CHINA EM FOCO

China rebate EUA sobre entrada do Brasil na Nova Rota da Seda

Embaixada chinesa no Brasil publica duro comunicado para enquadrar falar de representante de Washington que alertou para "riscos" da adesão brasileira à iniciativa liderada por Pequim

Créditos: Reprodução YouTube Bloomberg - Embaixada da China rebate fala de Katherine Tai, epresentante de Comércio dos Estados Unidos, sobre Nova Rota da Seda.
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A China rebateu com firmeza os comentários feitos por uma alta autoridade dos Estados Unidos durante visita ao Brasil. A representante de Washington fez observações classificadas pela diplomacia chinesa como "irresponsáveis" a respeito da possível adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota, a Nova Rota da Seda, um projeto global de infraestrutura e investimentos liderado pela potência asiática.

O porta-voz da Embaixada chinesa chamou as fala da enviada do governo dos EUA como uma falta de respeito ao Brasil e ressaltou que o país é soberano e não precisa ser instruído por outras nações sobre suas escolhas de cooperação internacional.

"O Brasil merece ser respeitado. É uma grande nação que defende sempre sua independência e tem grande projeção internacional", afirmou a Embaixada.

A China destacou que a cooperação sino-brasileira, ao longo de mais de 50 anos de relações diplomáticas, tem sido mutuamente benéfica, contribuindo para o desenvolvimento econômico de ambos os países.

A declaração destacou que a China é o maior parceiro comercial e a principal fonte de superávit comercial do Brasil. A Embaixada questionou a visão de que essa parceria representaria um risco: "Essa visão contraria os fatos e a lógica básica", apontou.

A Iniciativa Cinturão e Rota, segundo a China, busca promover a globalização inclusiva e cooperação internacional baseada no respeito mútuo e na consulta conjunta.

"Diferentemente de certas pessoas, jamais coagiríamos nossos amigos a abandonarem parceiros específicos para se juntarem a nós", reforçou a Embaixada, em uma clara crítica à postura americana.

Por fim, o comunicado reafirmou o compromisso da China com o fortalecimento das relações bilaterais com o Brasil para trazer benefícios concretos para os dois países e contribuir positivamente para a comunidade internacional.

A resposta da China ocorre em meio a um cenário de tensões geopolíticas, com os Estados Unidos e a China em disputa por influência sobre economias emergentes, como a do Brasil, que ainda não tomou uma decisão definitiva sobre sua participação na Iniciativa Cinturão e Rota.

Leia aqui a nota da Embaixada da China no Brasil na íntegra.

Entenda a declaração dos EUA

O pronunciamento chinês ocorreu em resposta a declarações feitas pela representante de Comércio dos Estados Unidos, Katherine Tai. A fala dela foi feita na quarta-feira (23), durante evento promovido pela Bloomberg Media, em São Paulo (SP), que discutiu a crescente disputa geopolítica entre EUA e China.

"O Brasil deve realmente pensar sobre qual é o melhor caminho para aumentar a resiliência de sua economia", disse Tai.

Ela ainda destacou a necessidade de uma "lente objetiva" e "gerenciamento de riscos" ao avaliar possíveis parcerias comerciais.

“Soberania é fundamental, e essa é uma decisão do governo brasileiro. Mas eu encorajaria meus amigos no Brasil a olhar a proposta com as lentes da objetividade, com as lentes da gestão de risco”, afirmou Tai.

Adesão do Brasil à Nova Rota da Seda

O governo Lula está diante da decisão se vai ou não aderir à Nova Rota da Seda, o ambicioso projeto de infraestrutura e desenvolvimento lançado pela China em 2013 e que é oficialmente chamado de Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês).

O objetivo da BRI é fortalecer as ligações comerciais entre a China e mais de 140 países com investimento em projetos como estradas, ferrovias, portos, aeroportos e parques industriais. O foco está em regiões da Ásia, Europa, África e América Latina e o plano é expandir a influência econômica e política da potência globalmente, facilitar o comércio internacional e impulsionar o desenvolvimento econômico.

