A China declarou que "não reconhece nem aceita" a decisão final da União Europeia (UE) sobre a imposição de tarifas contra veículos elétricos (EVs) fabricados no país, e entrou com uma ação na Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a medida.
A declaração foi feita nesta quarta-feira (30) por meio de um comunicado e de uma coletiva de imprensa do Ministério do Comércio da China (MOFCOM), que também afirmou que o país adotará "todas as medidas necessárias" para proteger os direitos e interesses das empresas chinesas.
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A resposta de Pequim ocorre um dia depois de a Comissão Europeia anunciar a conclusão de sua investigação sobre subsídios e estabelecer tarifas definitivas por cinco anos sobre as importações de EVs chineses.
As tarifas variam de 17% para a BYD, 18,8% para a Geely e 35,3% para a estatal SAIC. Outras fabricantes chinesas, incluindo Volkswagen e BMW, estão sujeitas a uma taxa de 20,7%, enquanto a Tesla terá uma tarifa de 7,8%.
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Outros fabricantes chineses de EVs estarão sujeitos a uma tarifa média de 20,7%, com um máximo de 35,3% para aqueles considerados "não cooperativos". As tarifas entram em vigor nesta quarta-feira (30).
Protecionismo comercial disfarçado
O comunicado do Ministério do Comércio da China criticou a decisão final da UE sobre a investigação de subsídios aos veículos elétricos chineses, classificando-a como "injusta e protecionista".
Durante a coletiva de imprensa, o porta-voz do MOFCOM comentou que a investigação conduzida pela UE apresenta "muitas irregularidades" e é uma forma de protecionismo disfarçado de "concorrência justa". Ele reforçou China afirmou que continuará a adotar "todas as medidas necessárias" para proteger os direitos legítimos das empresas chinesas afetadas pelas tarifas impostas.
Apesar da disputa, Pequim destacou que está disposta a continuar as negociações sobre compromissos de preços com a União Europeia. As equipes técnicas de ambos os lados estão engajadas em uma nova fase de discussões, e o governo chinês espera que a UE adote uma postura "construtiva".
A China defende que as negociações devem seguir os princípios de pragmatismo e equilíbrio, com o objetivo de chegar a uma solução que atenda às preocupações de ambas as partes e evite a escalada das tensões comerciais.
Decisão arbitrária
A Câmara de Comércio da China para a União Europeia (CCCEU, da sigla em inglês) também expressou decepção com a decisão da Comissão Europeia, classificando-a como "arbitrária" e alertando sobre o impacto negativo nas negociações de preços entre as duas partes. A câmara afirmou que as tarifas "não fortalecem a resiliência da fabricação de EVs na UE, nem promovem a inovação ou a criação de empregos".
A CCCEU apelou para a suspensão das tarifas, enfatizando a necessidade de cooperação mútua e confiança. A organização também advertiu a UE a não negociar separadamente com empresas chinesas individuais, sugerindo que um acordo unificado, mediado pela Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Produtos Mecânicos e Eletrônicos (CCCME), promoveria uma concorrência justa e resultados equilibrados.
Com essa abordagem colaborativa, a CCCEU acredita que será possível alcançar um diálogo mais coeso e benéfico para todas as partes envolvidas, em conformidade com os princípios da OMC.
Tensão no comércio entre China e UE
Os veículos elétricos (EVs) são o mais recente foco de uma disputa comercial mais ampla sobre os subsídios do governo chinês. A União Europeia (UE) impôs novas tarifas sobre os carros elétricos importados da China a partir desta quarta-feira (30). As tarifas ficarão em vigor pelos próximos cinco anos, mas negociações entre a UE e a China devem continuar, e as tarifas podem ser suspensas caso um acordo seja alcançado.
A Comissão Europeia, braço executivo da UE, concluiu uma investigação de oito meses e determinou que as montadoras de carros elétricos na China se beneficiam de subsídios governamentais massivos, permitindo-lhes vender seus produtos a preços mais baixos do que os concorrentes europeus, ameaçando empregos na UE.
“Adotando essas medidas proporcionais e direcionadas após uma investigação rigorosa, estamos defendendo práticas de mercado justas e a base industrial europeia”, afirmou Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo da Comissão Europeia.
A Comissão decidiu agir após a participação dos carros elétricos chineses no mercado europeu saltar de 3,9% em 2020 para 25% em setembro de 2023. Segundo a investigação, as montadoras chinesas receberam apoio em todas as etapas da produção, desde terrenos baratos para fábricas até suprimentos abaixo do valor de mercado de lítio e baterias, além de incentivos fiscais e financiamento a juros baixos.
Essa rápida ascensão tem gerado temores de que os carros chineses possam prejudicar a capacidade da Europa de produzir suas próprias tecnologias verdes, necessárias para combater as mudanças climáticas, colocando em risco 2,5 milhões de empregos na indústria automotiva e 10,3 milhões em setores relacionados.
Embora a indústria automotiva europeia, especialmente na Alemanha, tenha se oposto às tarifas – já que muitas das montadoras afetadas, como Volkswagen e BMW, possuem fábricas na China –, a Comissão Europeia tomou a decisão sem uma reclamação formal do setor.
Reação da China
Pequim criticou duramente a investigação e as tarifas impostas, classificando-as como protecionistas e injustas. Em resposta, o Ministério do Comércio da China lançou suas próprias investigações de "antidumping" sobre as exportações europeias de produtos como conhaque, carne suína e laticínios. No início deste mês, a China anunciou tarifas provisórias de 30,6% a 39% sobre conhaques franceses e de outros países europeus.
As conversas entre UE e China têm focado em “compromissos de preço” como uma possível solução, onde as montadoras chinesas concordariam com um preço mínimo de venda para seus veículos elétricos na Europa. Algumas empresas chinesas, como a BYD, estão considerando construir fábricas na Europa para evitar tarifas e se aproximar do mercado.
Impacto para consumidores e montadoras europeias
Ainda não está claro como as tarifas afetarão os preços dos carros. As montadoras chinesas podem optar por absorver os custos reduzindo suas margens de lucro, em vez de aumentar os preços. Por exemplo, modelos da BYD, como o Seal U Comfort, ainda seriam lucrativos na Europa mesmo com uma tarifa de 30%, de acordo com o Rhodium Group.
Embora os consumidores europeus possam inicialmente se beneficiar de carros chineses mais baratos, a Comissão Europeia argumenta que permitir práticas desleais pode resultar em menos concorrência e preços mais altos no longo prazo.
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