Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Xi Jinping, da China, assinaram, nesta sexta-feira (14), em Pequim, 15 acordos comerciais e de parceria. Os mandatários participaram de reunião ampliada com os ministros e assessores de ambos os países e tiveram encontro privado.
O presidente brasileiro compartilhou o registro do encontro público com Xi pelas redes sociais.
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Nessa conversa, além de temas bilaterais, eles trataram do diálogo e negociação para encerrar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Um jantar em homenagem a Lula também foi oferecido por Xi Jinping.
Os termos assinados entre os dois países incluem acordos de cooperação espacial, em pesquisa e inovação, economia digital e combate à fome, intercâmbio de conteúdos de comunicação entre os dois países e facilitação de comércio.
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Lula postou na conta do Twitter a celebração dos acordos e parcerias.
Um dos acordos prevê o desenvolvimento do CBERS-6, o sexto de uma linha de satélites construídos na parceria bilateral. De acordo com o governo brasileiro, o diferencial do novo modelo é uma tecnologia que permite o monitoramento de biomas como a Floresta Amazônica, mesmo com nuvens.
Parceria estratégica
Durante o encontro com Lula no Grande Salão do Povo, Xi deu as boas-vindas ao presidente Lula e expressou sua grande satisfação em reencontrar um velho amigo na quente primavera de Pequim.
O líder chinês parabenizou Lula pelo forte início de seu governo e expressou pessoalmente suas sinceras condolências ao presidente brasileiro, que teve que adiar sua visita devido a uma doença. Ele disse que está realmente emocionado ao ver o colega brasileiro totalmente recuperado e apreciou a grande importância que ele atribui ao relacionamento bilateral ao viajar longas distâncias para a China logo após sua recuperação.
"A China e o Brasil são os dois maiores países em desenvolvimento e mercados emergentes nos hemisférios oriental e ocidental. Como parceiros estratégicos abrangentes, a China e o Brasil compartilham amplos interesses comuns. A China sempre vê e desenvolve as relações com o Brasil de uma perspectiva estratégica e de longo prazo, e vê o relacionamento como uma alta prioridade em sua agenda diplomática", declarou Xi.
Xi observou que Lula é um velho amigo do povo chinês que há muito acompanha e apoia a amizade China-Brasil e promove o crescimento fenomenal dos laços bilaterais. Ele expressou sua disposição de trabalhar com o presidente Lula a partir de seu ponto de vista estratégico para orientar e criar um novo futuro para as relações China-Brasil na nova era e para entregar maiores benefícios aos dois povos.
O presidente chinês observou que, para a China, 2023 é o primeiro ano de implementação total dos princípios orientadores estabelecidos no 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh).
"O PCCh está liderando toda a nação em um esforço conjunto para transformar a China em um grande país socialista moderno em todos os aspectos e promover o rejuvenescimento nacional em todas as frentes por meio de um caminho chinês para a modernização. Nesta nova jornada, a China buscará um desenvolvimento de alta qualidade, acelerará a criação de um novo paradigma de desenvolvimento e promoverá uma abertura de alto padrão, abrindo novas oportunidades para o Brasil e países do mundo", declarou.
Xi também expressou sua confiança de que uma relação China-Brasil que continue desfrutando de um crescimento sólido e constante desempenhará um papel importante e positivo para a paz, estabilidade e prosperidade em suas regiões e além.
Lula, por sua vez, destacou as sólidas relações sino-brasileiras.
"Antes de tudo, eu gostaria de dizer que estou ansioso para visitar a China por quatro vezes. Temos uma relação extraordinária com a China, que está amadurecendo e fortalecendo com o tempo. Espero que as relações Brasil-China passem mais além do âmbito comercial. Ninguém pode impedir que o Brasil desenrole constantemente sua relação com a China".
Certificação eletrônica
Outros documentos assinados tratam de certificação eletrônica para produtos de origem animal e dos requisitos sanitários e de quarentena que devem ser seguidos por frigoríficos para exportação de carne do Brasil para a China. O Brasil é o maior fornecedor de carne bovina para o país asiático e 60% da produção brasileira são vendidos para a China.
