CHINA EM FOCO

Digno de filme: ausência de chanceler da China alimenta rumores e especulações

Pequim está na alta temporada para a diplomacia sem a presença do ministro das Relações Exteriores, Qin Gang; rumores e especulações que circulam na mídia e nas redes sociais incluem caso extraconjugal com celebridade da TV

Créditos: Xinhua - Qin Gang, ministro da Relações Exteriores da China
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A China está na alta temporada para a diplomacia - com líderes mundiais passados e presentes visitando Pequim no último mês. Mas o ministro das Relações Exteriores do país, Qin Gang, não aparece em público desde o último 25 de junho, quando se reuniu com o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Andrei Rudenko, na capital chinesa.

O ministro tinha programado uma reunião na semana passada com o chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, mas Pequim cancelou abruptamente a viagem, alegando que Qin não estava disponível. O cancelamento sem mais explicações foi uma "surpresa, senão um constrangimento" para os europeus, de acordo com Philippe Le Corre, pesquisador sênior do Centro de Análise da China do Instituto de Política da Sociedade Asiática ao SCMP.

Até agora, Pequim tem sido discreta sobre o paradeiro dele, atribuindo sua ausência a "motivos de saúde" não especificados, apesar das crescentes especulações. Em 7 de julho, o Ministério das Relações Exteriores foi questionado pela primeira vez se razões de saúde estavam por trás do cancelamento, mas o porta-voz Wang Wenbin disse que "não tinha ouvido falar disso". No entanto, apenas quatro dias depois, Wang afirmou que Qin não participaria da reunião da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) na capital indonésia, Jacarta, por "motivos de saúde", sem dar mais detalhes.

Quando questionada sobre o misterioso desaparecimento de Qin na última segunda-feira (17), uma porta-voz diferente do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, disse que não tinha "nenhuma informação". Essas perguntas e observações sobre o paradeiro de Qin estão ausentes no site do ministério. Ele segue listado como ministro das Relações Exteriores na página oficial do órgão.

Também na segunda-feira, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que havia sido informado de que Qin estava "lidando com problemas de saúde" quando o chefe de política externa da China, Wang Yi, substituiu o ministro das Relações Exteriores em uma reunião com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na reunião da Asean.

"Para qualquer outro país, isso seria considerado um enorme constrangimento diplomático. Mas na China, a política sempre domina. A diplomacia é uma atividade secundária, e o ministro das Relações Exteriores geralmente não é tão poderoso", explicou Le Corre.

Ele observou também que a ascensão de Qin - de vice-ministro encarregado do protocolo, a embaixador nos EUA e depois ministro das Relações Exteriores - foi relativamente rápida.

"Qin Gang não é o 'tradicional' ministro das Relações Exteriores, por assim dizer. Ele tem conexões muito próximas com a liderança máxima. Não tenho certeza se a ausência de Qin importa tanto para as chancelarias estrangeiras. Elas estão acostumadas a lidar com vários órgãos que frequentemente não se traduzem bem no exterior. Mas se, por acaso, ele voltasse, qual seria sua credibilidade como ministro das Relações Exteriores da China?", pondera.

Ex-embaixador nos Estados Unidos, Qin Gang foi nomeado ministro no 20° congresso do Partido Comunista Chinês (PCCh), no final de 2022.

Rumores e especulações

Reprodução Phoenix TV

A ausência na agenda diplomática de Pequim de Qin tem alimentado intensas especulações na mídia ocidental. Os rumores sobre o que aconteceu com o chanceler se intensificaram nas últimas semanas nas redes sociais domésticas e estrangeiras.

O sumiço faz ressurgir rumores de uma suposta relação amorosa de Qin Gang com Fu Xiaotian, 40 anos, jornalista da emissora Phoenix TV. Segundo a imprensa internacional, o casal teria um filho escondido. Como o ministro, a apresentadora também deixou de aparecer em público desde o final de junho.

Fu Xiaotian, que nasceu na China e estudou na Universidade de Cambridge, é apresentadora e produtora do programa "Talk with World Leaders" na emissora de mídia de Hong Kong, Phoenix TV. Ela deu à luz seu filho, Er-Kin, em novembro do ano passado nos Estados Unidos.

Em sua conta no Twitter, o último post é de 20 de março.

Há cerca de um ano, Qin foi entrevistado por Fu para o programa no qual ela é âncora.

Os internautas chineses descobriram que o aniversário de Qin Gang é em 19 de março. E justamente em 19 de março de 2023, Fu postou em seu Weibo, com 1,03 milhão de seguidores, desejando a alguém um feliz aniversário, seguido por um emoji de um bolo de aniversário:

Reprodução Weibo

"Muitos retornos felizes! Essa bênção não significa 'TER muitos retornos felizes' (TER muitos retornos felizes), mas 'Muitos retornos felizes PARA ESTE DIA', e é frequentemente usada como uma bela saudação de aniversário. Em uma vida de cem anos, a maioria das pessoas ao seu redor está próxima ou na metade do caminho. Deveríamos ter uma visão positiva sobre ganhos e recompensas, e entender que somente a paz e a saúde, a estabilidade interior e a alegria são a felicidade mais simples e verdadeira. Portanto, amar e cuidar verdadeiramente de alguém não é desejar que ele seja promovido e faça fortuna, ou que ele esteja sozinho no topo de uma montanha ventosa, mas que ele tenha liberdade no corpo, liberdade no coração, luz nos olhos, cercado pelo amor, reunido com a família, observando o nascer e o pôr do sol: 'Muitos retornos felizes!'"

Teorias turbinadas

Os rumores vão além e afirmam que Fu é cidadã dos Estados Unidos e seria uma "agente dupla". No entanto, a China ainda não confirmou nem negou esses rumores. Também existe sempre a possibilidade de que o ministro possa estar doente e sofrendo problemas de saúde.

O fato é que a mídia ocidental tem deitado e rolado nessa história. A CNN Brasil, por exemplo, noticia nesta sexta-feira (21) que o sumiço do chanceler estaria ligado a um suposto caso de espionagem. A matéria informa que no dia 5 de janeiro do ano passado, a Universidade do Ar, que pertence às Forças Armadas dos EUA, publicou um detalhado estudo sobre o programa militar de foguetes da China.

O veículo deixe no ar se Qin, que era embaixador da China em Washington, seria ou não responsável pelo vazamento de informações. Mas pontua que naquela ocasião o chanceler já se relacionava com Fu. "O problema é a suspeita de que Fu possa ter tido acesso a informações confidenciais do governo chinês e repassado para os americanos", observa a matéria.

Uma outra versão das especulações é a de que as informações da Força de Foguete teriam sido repassadas aos EUA por rivais de Qin dentro do Ministério das Relações Exteriores para incriminar o chanceler e sua suposta amante.