CHINA EM FOCO

China-EUA: Visita de secretário de Estado estadunidense pode aliviar tensões entre potências

Com desafio de normalizar relações sino-estadunidenses, Antony Blinken se encontra com chanceler chinês, Qin Gang, na capital chinesa; é a primeira viagem de um alto funcionário de Washington ao país desde 2018

Créditos: Xinhua - Antony Blinken e Qin Gang
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O Conselheiro de Estado e Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, se encontrou com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, neste domingo (18), com o objetivo de aliviar as tensões entre os dois países e ajudar a direcionar as relações bilaterais para uma trajetória estável.

A visita de Blinken à China, descrita como "rara" e "de grande importância", é a primeira viagem de um alto funcionário de Washington ao país desde 2018, e espera-se que ajude a direcionar as relações China-EUA para uma trajetória estável, uma vez que os laços bilaterais estão em seu ponto mais baixo em décadas.

Os dois países têm discordado em uma série de questões, incluindo comércio, segurança nacional e tecnologia, enfrentando tensões crescentes no Estreito de Taiwan devido às ações provocativas repetidas dos EUA tanto politicamente quanto militarmente.

Nos últimos quatro meses, as relações China-EUA têm enfrentado novos desafios, com diálogo e comunicação entre as duas partes em grande parte em um estado "congelado", e o "incidente do balão" destacou a fragilidade e instabilidade das relações bilaterais, segundo alguns especialistas.

Antes de sua partida, Blinken afirmou ter três principais objetivos para sua viagem: estabelecer mecanismos para o gerenciamento de crises; promover os interesses dos EUA e seus aliados e falar diretamente sobre preocupações relacionadas; e explorar áreas de potencial cooperação.

Encontro cordial

Na tarde deste domingo, Qin recebeu Blinken na Diaoyutai State Guest House, um local onde são recepcionadas autoridades de outros países. Os dois "conversaram enquanto caminhavam", de acordo com relatos da mídia. Qin também perguntou a Blinken, em inglês, sobre sua longa viagem desde Washington antes de apertarem as mãos diante das bandeiras chinesa e estadunidense.

Hua Chunying, vice-ministra das Relações Exteriores da China, que participou da reunião, postou uma foto de Qin e Blinken apertando as mãos nas redes sociais.

"Espero que essa reunião possa ajudar a direcionar as relações China-EUA de volta ao que os dois presidentes acordaram em Bali", escreveu.

Janela de oportunidade

Embora os funcionários dos EUA tenham minimizado a perspectiva de uma grande conquista durante a viagem de Blinken, a visita, impulsionada pela necessidade urgente dos EUA de se envolver com a China, pode servir como uma "janela de oportunidade" para salvar os laços bilaterais de deteriorarem para algo "pior do que o pior", afirmaram alguns especialistas.

Isso só pode ser visto como um indício de que tanto a China quanto os EUA estão dispostos a encerrar o recente período de estagnação, continuar avançando nas interações de alto nível e tentar lidar com algumas questões proeminentes nas relações bilaterais, além de promover coordenação e cooperação em certas questões.

Viagem muito esperada pelos EUA

Obviamente, os EUA estão agora muito ansiosos para se envolver com a China. Por um lado, em breve entrará no período eleitoral e não há muito tempo para tomar mais medidas. Por outro lado, tem enfrentado pressões crescentes de terceiros, incluindo países europeus e do Ásia-Pacífico, que não desejam que os EUA suprimam a China dessa maneira, explica Sun Chenghao, pesquisador do Centro de Segurança Internacional e Estratégia da Universidade Tsinghua, ao Global Times.

Embora a opinião pública dos EUA tenha baixas expectativas para essa visita, a base dessas expectativas é que os EUA precisam fazer alguns ajustes em sua política em relação à China, mas agora é difícil para os EUA fazê-lo, disse Sun.

"É irrealista esperar que algumas das disputas centrais entre China e EUA possam ser resolvidas por meio da visita atual de Blinken", observa Sun.

Os EUA têm considerado a China como seu "principal rival" e "o desafio geopolítico mais importante". Isso é um grande equívoco estratégico, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, na última sexta-feira (16), antes da visita de Blinken.

"Há competição entre os dois países em áreas como economia e comércio, mas não deve haver uma competição de soma zero maliciosa. Muito menos deve haver práticas de contenção ou supressão um do outro em nome da competição e privar a China de seu legítimo direito ao desenvolvimento. Isso não é 'competição responsável', mas bullying irresponsável. Isso só levará os dois países à confrontação e criará um mundo dividido", declarou o diplomata.

Antes da visita de Blinken, Hua também refutou um artigo da Bloomberg sugerindo que "a China deveria ouvir o que Blinken tem a dizer". Ela disse que "para muitos leitores chineses, este artigo é uma chantagem".

Se um conflito militar inesperado surgir entre China e EUA, não será causado pela China tomando medidas provocativas enviando navios e aviões militares para Los Angeles ou qualquer lugar próximo à costa da Califórnia, mas será desencadeado por navios ou aviões de guerra dos EUA próximos ao território da China, escreveu Hua.

Na verdade, a atual visita de Blinken à China retorna ao consenso alcançado durante a cúpula entre os líderes da China e dos EUA em Bali, em novembro passado, para "promover intercâmbios de alto nível entre os dois países", uma vez que tal visita havia sido adiada devido ao "incidente do balão" e à suposta parada de Tsai Ing-wen nos EUA, disse Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, ao Global Times.

"Essa visita só pode ser vista como uma vontade entre China e EUA de encerrar o recente período de impasse, continuar avançando nas interações de alto nível e explorar se algumas questões proeminentes na relação bilateral podem ser abordadas, além de promover coordenação e cooperação em certas questões", disse Wu.

Quanto ao resultado desta visita, ele precisará ser avaliado em conjunto com os próximos compromissos bilaterais, observou ele.

Interesses centrais da China

Antes de Blinken embarcar em sua viagem à China, Qin teve uma ligação telefônica com ele, a pedido deste último, na qual Qin expôs a posição firme da China em relação a questões centrais, como a questão de Taiwan, enfatizando que os EUA deveriam respeitá-la, parar de interferir nos assuntos internos da China e parar de prejudicar os interesses soberanos, de segurança e de desenvolvimento da China em nome da competição.

Alguns especialistas consideram que o estado geral das relações China-EUA ainda é frágil e instável, e neste momento, se incidentes inesperados ocorrerem, as duas partes devem lidar com eles de forma calma e não devem ser excessivamente influenciadas pela política interna. Especialmente em relação à questão de Taiwan, os EUA realmente "foram longe demais", mostrando sinais perigosos de cruzar a linha vermelha.

"Se surgirem problemas em relação à questão de Taiwan, o fundamento político para a cooperação entre China e EUA deixará de existir, tornando ainda mais difícil alcançar resultados mais frutíferos nos campos econômico e comercial", disse Li Haidong, professor da Universidade de Assuntos Externos da China, ao Global Times.

Políticos responsáveis e a comunidade empresarial em ambos os países, e até mesmo o público em geral, não desejam ver os EUA adotando uma abordagem imprudente em relação ao princípio de uma China única, nem usando a questão de Taiwan como moeda de troca para perturbar o rápido desenvolvimento da China e perturbar a ordem regional, o que seria um comportamento prejudicial, observou Li.

Com informações do Global Times