CHINA EM FOCO

China e Índia têm espaço para cooperar na exploração da lua

Dois países fazem parte do seleto grupo de quatro nações que já estiveram em solo lunar e podem ampliar cooperação por meio do Brics e da Organização de Cooperação de Xangai

Créditos: ISRO/Reprodução
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Em uma missão histórica, a Índia chegou à Lua. O país asiático foi o primeiro a pousar perto do polo sul do satélite natural com a sonda Chandrayaan-3, um território desconhecido e desafiador que os cientistas acreditam poder conter reservas vitais de água congelada.

Com o feito, a Índia tornou-se o quarto país a ingressar no seleto clube de nações que realizaram pousos lunares, ao lado da China, Estados Unidos e da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Chineses celebram conquista indiana

Especialistas chineses saudaram o feito como representativo da crescente importância dos países em desenvolvimento no espaço e pediram que a Índia evite envolver esquemas geopolíticos na busca pelo avanço científico, uma vez que o espírito da ciência transcende as fronteiras nacionais e deve ser buscado em colaboração com atores de todo o mundo.

Um pequeno rover movido a energia solar chamado Pragyan deve rolar da sonda e passar um dia lunar (cerca de 14 dias terrestres) explorando sua nova morada, com o objetivo de coletar dados científicos sobre a composição da lua.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, celebrou o feito do país durante a Cúpula do Brics, em Joanesburgo, na África do Sul, em um discurso transmitido ao vivo.

Esse sucesso pertence a toda a humanidade e ajudará em futuras missões à lua de outros países.

Espaços para cooperação China e Índia

Especialistas chineses expressaram suas sinceras felicitações aos indianos e afirmaram que, uma vez que China e Índia  são economias emergentes e integrantes do Brics e da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, da sigla em inglês), há vasto espaço para cooperação entre os dois lados na exploração do espaço profundo e missões tripuladas, como compartilhamento de dados, compartilhamento de experiências e treinamento de astronautas.

O diretor do Instituto de Estudos Sul-Asiáticos do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China, Hu Shisheng, celebrou o feito dos indianos.

O espírito da ciência transcende fronteiras nacionais, uma vez que busca, em última instância, o bem-estar e o progresso de toda a humanidade. Apreciamos todos os esforços nesse sentido, independentemente de serem bem-sucedidos.

Desafios de pousar na lua

Pousar na lua é um empreendimento desafiador. Apenas poucos dias atrás, a sonda Luna-25 da Rússia colidiu com a lua, encerrando a primeira tentativa do país nesse sentido em meio século. A primeira tentativa da Índia de pousar na lua também falhou em setembro de 2019.

O polo sul lunar permaneceu uma região em grande parte desconhecida de imenso interesse para cientistas em todo o mundo, pois acredita-se que ele abrigue grandes quantidades de gelo de água, que, se acessível, poderia ser minerado para combustível de foguete e suporte de vida para futuras missões tripuladas, de acordo com a space.com.

A China também está de olho na região enquanto avança em seu projeto de exploração lunar. A missão Chang'e-7 está planejada para pousar no polo sul da lua por volta de 2026 e realizar pesquisas detalhadas para explorar traços de água, de acordo com o designer-chefe do programa.

Por volta de 2028, a estrutura básica da Estação de Pesquisa Lunar Internacional, coconstruída pela China e Rússia, será concluída na região do polo sul com o lançamento da missão Chang'e-8.

Comparando a tecnologia chinesa com o lado indiano, Pang Zhihao, um experiente especialista em espaço baseado em Pequim, disse que a China está muito mais avançada em vários aspectos.

Projeto espacial chinês

Em primeiro lugar, a China tem sido capaz de enviar orbitadores e sondas diretamente para a órbita de transferência Terra-Lua desde o lançamento da Chang'e-2 em 2010, uma manobra que a Índia ainda não conseguiu realizar dada a capacidade limitada de seus veículos de lançamento.

Portanto, a tecnologia chinesa permitiu que as missões à lua economizassem uma quantidade significativa de tempo e combustível. O motor que a China usou também é muito mais avançado, pois pode variar sua propulsão de 1.500 a 7.500 Newtons.

Além disso, o rover lunar da China é muito maior, pesando 140 quilogramas em comparação com os 26 quilogramas da Índia, observou Pang. O Pragyan da Índia não pode resistir às noites lunares e tem uma vida útil de apenas um dia lunar. Em contraste, o rover Yutu-2 da China detém o recorde de trabalhar por mais tempo na superfície lunar, pois é equipado com energia nuclear, permitindo operações de longa duração.

Enquanto a China abriu os braços para abraçar todas as partes interessadas em participar do programa espacial do país e recebeu grande quantidade de inscrições de todo o mundo, fatores geopolíticos surgiram para dificultar essa cooperação.

Projeto indiano no espaço

A conquista da Índia é notável e esse sucesso é fruto de esforços persistentes, marcados por tentativas anteriores, como a missão Chandrayaan-1, lançada em 2008, e a Chandrayaan-2, lançada em 2019.

A Chandrayaan-1 marcou o primeiro passo do país em direção à exploração lunar. Na ocasião, a sonda orbitou a Lua a uma distância de 100 km da superfície, coletando dados cruciais sobre a química, mineralogia e geologia lunar através de 11 instrumentos científicos. No entanto, após cumprir suas principais metas, a comunicação com a sonda foi perdida em 2009.

A Chandrayaan-2 adotou uma abordagem mais ambiciosa, almejando não apenas a órbita lunar, mas também um pouso suave em sua superfície. A missão conseguiu implantar um orbitador (um dispositivo projetado para realizar experimentos científicos programados), mas o módulo de pouso enfrentou problemas técnicos durante a etapa crítica de alunissagem, resultando em uma falha na aterrisagem.

O contato com a base foi perdido aproximadamente 20 minutos após o início do procedimento de pouso suave, que tinha como objetivo reduzir a velocidade do módulo para garantir uma chegada segura.

A Índia não somente pavimentou o caminho para o sucesso lunar através da Chandrayaan-3, mas também reforçou sua abordagem de um programa espacial de baixo custo. Ao contrastar com potências espaciais mais estabelecidas, como os Estados Unidos, por exemplo, o país demonstrou um modelo econômico e eficaz de engenharia espacial.

A missão Chandrayaan-3 foi executada com um orçamento modesto de cerca de 6,15 bilhões de rúpias (aproximadamente R$ 368 milhões), diferenciando-se dos valores exorbitantes associados a algumas missões internacionais.

De acordo com especialistas, a chave para esses custos reduzidos reside na capacidade do país de adaptar tecnologias espaciais já existentes e aproveitar sua abundante reserva de engenheiros altamente qualificados, que oferecem seus serviços a um custo mais acessível em comparação com seus colegas estrangeiros.

Esse comprometimento com a eficiência permitiu que a Índia desenvolvesse um programa espacial que conjuga avanço científico com responsabilidade orçamentária.

Com informações do Global Times