CHINA EM FOCO - ESPECIAL VIAGEM OFICIAL DE LULA

China e Brasil precisam de mais intercâmbios pessoais para fortalecer os laços bilaterais

Opinião: Relato da jornalista chinesa Li Jingjing sobre as possibilidades de estreitar a relação bilateral sino-brasileira com as trocas entre os povos

Créditos: CGTN
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Nas grandes cidades da China, é cada vez maior a presença e o entusiasmo pela cultura latina, seja comida, música, dança, arte ou língua. No entanto, a maioria é de países de língua espanhola nas Américas.

Lugares ou eventos para a maioria das pessoas na China realmente vivenciar e aprender sobre a cultura brasileira ainda são muito limitados.

Enquanto os presidentes da China e do Brasil se reuniram em Pequim esta semana, os dois países do Brics estão embarcando em uma nova jornada de relações bilaterais mais profundas.

Os dois países são os principais parceiros comerciais um do outro há décadas. Os dois chefes de Estado assinaram uma ampla gama de documentos de cooperação bilateral, como em comércio, investimento, economia digital, inovação em ciência e tecnologia, informação e comunicação e redução da pobreza.

Mas, para aproximar ainda mais as pessoas dos dois países, ainda são muito necessárias mais comunicação cultural e intercâmbios entre pessoas.

Falta de intercâmbio cultural

O "soft power", como sabemos, é importante para conectar as pessoas. Para aprofundar as conexões entre a China e o Brasil, mais intercâmbios culturais, como esportes, artes, idiomas e intercâmbios acadêmicos, são necessários para que as pessoas de ambos os países tenham uma compreensão muito melhor umas das outras.

“Há uma lacuna enorme, mas também há muitas semelhanças entre a cultura brasileira e a cultura chinesa”, disse Vinicius Batista de Oliveira, de São Paulo, que estuda e trabalha na China há 10 anos, em entrevista à CGTN.

Ele está entre as muitas pessoas que estão tentando preencher a lacuna entre a China e o Brasil, com seu amplo conhecimento de ambas as culturas. Ele obteve seu bacharelado e mestrado em universidades na China e fundou a Hainan Foreseekers Technology Company, tentando trazer a tecnologia da China e o moderno modelo de "comércio ao vivo" de volta ao Brasil.

Ele percebeu que no Brasil, a compreensão da maioria das pessoas sobre a China atual ainda é muito limitada, ou mesmo negativa, e é por isso que ele está tentando criar mais conteúdo relacionado à China em sua plataforma para manter as pessoas atualizadas.

Na China, o conhecimento das pessoas sobre o Brasil está mais ou menos em situação semelhante, mas há uma mudança gradativa.

"Toda vez que eu digo que sou brasileiro, principalmente alguns anos atrás, a primeira reação das pessoas era, uau, futebol! Neymar!" disse Oliveira. "Mas essa perspectiva está mudando. Quando digo que sou brasileiro agora, as pessoas querem falar de política e economia."

Em enquete realizada na conta do Twitter desta jornalista com o objetivo de colher a opinião dos usuários brasileiros, 608 pessoas votaram no total. Entre eles, 40,3% votaram que esperam que a China e o Brasil tenham mais cooperação na redução da pobreza; 29,3% votaram em mais cooperação comercial e 22,4% votaram em mais cooperação tecnológica, com apenas 8,1% votando em intercâmbios culturais.

"Olá a todos os meus seguidores do #Brasil! Eu gostaria de fazer uma enquete para saber a opinião de vocês! Em qual área você acha que a China e o Brasil deveriam ter mais cooperação?O que mais te interessa na China? Vote, ou deixe um comentário! Obrigada! #LulaNaChina", escreveu.
 

Tal preferência é compreensível considerando que 33 milhões de brasileiros voltaram a passar fome no último governo e 120 milhões ainda sofrem com diferentes tipos de insegurança alimentar. Colaborar em tecnologia e comércio e adotar um pouco da experiência da China na erradicação da pobreza absoluta ajudará o povo brasileiro a superar essas questões domésticas.

Marco Fernandes, pesquisador brasileiro do Tricontinental: Institute for Social Research, baseado em Pequim, acredita que a cooperação com a China é fundamentalmente diferente da cooperação com outros países ocidentais, porque capacita os países latino-americanos com investimentos e tecnologia, o que os ajudará a se manterem seus próprios pés. Ele acredita que esse desenvolvimento é o oposto do que o neoliberalismo e o colonialismo fizeram na América Latina.

“Precisamos de alternativas e adivinha quem é o principal motor da criação de alternativas agora? É a China”, disse Fernandes.

Ele acredita que chegou a hora de o Brasil enviar seus alunos e funcionários para a China, para que eles conheçam de perto o modelo chinês de modernização e proponham inúmeras formas de cooperação entre os dois países, a exemplo de centenas de engenheiros, pesquisadores chineses e funcionários do governo visitaram o Brasil na década de 1980 para aprender sobre o desenvolvimento industrial do Brasil e adaptá-lo às necessidades chinesas.

As pessoas também compartilharam o interesse em se conhecer além do nível econômico.

"Eu adoraria ver mais cursos de mandarim e filosofia chinesa sendo oferecidos nas universidades, assim como programas de intercâmbio de estudantes, isso criaria uma nova geração de profissionais em todas as áreas que estariam prontos para estreitar os laços entre nossos países", escreveu um usuário.

Esse interesse também se expande para o esporte. Um usuário chamado Emanuel propôs uma ideia interessante sobre como a China e o Brasil podem impulsionar os esportes um do outro na seção de comentários.

"Eu gostaria de ver mais cooperação nos esportes. O Brasil pode aprender com a bem-sucedida estratégia olímpica chinesa e todas as políticas que fizeram da China uma potência olímpica. E o Brasil, com sua expertise na formação de jogadores e na indústria do futebol, pode ajudar a China a desenvolver o futebol", sugeriu.

A distância física entre a China e o Brasil pode ser grande, mas com mais esforço, os sentimentos de amizade e compreensão entre os povos dos países podem ser fortalecidos.

*Li Jingjing é jornalista e apresentadora da CGTN.

* Este artigo não representa, necessariamente, a opinião da Revista Fórum. Originalmente publicado na CGTN em Inglês

* Tradução e revisão de Iara Vidal