CHINA EM FOCO

Chanceler chinês inicia turnê pelo sudeste asiático em contraponto a avanço dos EUA na região

Wang Yi, principal diplomata da China e ministro das Relações Exteriores, começa viagem para visitas a Singapura, Malásia e Camboja

Créditos: Getty Images - Wang Yi, principal diplomata chinês, inicia viagem por países do Sudeste Asiático
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  • Cooperação mais estreita e profunda esperada enquanto Wang Yi inicia turnê pelo Sudeste Asiático diante da divisão criada pelos EUA

O Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, deu início à uma turnê por três países do Sudeste Asiático nesta quinta-feira (10). O objetivo é fortalecer a comunicação estratégica em meio ao bom momento das relações China-Asean.

A Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) é uma organização intergovernamental regional que compreende dez países do sudeste asiático, que promove a cooperação intergovernamental e facilita a integração econômica, política, de segurança, militar, educacional e sociocultural entre seus membros e outros países da Ásia. Integram o grupo Tailândia, Filipinas,  Malásia,  Singapura,  Indonésia, Brunei, Vietnã, Myanmar, Laos e Camboja.

Wang, também membro do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e diretor do Escritório da Comissão de Assuntos Exteriores do Comitê Central do PCCh, vai visitar Cingapura, Malásia e Camboja de 10 a 13 de agosto a convite.

Especialistas chineses veem a turnê de Wang por três nações como um sinal de fortalecimento da cooperação e de construção de laços mais fortes com os países membros da Asean.

A visita de Wang também ocorre no contexto dos Estados Unidos criando tensões e divisões no Ásia-Pacífico, o que os especialistas acreditam destacar ainda mais a importância da solidariedade e da conectividade regional para evitar mal-entendidos causados por discórdias semeadas pelos EUA.

Acredita-se também que, diante dos desafios, qualquer ação que prejudique a estabilidade e a prosperidade regional será oposta pelos países da região.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, pontuou que Pequim espera que a visita:

  • fortaleça a comunicação estratégica com os três países do Sudeste Asiático
  • coloque em prática a nova caracterização das relações China-Singapura
  • alcance progressos sólidos na construção de uma comunidade com um futuro compartilhado com a Malásia e o Camboja
  • aprofunde a cooperação de alta qualidade na Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês)
  • eleve as relações bilaterais a novas alturas.

Mao disse ainda que a China está pronta para trabalhar com os três países para:

  • implementar a Iniciativa Global de Desenvolvimento, a Iniciativa Global de Segurança e a Iniciativa Global de Civilização
  • impulsionar a recuperação econômica
  • salvaguardar a paz e a estabilidade
  • aprofundar as trocas e o aprendizado mútuo
  • contribuir ainda mais para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento da região

China busca relação mais sólida na Ásia

Gu Xiaosong, diretor do Instituto de Pesquisa da Asean da Universidade Oceânica Tropical de Hainan, avalia que a visita de Wang é um sinal de que a China continuará a fortalecer a cooperação com os países membros da Asean e a construir uma relação ainda mais sólida.

Li Haidong, professor da Universidade de Assuntos Estrangeiros da China, acredita que 2023 é um ano significativo para a cooperação entre China e Asean, e um momento especial para promover os laços.

O ano de 2023 marca o 20º aniversário da adesão da China ao Tratado de Amizade e Cooperação no Sudeste Asiático (TAC) e o 10º aniversário de uma iniciativa para que a China trabalhe com os países membros da Asean para uma Rota da Seda Marítima do século XXI e para uma comunidade mais próxima entre China e Asean com um futuro compartilhado.

O ano de 2023 também marca o 10º aniversário da BRI e da visão de construir uma comunidade global de futuro compartilhado para a humanidade.

Os países do Sudeste Asiático têm liderado a cooperação na BRI, além de serem essenciais para garantir a estabilidade sustentável do ambiente externo da China, disse Li.

"O mesmo vale para os membros da Asean, já que a maioria dos países da Asean deseja que a prosperidade duradoura e estável na região do Ásia-Pacífico seja mantida, em vez de uma região do Ásia-Pacífico com conflitos e divisões", disse Li.

Pacificador x Perturbador

Durante a Reunião de Ministros das Relações Exteriores China-Asean (10+1) realizada em julho, Wang, juntamente com outros diplomatas, prometeu avançar com sua parceria estratégica abrangente. O chanceler afirmou que a China fará novas contribuições para a paz e a prosperidade na região.

