O Japão iniciou nesta quinta-feira (24) o despejo da água oriunda do desastre de Fukushima, outrora repleta radioatividade e agora tratada, no Oceano Pacífico. A água foi contaminada no acidente ocorrido em 2011 em decorrência de um tsunami que atingiu as ilhas japonesas. A ação recebeu críticas por parte de diplomatas chineses e ambientalistas.
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"O que o lado japonês fez foi empurrar os riscos para todo o mundo e transmitir a dor às futuras gerações de seres humanos. Ao tratar a libertação de águas residuais como um fato consumado, o lado japonês colocou-se simultaneamente no banco dos réus internacional."
Ministério das Relações Exteriores da China
Como ocorreu o despejo da água
A operadora da usina, Tepco (Tokyo Electric Power), inicou a liberação da água no Oceano Pacífico às 13h, no horário local (JST) – equivalente à uma da manhã no horário de Brasília (BRT). A operadora não identificou anormalidades com a água.
"Planejamos liberar a água por um período contínuo de 17 dias, 24 horas por dia. Se encontrarmos falhas no sistema ou tivermos problemas, suspenderemos a ação," diz nota da Tepco.
A água passou por um processo de purificação e remoção de elementos radioativos no Sistema Avançado de Processamento de Líquidos (ALPS, na sigla em inglês), com exceção do trítio. Conforme dados informados nos relatórios, o nível do composto na água era menor do que o limite permitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em seguida, a água é armazenada em tanques para dupla checagem dos níveis de radioatividade e, então, diluída com água do oceano em 100 etapas para minimizar a presença do trítio. A água tratada de Fukushima possui 1,5 mil becherel, enquanto o limite colocado pela OMS é de 10 mil bequerels por litro.
O histórico da contaminação
Em março de 2011, um tsunami atingiu a costa leste do Japão depois de um terremoto de escala 9,1. As águas do Oceano Pacífico eram usadas no resfriamento dos reatores da planta nuclear de Fukushima, porém acabaram contaminadas pela liberação de radioatividade após o colapso dos reatores.
A água contaminada está armazenada na planta de Fukushima a mais de uma década. As autoridades japonesas, no entanto, relataram que não havia mais como armazená-la e decidiram, em 2021, pelo despejo da água de volta ao Pacífico após tratamento de remoção dos elementos radioativos.
No seu último relatório, divulgado em julho deste ano, a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) aprovou o plano de despejo de água. Os cientistas e autoridades regulatórias concluíram que o Japão elaborou um planejamento de liberação gradual e controlada que segue as nomas internacionais de segurança.
"A IAEA observa que os despejos controlados e graduais da água tratada para o mar, tal como atualmente planeadas e avaliadas pela Tepco, teriam um impacto radiológico negligenciável nas pessoas e no ambiente," afirmou Rafael Mariano Grossi, Diretor-geral da IAEA
A reação das nações vizinhas
China
Diante do despejo, a GACC (Administração Geral de Aduanas da China, em português) anunciou a suspensão das importações de todos os produtos marinhos japoneses. A GACC é o órgão nacional responsável pela supervisão e gerenciamento de segurança dos alimentos importados e exportados.
O impacto econômico à indústria japonesa de alimentos marinhos é considerado "significativo" . No ano de 2022, a China importou mais de US$ 600 milhões em alimentos marinhos, valor mais alto do que qualquer país no mundo.
Em julho deste ano, a China havia banido a entrada de alimentos de dez subprefeituras do Japão, incluindo Fukushima e Tóquio. O GACC também passou a inspecionar todos os produtos japoneses, sobretudo os aquáticos, devido ao risco da radioatividade.
"De modo a prevenir os riscos de contaminação radiativa nos alimentos, proteger a saúde dos consumidores chineses e assegurar alimentos importados seguros [para consumo], a GAAC decidiu suspender, por completo, a importação de produtos aquáticos – incluindo animais marinhos vivos – do Japão a partir de 24 de agosto de 2023."
Hong Kong
Por sua vez, Hong Kong também já tinha suspendido as importações de produtos das dez subprefeituras no início da semana. Com investimento de US$ 520 bilhões no ano passado, a região passou a banir a importação do Japão na sua totalidade, com o despejo.
Coreia do Sul
No início da madrugada desta quinta-feira (24), 16 estudantes e manifestantes sul coreanos foram presos na tentativa de invadir a embaixada japonesa em Seul. Eles são contra a liberação do despejo da água tratada nas águas do oceano.
Na quarta-feira (23), o líder do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-Myung, declarou que o plano das autoridades japonesas se qualifica na extensão para o "terrorismo marinho" e a "segunda Guerra do Pacífico".
A população não é favorável à decisão. Uma votação realizada no mês de junho mostrou que 84% da população é contrária à liberação da água. Os coreanos chegaram a estocar sal e alimentos após a decisão do Japão.