Ao longo desta semana, o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, visitou pela centésima vez, aos 100 anos de idade, a China. Esta visita tem um grande valor simbólico diante dos atuais desafios para as relações sino-estadunidenses com eventos que vão desde sanções contra os chineses no disputado setor de semicondutores, passa pelas provocações de Washington em Taiwan e desaguam na duradoura Guerra da Ucrânia.
Kissinger desempenhou um papel crucial em ajudar a China a sair do isolamento diplomático na década de 1970, mas segue sendo uma figura controversa no restante da Ásia por seu papel na Guerra do Vietnã. Os EUA enfatizaram que ele está visitando a China na qualidade de cidadão comum.
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Nesta quinta-feira (20), o presidente chinês, Xi Jinping, se reuniu com Kissinger, em Pequim, e homenageou o amigo centenário pela contribuição histórica na promoção das relações sino-estadunidenses e no aprofundamento da amizade entre os dois povos.
Eles se encontraram na casa de hóspedes estatal Diaoyutai, um local mais íntimo do que o amplo Grande Salão do Povo, onde geralmente acontecem reuniões oficiais com diplomatas estrangeiros. Diaoyutai também foi o lugar onde, meio século atrás, Kissinger se encontrou com autoridades chinesas em uma visita secreta que ajudou a iniciar a normalização dos laços EUA-China, relembrou Xi.
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O ex-secretário foi o artífice do estabelecimento dos laços diplomáticos entre China e EUA durante o governo de Richard Nixon (1969-1974). Em 1971, quando os EUA e a China não tinham laços oficiais, Kissinger fez visitas clandestinas a Pequim para organizar uma viagem do então presidente dos EUA, Richard Nixon.
No ano seguinte, Nixon desembarcou em solo chinês e conheceu os principais líderes, incluindo Mao Tsé-Tung. Isso abriu caminho para a normalização das relações diplomáticas EUA-China e a abertura da economia chinesa.
Para Xi, Kissinger afirmou que as relações China-EUA são de extrema importância para ambos os países e para a paz e a prosperidade mundial, dizendo que continuará seus esforços para aprofundar o entendimento mútuo entre as duas populações.
No cenário político dos EUA, Kissinger representa a força pragmática que defende o contato e o diálogo com a China, bem como o tratamento adequado das diferenças entre os dois lados. Essa força é capaz de formular políticas racionais e construtivas em relação à China do ponto de vista pragmático de proteger verdadeiramente os interesses estadunidenses.
Depois de meses de hostilidade exacerbada pelo incidente do 'balão espião' deste ano, as negociações diplomáticas parecem estar de volta aos trilhos — a China recebeu uma série de altos funcionários dos EUA em algumas semanas. O secretário de Estado, Antony Blinken, visitou o país no mês passado e foi recebido por Xi. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, e o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, também visitaram Pequim, mas não tiveram contato pessoal com o presidente da China.
Analisando a história do relacionamento diplomático entre a China e os EUA, não é difícil perceber que, quando a voz da cooperação com a China prevalece em Washington, o desenvolvimento das relações entre a China e os EUA é geralmente tranquilo, mas ao contrário disso, enfrenta desafios e provações.
Como testemunha pessoal dos contatos e das negociações entre a China e os Estados Unidos, Kissinger sabe muito bem que a questão de Taiwan é a mais central, mais importante e mais sensível nas relações entre as duas maiores economias do mundo.
Durante o encontro com Xi, Kissinger disse que é preciso observar os princípios estabelecidos no Comunicado de Xangai e entender a importância do princípio de Uma Só China para a República Popular da China.
Um provérbio chinês diz: “Obtenha novas percepções estudando as antigas”.
Nos últimos 52 anos, a China e os EUA trabalharam juntos e fizeram muitas contribuições importantes para o bem dos dois países e do mundo.
Hoje, os formuladores de políticas dos EUA devem olhar para a história em busca de uma resposta para a questão de como ver a China, como se dar bem ela e o que é realmente de interesses nacionais dos EUA.
O futuro das relações China-EUA depende da escolha de hoje e não pode ser separado da análise das experiências históricas. Para que o relacionamento bialteral avance, o lado estadunidense precisa da sabedoria diplomática estilo Kissinger.
Com informações da CMG