Até o momento, o projeto já gerou 2 trilhões de dólares em contratos e abrange investimentos em infraestrutura, energia e tecnologia. Para muitos países, a adesão à iniciativa representa uma oportunidade de acesso a financiamentos e desenvolvimento, embora existam preocupações sobre a dependência financeira em relação à China e os impactos nas indústrias locais.

O presidente da China, Xi Jinping, estará no Brasil para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, e sua visita a Brasília é vista como uma oportunidade para fortalecer laços com o gigante asiático. Há expectativa se haverá ou não adesão brasileira à Nova Rota da Seda.

A cautela prevalece no Planalto, onde a ideia é evitar uma adesão "automática" à Nova Rota da Seda e priorizar o interesse brasileiro e proteger setores estratégicos da economia.

A ala política, que inclui o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa; o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, e a ex-presidenta Dilma Rousseff, defende fortemente a adesão do Brasil à iniciativa chinesa.

Dilma é a voz mais ativa em defesa da entrada do Brasil na Nova Rota da Seda. Ela atualmente à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o Banco do BRICS, em Xangai. Ela acredita que o Brasil deve aproveitar as oportunidades oferecidas pela parceria com a China, especialmente no que diz respeito a investimentos em infraestrutura.

Por outro lado, a ala econômica se mostra mais cautelosa. Liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, a equipe econômica sugere que a adesão à Rota da Seda inclua condicionantes, como a transferência de tecnologia e a proteção da produção industrial nacional. A preocupação é evitar que o acordo beneficie desproporcionalmente a China, ampliando as desigualdades comerciais.

Pressão de setor da indústria nacional

A indústria brasileira, por meio da Coalizão Indústria, manifestou suas preocupações em relação à possível adesão do Brasil à Nova Rota da Seda. Formada por diversas entidades e associações de setores como siderurgia, manufatura, química e alimentos, a coalizão alerta para os impactos negativos que o acordo pode ter sobre a competitividade da indústria nacional.

O grupo teme que a entrada do Brasil na iniciativa amplie a desigualdade comercial com a China, levando a uma "concorrência desleal" em setores estratégicos e resultando na perda de empregos. Empresários argumentam que, embora o projeto possa trazer benefícios em infraestrutura e financiamento, é essencial que o país negocie condições que incluam a transferência de tecnologia e mecanismos de proteção à indústria nacional.

A pressão da coalizão reforça a importância de o governo brasileiro considerar cuidadosamente as implicações econômicas e estratégicas antes de aderir ao projeto chinês, especialmente em um cenário de crescente dependência comercial com a China.

Benefícios estratégicos e econômicos

Caso decida aderir à Nova Rota da Seda, o Brasil poderá acessar recursos financeiros significativos para grandes projetos, como portos, rodovias e ferrovias, além de oportunidades em áreas como energia e tecnologia. Esses investimentos prometem melhorar a competitividade do país no cenário internacional.

A parceria com a China, principal parceiro comercial do Brasil, também abriria portas para a ampliação das exportações brasileiras, especialmente de commodities agrícolas e minerais, fortalecendo ainda mais as relações comerciais entre os dois países.

Além disso, a adesão permitiria ao Brasil diversificar suas fontes de financiamento, reduzindo a dependência de mercados ocidentais e obtendo melhores condições de crédito para o desenvolvimento de infraestrutura.

A colaboração com a China também pode facilitar a transferência de tecnologia em áreas estratégicas como energias renováveis e telecomunicações, ajudando a modernizar o parque industrial brasileiro.

A participação na Nova Rota da Seda é vista como uma oportunidade para o Brasil fortalecer sua posição em um mundo multipolar, assumindo um papel mais ativo em questões globais e nas discussões sobre governança do comércio internacional.

O governo brasileiro considera a adesão como uma forma de financiar obras dentro do Novo PAC, ampliando a competitividade e impulsionando o crescimento econômico.

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