CHINA EM FOCO

Número de bilionários despenca na China; entenda o porquê

Quantidade de pessoas com patrimônio superior a 400 bilhões de reais da potência asiática cai em 12% e a riqueza total desses super-ricos reduz 10% em um ano

Créditos: Reprodução Lista Hurun 2024 - Três homens mais ricos da China: Zhang Yiming, do TikTok; Zhong Shanshan, da Nongfu Spring; e Pony Ma Huateng, da Tencent
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O número de bilionários da China - pessoas com patrimônio superior a 400 bilhões de reais (5 bilhões de yuans | 700 milhões de dólares) - caiu em 12% este ano. Houve também redução da riqueza desses indivíduos em 10% no mesmo período.

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Os dados são do Instituto de Pesquisas Hurun que mostra que a lista de super-ricos da China conta com 1.094 bilionários, 147 nomes a menos do que a relação a 2023. A riqueza total dos empreendedores da lista também encolheu, com um encolhimento de  3 trilhões de dólares (cerca de 17,1 trilhões de reais).

A lista Hurun mostra que há 1.094 indivíduos com mais de 5 bilhões de yuans de patrimônio, considerados bilionários na China. Mas essas pessoas não necessariamente são bilionários em dólares.

O número de bilionários em dólares caiu em 142, totalizando 753. Desde o pico de 2021, quando a China registrou 1.185 bilionários, o país perdeu 432, o equivalente a mais de um terço de sua elite financeira. No entanto, o número de bilionários ainda é 21% maior do que há cinco anos.

Por que o número de bilionários tem caído na China

A redução do número de bilionários na China, conforme aponta a Lista Hurun está relacionada a uma série de fatores econômicos e políticos que, combinados, criaram um cenário mais desafiador para os bilionários chinesas e levaram à redução de fortunas e ao desaparecimento de muitos nomes da lista de super-ricos.

Desaceleração econômica

A economia chinesa enfrentou desafios significativos nos últimos anos, incluindo a desaceleração do crescimento, queda na demanda interna e internacional, além de uma política mais rigorosa do governo em alguns setores. A redução da atividade econômica impactou diretamente os lucros de várias empresas, especialmente em setores como imobiliário e tecnologia, o que levou à queda nas fortunas de muitos bilionários.

Regulamentação mais rigorosa

O governo chinês adotou medidas mais rígidas de regulamentação em áreas como tecnologia, educação privada e finanças. Esse movimento, visto como uma tentativa de controlar grandes conglomerados e evitar monopólios, teve um impacto negativo sobre empresas como a Alibaba e o setor de tecnologia em geral, que anteriormente lideravam a criação de novas fortunas.

Problemas no setor imobiliário

O setor imobiliário chinês, que foi uma das principais fontes de riqueza nas últimas décadas, está em crise devido à alta alavancagem financeira, endividamento excessivo e desaceleração nas vendas de imóveis. Grandes empresas imobiliárias, como o grupo Evergrande, enfrentaram dificuldades, e muitas fortunas relacionadas ao setor foram severamente reduzidas.

Queda nas ações e flutuações no mercado

As bolsas de valores chinesas tiveram um desempenho fraco, com quedas significativas em Shenzhen, Hong Kong e Xangai. Isso impactou diretamente a riqueza de muitos empresários, especialmente aqueles cujas fortunas estão atreladas ao valor das ações de suas empresas. A desvalorização do yuan em relação ao dólar também contribuiu para a redução do valor das fortunas quando medidas em dólares.

Concorrência internacional e tensões comerciais

A intensificação da competição global, especialmente no setor de tecnologia, além das tensões comerciais com os Estados Unidos e a União Europeia, afetou o desempenho de empresas chinesas, principalmente aquelas focadas em exportações ou que dependem de tecnologias estrangeiras. Barreiras comerciais e disputas por tarifas, como as que afetam veículos elétricos, também contribuíram para o declínio das fortunas.

Mudanças nas políticas de redistribuição de riqueza

O governo chinês tem buscado reduzir a desigualdade social, promovendo iniciativas de "prosperidade comum", o que inclui pressão para que os super-ricos contribuam mais com causas sociais e doem parte de suas fortunas. Essa política pode estar desencorajando a acumulação de riqueza em alguns setores.

