uma cooperação global mais ampla.

Fator Trump

Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, as perspectivas para o processo de desacoplamento entre a China e os EUA tendem a se intensificar.

Durante seu primeiro mandato na Presidência (2017-2021), Trump adotou uma abordagem de confronto com Pequim, com imposição de tarifas altas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses, restrições ao comércio e ações para separar as cadeias de suprimento entre os dois países.

A volta do republicano ao poder tem potencial para aumentar ainda mais as tarifas existentes e as restrições ao comércio como uma tentativa de reverter o que ele considerava desequilíbrios comerciais. Ele pode continuar com a ideia de que o desacoplamento econômico ajuda a reduzir a dependência dos EUA em relação à China.

Em sua administração, Trump liderou esforços para bloquear empresas chinesas, como a Huawei, do acesso ao mercado estadunidense e às tecnologias sensíveis, como semicondutores e redes 5G

A volta de Trump pode acelerar essa política de bloqueio às empresas chinesas, com mais medidas de separação no setor tecnológico, além de investimentos em alternativas ao fornecimento de componentes críticos em busca de reduzir o controle chinês sobre as cadeias de suprimento globais.

EUA primeiro 

Trump também defende o "America First" (EUA primeiro, em tradução livre) e se retirou de vários acordos internacionais que considerava desfavoráveis aos EUA, como o Acordo de Paris sobre o clima e a Parceria Transpacífica (TPP, da sigla em inglês). 

A TPP foi um acordo de livre comércio entre 12 países da região do Pacífico, incluindo Estados Unidos, Japão, Canadá, Austrália e outros países da Ásia e das Américas. O objetivo era reduzir tarifas e barreiras comerciais, estabelecer padrões comuns e promover o comércio e investimentos entre os países membros. 

Com a saída dos EUA do TPP em 2017, os outros 11 países renegociaram o tratado, que passou a se chamar Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP, da sigla em inglês).

O Acordo de Paris é um tratado internacional assinado em 2015 durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21) em Paris. O objetivo principal é limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para manter o aumento em até 1,5°C. 

Para alcançar essa meta, os países signatários se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, aumentar a resiliência aos impactos climáticos e investir em soluções sustentáveis. O acordo também incentiva a cooperação internacional e o financiamento para países em desenvolvimento na implementação de ações climáticas.

Desacoplamento deve acelerar

Com o retorno de Trump, o desacoplamento tende a ser parte de uma política mais ampla de isolamento econômico para fortalecer a ideia de que os EUA devem operar de forma mais autônoma e proteger seus interesses econômicos.

O processo de desacoplamento pode resultar em uma fragmentação maior das economias globais. A China e os EUA poderiam se tornar mais isolados um do outro, com suas economias seguindo caminhos divergentes. 

A política de Trump pode intensificar essa separação, criando mais obstáculos para o comércio e aumentando a incerteza para empresas globais que dependem da cooperação entre os dois maiores mercados do mundo.

Reação chinesa

Com o regresso de Trump, a expectativa é de que a China responda às políticas de retaliação mantendo uma postura firme contra os esforços de desacoplamento. 

O governo chinês tem se posicionado contra a tentativa de isolamento da sua economia e buscado diversificar seus parceiros comerciais e fortalecer sua presença em outras regiões, como na Ásia, África e América Latina.

Fatura para a economia global

O desacoplamento pode afetar empresas globais que dependem da produção conjunta na China e nos EUA. As companhias que operam nessas cadeias de suprimento podem precisar adaptar suas operações para lidar com as novas políticas de tarifas e restrições, o que pode aumentar os custos e reduzir a eficiência da produção global.

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