No contexto da visita do presidente brasileiro, o setor empresarial também anunciou 20 novos acordos entre os dois países em áreas como energias renováveis, indústria automotiva, agronegócio, linhas de crédito verde, tecnologia da informação, saúde e infraestrutura.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, esses acordos somam-se àqueles anunciados durante o Seminário Econômico Brasil-China, realizado em 29 de março, totalizando mais de 40 novas parcerias. Lula deveria ter feito essa viagem no fim do mês passado, ocasião do seminário, mas um quadro de pneumonia o obrigou a adiar o compromisso.
“No setor turístico, destaca-se a inclusão do Brasil na lista de destinos autorizados para viagens de grupos de turistas chineses, o que representa grande oportunidade para o crescimento do fluxo de visitantes entre os dois países”, destacou o Itamaraty.
Reunião com o presidente do Legislativo
Antes de se reunir com Xi, Lula teve um encontro com o presidente da Assembleia Popular Nacional da China, Zhao Leji. Segundo a Presidência da República, eles trataram da parceria estratégica entre Brasil e China, da ampliação de fluxos de comércio entre os países e do equilíbrio da geopolítica mundial.
“Lula ressaltou que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a China como economia de mercado. Reforçou que o país asiático foi parceiro essencial para a criação dos Brics [bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e que a relação bilateral entre as nações tem o potencial de consolidar uma nova relação sul-sul no âmbito global”, informou o Palácio do Planalto.
Os dois líderes também ressaltaram a intenção de ampliar investimentos e reforçar a cooperação em setores como educacional e espacial.
Já o primeiro compromisso do dia de Lula e integrantes da comitiva foi a reunião com o presidente da State Grid, Zhang Zhigang. A empresa é líder do setor elétrico na China e tem investimentos no Brasil, com 19 concessionárias e linhas de transmissão em 14 estados.
De acordo com o Planalto, Lula reforçou a importância dos investimentos chineses no Brasil, a confiança na economia nacional e o foco do governo federal em investimentos em energias renováveis e na ampliação da rede de transmissão integrando projetos de geração eólica e solar com a rede convencional.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. O volume comercializado entre os dois países em 2022 foi de US$ 150,4 bilhões. O ano de 2023 marca o cinquentenário do início das relações comerciais entre Brasil e China. A primeira venda entre os dois países aconteceu em 1973, um ano antes do estabelecimento das relações diplomáticas sino-brasileiras.
Nesta quinta-feira (13), Lula cumpriu agenda em Xangai, onde participou da posse da ex-presidenta Dilma Rousseff no comando do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco de fomento dos Brics, teve encontro com empresários e visitou o centro de pesquisa e desenvolvimento da empresa de tecnologia Huawei.
Essa viagem é a quarta visita internacional de Lula após a posse neste terceiro mandato. O presidente já foi à Argentina, ao Uruguai e aos Estados Unidos. Ele também recebeu, em Brasília, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, no fim de janeiro.
A comitiva do presidente Lula deixa a China neste sábado (15). No retorno ao Brasil, o avião presidencial pousará em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, para uma visita oficial.
Mensagem simbólica
Antes da assinatura dos atos, Lula e a comitiva brasileira participaram de cerimônia de deposição de flores no monumento aos Heróis do Povo, na Praça Tiananmen, a Praça da Paz Celestial. Os dois mandatários foram recepcionados pela banda militar do Exército de Libertação do Povo Chinês (PLA, da sigla em inglês), ao som da canção 'Novo Tempo', de Ivan Lins e Vitor Martins.
A letra dessa canção é coberta de significados. Marca o fim das hostilidades sinofóbicas que marcaram o governo de Jair Bolsonaro. "No novo tempo, apesar dos castigos". Também sinaliza as mudanças que ocorrem de forma acelerada no tabuleiro da geopolítica mundial. "No novo tempo, apesar dos perigos".
Nessa visita história de Lula à China, que possa ser combustível para o desenvolvimento do sul global. "Pra que nossa esperança seja mais que vingança, seja sempre um caminho que se deixa de herança".
Com informações da Xinhua, CGTN e Agência Brasil