CHINA EM FOCO

China e EUA prosseguem negociações de alto nível e Pequim cobra 'mais sinceridade' de Washington

Duas maiores potências têm intensificado diálogos entre autoridades de alto escalão; movimento é impulsionado diante da proximidade das eleições presidenciais estadunidenses

Créditos: Global Times - Wang Yi, principal diplomata chinês, encontra-se com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, à margem da Reunião de Ministros das Relações Exteriores da Asean
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A China e os Estados Unidos têm realizado conversas cada vez mais frequentes entre autoridades de alto escalão recentemente e espera-se que tenham mais trocas em diversos campos, como diplomacia, finanças, comércio, mudanças climáticas e talvez militares no futuro.

No entanto, especialistas chineses avaliam que, se o presidente dos EUA, Joe Biden, quiser estabilizar os laços com a China e realizar outra cúpula China-EUA ainda este ano antes das eleições presidenciais dos EUA, Washington precisa mostrar uma sinceridade concreta por meio de ações, caso contrário, as frequentes reuniões não serão produtivas.

Encontro na Indonésia

Nesta quinta-feira (13), o principal diplomata da China, o diretor do Escritório da Comissão Central de Assuntos Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), Wang Yi, encontrou-se novamente com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Jacarta, Indonésia.

Esse encontro ocorreu à margem de uma série de reuniões de ministros das Relações Exteriores da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Há quase um mês, em 19 de junho, ambos se encontraram em Pequim, onde Wang alertou Blinken que as relações China-EUA estão em baixa e "a causa raiz são as percepções equivocadas dos EUA em relação à China, o que levou a políticas equivocadas em relação à China".

Laços comerciais

Também nesta quinta-feira, o porta-voz do Ministério do Comércio da China, Shu Jueting, afirmou que a China está aberta e recebe de braços abertos a visita da secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, ao país, acrescentando que "a comunicação com os EUA sobre esse assunto está em andamento".

Especialistas ouvidos pelo Global Times comentaram que isso será crucial para avaliar até que ponto os dois países podem aliviar as tensões no campo do comércio, enquanto a recente visita da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, focou mais na macroeconomia e nas finanças.

Crise climática e Taiwan

Na quarta-feira (12), a China anunciou que "Conforme acordado entre a China e os EUA, o Enviado Presidencial Especial dos EUA para o Clima, John Kerry, visitará a China de 16 a 19 de julho".

Além da diplomacia, finanças, comércio e mudanças climáticas, a China e os EUA também discutiram a retomada das negociações entre os militares dos dois países. O embaixador chinês nos Estados Unidos, Xie Feng, se reuniu com o Secretário Assistente de Defesa dos EUA, Ely Ratner, a convite, na quarta-feira, de acordo com o site da Embaixada da China nos EUA.

Xie instou os EUA a removerem obstáculos e gerenciarem as diferenças com ações concretas, lidar prudentemente com questões importantes e sensíveis, como a questão de Taiwan, de acordo com os princípios consagrados nos três comunicados conjuntos China-EUA, e trabalhar com a China na mesma direção para trazer gradualmente as relações "estado a estado" e "militar a militar" de volta ao caminho certo.

Frutos do encontro de Bali

Todos esses sinais mostram que o consenso alcançado pelos chefes de Estado dos dois países em Bali, em novembro passado, está sendo implementado passo a passo, pelo menos no que diz respeito à retomada dos diálogos entre autoridades de alto nível em diferentes setores.

Nesse cenário, a China tem demonstrado sua sinceridade em atender às demandas desesperadas dos EUA por conversas, mesmo que Washington ainda não tenha corrigido seus erros, que prejudicaram profundamente os laços bilaterais, afirmaram especialistas chineses.

De olho nas urnas

O vice-reitor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Renmin, Jin Canrong, disse ao Global Times que a razão pela qual a administração Biden tem buscado conversas com a China em todas as frentes é que a Casa Branca deseja gerenciar e estabilizar as relações deterioradas com a China, porque se Biden quiser vencer as eleições presidenciais do próximo ano, ele não quer ver nenhum incidente extremo ou mesmo conflito direto entre os dois países. Mais importante ainda, os EUA sediarão a reunião de líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) ainda este ano.

