Aos 100 anos, Henry Kissinger, ex-secretário de Estados dos EUA durante o Governo Nixon, desembarcou em Pequim esta semana, onde cumpre agenda com autoridades do Partido Comunista da China (PCCh) e do governo chinês. Na pauta, entre outros temas, relações diplomáticas sino-estadunidenses e diálogo militar entre as duas potências.
Nesta quarta-feira (19), ele foi recebido pelo principal diplomata chinês, Wang Yi, diretor do Escritório da Comissão de Assuntos Exteriores do Comitê Central do PCCh. Na terça-feira (18) Kissinger se reuniu com o ministro da Defesa chinês, general Li Shangfu, em meio a um diálogo militar suspenso de alto nível entre os EUA e a China.
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Relações sino-estadunidenses
Durante a conversa com Wang, Kissinger afirmou que as relações EUA-China têm impacto na paz mundial e no bem-estar da humanidade, pois os dois países têm a capacidade de influenciar o mundo. Ele acrescentou que os dois países devem se tratar de forma igual, manter contato e se opor ao isolamento.
Wang, também membro do Birô Político do Comitê Central do PCCh, afirmou que Kissinger fez contribuições históricas para o desenvolvimento das relações sino-americanas e desempenhou um papel insubstituível no aprimoramento do entendimento mútuo entre os dois países. "A China valoriza sua amizade com velhos amigos", destacou.
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Ao falar sobre as relações China-EUA, Wang disse que a China mantém um alto grau de continuidade em sua política em relação aos EUA, que se baseia nos três princípios de respeito mútuo, convivência pacífica e cooperação de benefício mútuo propostos pelo presidente chinês Xi Jinping.
"Esses três princípios são fundamentais e de longo prazo, e são a maneira correta para a China e os EUA se relacionarem como dois países importantes", disse Wang.
Wang ressaltou que o desenvolvimento da China possui fortes dinâmicas internas e lógica histórica inevitável, acrescentando que é impossível tentar transformar a China e é ainda mais impossível contê-la.
O diplomata também expôs a posição da China em relação a Taiwan, afirmando que há apenas uma China e o princípio de uma única China definido no Comunicado de Xangai deve ser seguido por ambos os países. Ele expressou esperança de que o lado dos EUA possa tomar medidas para se opor claramente e abertamente à "independência de Taiwan" e traçar uma linha clara com as atividades separatistas.
As duas partes também discutiram questões relacionadas à crise na Ucrânia e à inteligência artificial.
Comunicado de Xangai
O Comunicado de Xangai foi emitido em 1972 durante a visita do então presidente dos EUA, Richard Nixon, à China. O comunicado reconheceu a disposição consensual fundamental para que as duas partes busquem pontos comuns enquanto deixam de lado suas diferenças e estabeleceu uma base política para o desenvolvimento das relações bilaterais.
"A política dos EUA em relação à China requer a habilidade diplomática de Kissinger e a coragem política de Nixon", disse Wang.
Em relação ao Comunicado de Xangai, Kissinger afirmou que a questão de uma única China é um compromisso solene feito pelos EUA no comunicado e acredita que ele não será abalado ou quebrado. Ele acrescentou que, embora não esteja mais em um cargo público, ele se preocupa com as relações EUA-China e apoia os esforços para melhorá-las.
Diálogo militar
Tanto Kissinger quanto Li disseram que os dois países precisam trabalhar produtivamente juntos, de acordo com um comunicado do Ministério da Defesa chinês. O general chinês não fala com seu homólogo estadunidense desde 2018, quando as sanções de Washington foram impostas à Pequim.
No encontro, o general alertou o veterano Kissinger que as relações entre os dois países estão de longe em seu nível mais baixo.
"Algumas autoridades estadunidenses estão se recusando a encontrar a China no meio do caminho, fazendo com que as relações sino-estadunidenses caiam ao seu ponto mais baixo desde que os laços diplomáticos foram estabelecidos", observou Li.
O general chinês disse a Kissinger que a atmosfera de cooperação amigável entre as duas maiores economias do mundo está sendo destruída e o fato de sua dependência mútua está sendo ignorado. Ele afirmou ainda que a China está empenhada em construir um relacionamento estável, previsível e construtivo com os EUA.
"Esperamos que os EUA trabalhem em conjunto com a China para implementar o consenso alcançado pelos líderes dos dois países e promover um desenvolvimento saudável e estável das relações entre os dois países na esfera militar", afirmou.
Por sua vez, Kissinger, que também atuou como Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, afirmou que as duas partes devem eliminar os mal-entendidos, conviver pacificamente e evitar confrontos.
Kissinger observou que a história provou que "nem os Estados Unidos nem a China podem se dar ao luxo de tratar o outro como um adversário". Ele disse ainda que para conhecer e lidar melhor com as relações, "precisamos de um pensamento amplo e discernimento histórico-filosófico, bem como da sabedoria de ambos os países para cooperar e desenvolver juntos".
"Os dois exércitos devem fortalecer a comunicação e fazer o melhor para criar resultados positivos para o desenvolvimento das relações entre os dois países e manter a paz e a estabilidade mundial", analisou Kissinger.
Kissinger, visto como amigo da China desde que ajudou a normalizar as relações Washington-Pequim durante o governo Richard Nixon, visitou Pequim pela última vez em 2019, quando se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping.
Com informações da Xinhua e da CGTN