Destaques da Lista Hurun

Dono do TikiTok na liderança

Zhang Yiming, de 41 anos, fundador da ByteDance, empresa dona do TikTok, assumiu o topo da lista com uma fortuna de 49,3 bilhões de dólares. Este é o primeiro ano que Yiming lidera o ranking, consolidando-se como o 18º bilionário mais rico da China nas últimas duas décadas. A ByteDance registrou um crescimento de 30% na receita global, atingindo 110 bilhões de dólares no ano passado, com quase 200 milhões de usuários do TikTok nos Estados Unidos.

"Rei na Água Engarrafada" perde liderança

O magnata da água engarrafada Zhong Shanshan, de 70 anos, conhecido como o "Rei da Água Engarrafada", perdeu o primeiro lugar pela primeira vez em três anos. Sua fortuna caiu para 47,9 bilhões de dólares, uma queda de 24% (ou 15,5 bilhões de dólares), a maior redução individual do ano. Essa perda está ligada a uma reação negativa em fevereiro contra sua empresa, a Nongfu Spring, enquanto sua outra principal fonte de riqueza, a Wantai BioPharm, teve um desempenho positivo no setor de diagnósticos de doenças infecciosas.

A Nongfu Spring é uma das maiores empresas de água engarrafada da China enfrentou críticas em fevereiro deste ano por sua extração de grandes volumes de água de fontes naturais em regiões sensíveis, como as montanhas de Zhejiang e Changbai, áreas conhecidas pela escassez de recursos hídricos.

A polêmica que impactou na fortuna do dono gira em torno de alegações de que a empresa estaria agravando a falta de água nessas regiões, impactando tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais. A repercussão negativa afetou a reputação da empresa e resultou em uma queda significativa no valor de suas ações, contribuindo para a perda da posição de Zhong como a pessoa mais rica da China.

Fundador da Tencent cai no ranking e aumenta riqueza

Pony Ma Huateng, fundador da Tencent, desceu para a terceira posição com uma fortuna de 44,4 bilhões de dólares, mas sua riqueza aumentou 13% em relação ao ano anterior. A Tencent viu suas receitas subirem 9,8%, enquanto os lucros aumentaram 36%, impulsionados pelo crescimento dos jogos da empresa no mercado internacional. A plataforma WeChat, controlada pela Tencent, atingiu a marca de 1,3 bilhão de usuários no ano passado.

Novos rostos em declínio

Em 2024, apenas 54 novos bilionários entraram na lista, o menor número em duas décadas. Taiwan foi o principal responsável por novos nomes, graças ao bom desempenho do mercado de ações e ao crescimento no setor de tecnologia. Entre os destaques estão Charlwin Mao Wenchao e Miranda Qu Fang, cofundadores do aplicativo de mídia social Xiaohongshu, e Zhou Shengfu, da plataforma de logística Huolala.

Concentração de empreendedores

Pequim ainda lidera como a cidade com o maior número de bilionários, mas pela margem mais estreita já registrada, apenas três nomes à frente de Xangai, que ultrapassou Shenzhen pela primeira vez desde 2013. Taipei subiu para o sexto lugar entre as cidades com maior concentração de bilionários.

Mulheres bilionárias

As mulheres representam 23,5% da lista, com 70% delas sendo "self-made", ou seja, construíram suas próprias fortunas. Kelly Zong Fuli, de 42 anos, filha do magnata da bebida Zong Qinghou, tornou-se a mulher mais rica da China pela primeira vez, superando Kwong Siu-ching.

Tendências e desafios

O Hurun China Rich List 2024 reflete as mudanças no cenário econômico chinês. Setores como tecnologia e produtos de consumo continuam a se destacar, enquanto o mercado imobiliário, uma das antigas forças do país, segue em declínio.

A entrada de novas fortunas no setor de tecnologia, como o fundador do TikTok, Zhang Yiming, é um indicativo claro de que a economia da China está se transformando, com uma nova geração de bilionários emergindo em setores inovadores e em rápido crescimento.

O relatório também revela que, embora a China continue a produzir novos bilionários, o ritmo diminuiu, e a riqueza acumulada por esses empresários está mais concentrada em setores específicos, como tecnologia, jogos eletrônicos e produtos farmacêuticos. A pressão econômica e as políticas comerciais globais têm moldado essa nova realidade para as elites financeiras do país.

Com a economia global cada vez mais interconectada, os efeitos dessa transformação na lista de bilionários chineses podem ter implicações significativas não só para o país, mas para o mercado internacional.

Acesse aqui a Lista Hurun na íntegra, em inglês.

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