Um mês depois, o chefe de defesa dos Estados Unidos e das Filipinas reiterou o compromisso de fortalecer a cooperação militar, de acordo com um comunicado divulgado pelo Pentágono nesta quarta-feira (9), em meio à recente tensão entre China e Filipinas sobre o Recife Ren'ai nas Ilhas Nansha da China.

Antes da visita de Wang, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse na terça-feira (8) que visitaria o Vietnã em breve para elevar os laços bilaterais, a convite do Vietnã, segundo relatos da mídia.

"As relações entre as Filipinas e os Estados Unidos estão se fortalecendo… O Vietnã está equilibrando entre a China e os Estados Unidos, mas suas relações com os Estados Unidos em geral também estão se elevando", disse Gu.

O Sudeste Asiático é a parte mais importante da "Estratégia do Indo-Pacífico" dos Estados Unidos, e não se pode descartar que alguns países sejam forçados a se tornar uma cunha para os Estados Unidos se infiltrarem na Asean, observou Gu.

Um fator disruptivo nas relações entre a China e os membros da Asean é os Estados Unidos, disse Li. Ele disse que Washington tenta formar um "consenso anti-China" no Sudeste Asiático, exagerando as "ameaças da China". Somente quando mais divisões e confrontos são criados é que a hegemonia regional dos Estados Unidos pode ser estabelecida.

Como os Estados Unidos desejam sequestrar os membros da Asean para seu tabuleiro de xadrez contra a China, o desenvolvimento futuro dos países da região enfrentará maiores desafios, disse Li.

No entanto, os analistas acreditam que a grande maioria dos países do Sudeste Asiático está altamente alerta para as ações dos Estados Unidos, o que seria propício para o desenvolvimento estável das relações China-Asean.

"Os países membros da Asean perceberam que, desde o estabelecimento da parceria de diálogo completo com a China em 1991, o crescimento econômico dos países do Sudeste Asiático acelerou… A maioria deles chegou a um consenso de não tomar partido", disse Gu.

A Asean tem sido o maior parceiro comercial da China por três anos consecutivos. No primeiro semestre de 2023, o comércio com os países membros da Asean representou 15,3% do comércio total da China, alcançando 3,08 trilhões de yuan ($428,96 bilhões), um aumento de 5,4% em relação a 2022.

A intervenção dos Estados Unidos no Sudeste Asiático, por outro lado, destaca a importância das trocas regionais, disse Gu.

Ao fortalecer continuamente o benefício mútuo econômico e comercial, as trocas entre as pessoas e a comunicação política, China e os membros da Asean podem reduzir e evitar julgamentos errôneos ou mal-entendidos provocados de forma maliciosa pelos Estados Unidos, comentou Gu.

Agenda cheia

O ano de 2023 é importante para aprofundar as trocas e a cooperação entre a China e a Asean. A Cúpula Asean-China 2023 está programada para ser realizada em setembro, seguida pela 20ª Exposição China-Asean e pelo Fórum de Negócios e Investimentos China-Asean.

A Cúpula da Apec em novembro também contará com a presença de nações da Asean e da China. A Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) é um fórum intergovernamental composto por 21 economias membros localizadas na região do Pacífico, que promove o livre comércio em toda a região da Ásia e do Pacífico.

"Se tornar um vassalo dos Estados Unidos ou se unir à maioria dos países do Sudeste Asiático para manter a estabilidade regional, acredito que a maioria dos países deveria escolher sua própria autonomia estratégica. Tentativas de minar o sólido momento de solidariedade e cooperação do Pacífico Asiático não serão bem recebidas", observou Li.

Na abertura da Semana Asean-China 2023 em Fuzhou, na província de Fujian, no leste da China, no último domingo (6), o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Nong Rong, afirmou que a parceria estratégica abrangente China-Asean desfruta de um sólido momento de desenvolvimento, e que a China sempre seguiu as diretrizes de diplomacia vizinha que preconizam amizade, sinceridade, benefício mútuo e inclusividade, estando disposta a manter um compromisso com a cooperação ganha-ganha com a Asean e construir juntos um lar pacífico, seguro, próspero, belo e amigável.

Com informações do Global Times

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