- Pequim condena veementemente a liberação no Oceano Pacífico e afirma que não há dados que mostrem que a ação é segura
- A operadora da usina, Tepco, diz que a água foi diluída e não é prejudicial
A China, maior mercado de exportação de frutos do mar do Japão, proibiu todos os produtos aquáticos japoneses em resposta ao despejo de água contaminada por uma usina nuclear destruída por um tsunami há 12 anos.
A Administração Geral das Alfândegas da China anunciou nesta quinta-feira (24) que a proibição imediata cobre todos os produtos aquáticos, incluindo produtos comestíveis, para "prevenir riscos do despejo de água contaminada por radioatividade do Japão" no Oceano Pacífico.
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Isso ocorre depois de Hong Kong, segunda apenas à China continental em importações de frutos do mar japoneses, ter anunciado uma proibição semelhante aos produtos marinhos de 10 prefeituras japonesas.
A China continental proibiu as importações de alimentos de 10 prefeituras japonesas em julho. O país asiático tem sido um crítico ferrenho do plano do Japão de despejar água contaminada dos destroços da usina nuclear de Fukushima Daiichi.
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O Ministério das Relações Exteriores disse que a China "condenou veementemente" a decisão de despejar a água e exigiu que o Japão "cesse o ato errado".
O Japão não deve infligir mais danos ao seu povo e ao mundo por causa de sua ganância.
China e Japão trocam acusações
A China acusou o Japão de tratar o oceano como um "esgoto", convocando o embaixador japonês na terça-feira "para fazer representações solenes" contra a medida há muito esperada.
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse nesta quinta-feira que seu governo havia exigido que a China "elimine imediatamente" sua proibição de importação de frutos do mar do Japão.
Nós apresentamos uma reclamação por meio de canais diplomáticos à China, instando-os a eliminar imediatamente [a proibição].
Um vídeo ao vivo também nesta quinta-feira mostrou um engenheiro da empresa operadora da usina, a Tokyo Electric Power Company (Tepco), clicando em um mouse para ativar uma bomba e iniciar a liberação de cerca de 1,34 milhão de metros cúbicos de água - o suficiente para encher cerca de 540 piscinas olímpicas - que estavam selados na usina desde que foi atingida em 2011.
Todo o processo de liberação deve ocorrer ao longo de 30 anos, com o primeiro despejo de 7.800 metros cúbicos levando cerca de 17 dias.
China diz que dados não são respaldados
A Tepco e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) prometeram realizar verificações adicionais na água. O Japão alega que precisa liberar a água porque a água da chuva continua infiltrando na usina, enchendo a área de armazenamento.
A Tepco afirmou também que a água residual liberada foi filtrada e diluída e não é prejudicial. A empresa interromperia o despejo se encontrasse alguma anormalidade. A AIEA afirmou anteriormente que a liberação teria um impacto "insignificante" no meio ambiente.
No entanto, o Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que a avaliação não estava respaldada por dados.
Não há evidências de que o equipamento de purificação seja confiável a longo prazo, e não há evidências de que os dados de poluição sejam precisos. Não há evidências de que o despejo no oceano seja seguro para o ambiente marinho e a saúde humana.
A diplomacia chinesa acrescentou que o governo chinês tomará todas as medidas para garantir a segurança alimentar e a saúde do povo chinês, além de intensificar a monitorização da radiação em suas áreas marítimas.
Conflito entre análises
Um elemento que não será filtrado da liberação é o trítio, uma substância radioativa. A Tepco afirmou que a radiação do trítio é fraca e não representará uma ameaça à saúde. A AIEA afirmou que fornecerá dados em tempo real online sobre o despejo e monitorará a situação no local.
Nesta quinta-feira, a análise independente in loco da AIEA confirmou que a concentração de trítio na água diluída que estava sendo liberada estava muito abaixo do limite operacional de 1.500 becquerels por litro.
No entanto, críticos como o Greenpeace afirmaram que há falta de dados a longo prazo sobre os impactos biológicos do trítio, bem como de outras substâncias radioativas, incluindo o carbono-14, estrôncio-90 e iodo-129, que serão liberados como parte do despejo.
Na terça-feira, Hong Kong impôs uma proibição indefinida às importações de frutos do mar japoneses de 10 prefeituras e disse que publicaria os resultados de testes diários em outros alimentos do país.
Hong Kong é o segundo maior mercado do Japão para exportações de produtos pesqueiros e importou cerca de 75,5 bilhões de ienes (US$ 536 milhões) em produtos de frutos do mar japoneses no ano passado.
A China continental importou 87,1 bilhões de ienes em produtos do mar do Japão no ano passado, sendo vieiras, pepinos-do-mar, bonito e atum alguns dos principais itens.
A Tepco afirmou nesta quinta-feira que começaria a aceitar inscrições a partir de 2 de outubro para compensação dos exportadores afetados pelo despejo no oceano.
A Federação Nacional das Associações Cooperativas de Pesca do Japão se opôs ao despejo, afirmando que isso prejudicaria seus negócios. "Nossa oposição ao despejo não mudou nem um pouco", disse a federação nesta quinta-feira.
Corrida de chineses por sal marinho
Na China continental, a notícia do despejo da água contaminada provocou uma corrida pelo sal marinho em alguns supermercados, incluindo em Fuzhou, na província de Fujian, e Yangzhou, na província de Jiangsu.
As autoridades municipais dessas cidades, bem como de Guangdong, pediram aos residentes que permanecessem calmos, afirmando que havia suprimentos suficientes.
Na Coreia do Sul, a polícia deteve 16 ativistas estudantis por supostamente tentarem entrar na embaixada japonesa para protestar contra o despejo. O governo sul-coreano afirmou que não há problema científico com o plano de despejo, mas o partido de oposição acusou o governo do presidente Yoon Suk-yeol de não cumprir seu dever.
As autoridades das Filipinas e de Taiwan não manifestaram oposição ao despejo, embora a indústria pesqueira tenha se oposto.
Com informações da SCMP