"Biden quer usar essa chance para ganhar crédito para sua reeleição, e se ele conseguir realizar outra cúpula China-EUA na América, isso será fundamental para provar que ele tem mais capacidade do que seu concorrente republicano para lidar com relações complicadas com a China, então antes disso, ele precisa que seus altos funcionários estabeleçam as bases para uma cúpula com o presidente Xi Jinping", observa Jin.

De acordo com o site do Departamento de Estado dos EUA, a Reunião de Líderes Econômicos da Apec está programada para ocorrer de 15 a 17 de novembro. Observadores afirmam que antes desse encontro, em setembro, haverá outra oportunidade para Biden realizar uma cúpula com Xi na Índia, à margem da cúpula anual do G20, e é por isso que altos funcionários dos EUA estão vindo para a China um após o outro para criar condições para que isso aconteça.

"A China também quer estabilizar as relações com os EUA, garantir que as tensões não saiam do controle e, durante as eleições presidenciais, as relações China-EUA geralmente são afetadas, então também queremos fazer o nosso melhor para consertar as relações o máximo possível antes que essas incertezas surjam em 2024", observou Jin.

Além disso, "ao aceitar as solicitações de conversas dos EUA, a China também mostra ao mundo, especialmente aos países profundamente preocupados com o agravamento das relações China-EUA, que a China fez sua parte para amenizar as tensões", afirmou Lü Xiang, especialista em estudos sobre os EUA e pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais.

Ações necessárias dos EUA

Analistas chineses alertaram que reuniões frequentes e palavras amigáveis não são suficientes para obter resultados produtivos. Diao Daming, professor associado da Universidade Renmin, afirmou: "Se os EUA continuarem dizendo uma coisa e fazendo outra, será muito difícil ver as relações bilaterais se estabilizando." Diao disse ao Global Times na quinta-feira que "a China não recusará conversas, mas os EUA precisam implementar o que dizem."

Enquanto os dois lados realizam e organizam mais conversas, há ruídos dentro dos Estados Unidos que visam interromper os esforços feitos pelos dois lados para reduzir as tensões, portanto, até que ponto a administração Biden pode superar esses desafios e colocar as relações entre EUA e China de volta aos trilhos permanece em questão, disseram os especialistas. Lü observou que "quanto mais nos aproximamos do ano eleitoral de 2024, mais obstáculos surgirão e maiores serão. Biden precisa se apressar."

Na quarta-feira, um dia antes de o Ministério do Comércio da China receber com satisfação a disposição de Raimondo para visitar o país, os EUA exageraram notícias sobre ataques de "hackers ligados ao Estado chinês" contra cerca de 25 organizações americanas, incluindo pelo menos dois órgãos do governo dos EUA, alegando que "a secretária de Comércio Raimondo e altos funcionários do Departamento de Estado foram vítimas".

O Ministério das Relações Exteriores chinês respondeu na quarta-feira, afirmando que "os EUA são o maior império de hackers e cibercriminosos do mundo", enquanto instava o lado americano a responder prontamente aos ataques direcionados à China em vez de disseminar informações falsas.

Conversas precisam viram ações

Os especialistas avaliam que isso apenas prova que, ao mesmo tempo em que busca conversas com a China, os EUA nunca cessam seus atos de confronto contra o país, e é possível que algumas forças dentro dos EUA estejam tentando interromper o processo de estabilização das relações sino-americanas.

"A viagem de Raimondo é fundamental para avaliar o quanto a administração Biden pode realmente fazer para estabilizar as relações sino-americanas", afirmou Lü. E se a viagem ocorrer e puder produzir um resultado positivo, então há esperança para uma recuperação adicional das relações bilaterais.

O diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, Wu Xinbo, observa que as reuniões frequentes precisam ser transformadas em conquistas concretas para tornar a estabilização das relações sino-americanas sustentável.

"No que diz respeito às relações militares, o lado dos EUA deve remover as sanções ilegais contra o ministro da Defesa chinês e interromper suas atividades provocativas nas regiões próximas à China, além de lidar com a sensível questão de Taiwan de acordo com os princípios consagrados nas três comunicações conjuntas sino-americanas. No que diz respeito às relações econômicas e comerciais, eles pelo menos precisam demonstrar sinceridade levantando tarifas adicionais sobre produtos chineses e parando com a supressão injusta contra o desenvolvimento científico e tecnológico da China", observou Wu.

As interações sino-americanas devem ser recíprocas, enfatizou Wu. "Sem sinceridade, não haverá condições para outra cúpula sino-americana", ressaltou.

Com informações do Global Times