O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 77, adiou o embarque para a viagem oficial à China porque está com uma pneumonia leve. O embarque que seria nesta sexta-feira (24) foi adiado, inicialmente, para o domingo (26).
"O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, está no Alvorada após exames no hospital Sírio Libanês ontem a noite. O presidente está com pneumonia leve e irá, por conta disso, adiar para domingo o início da sua viagem para a China", divulgou a equipe de Lula pelas redes sociais.
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A viagem de Lula à China será a maior visita de Estado do início de seu terceiro mandato, juntamente com uma comitiva com centenas de empresários, além de governadores, senadores, deputados e ministros. A programação inclui visitas, conversas bilaterais, eventos oficiais e assinaturas de diversos acordos.
O objetivo do governo brasileiro é promover o relançamento das relações com aquele que é o principal parceiro comercial do país desde 2009. Em 2022, a China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros, especialmente soja e minérios, e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume comercializado, US$ 150,4 bilhões, cresceu 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004.
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Principal exportador de produtos agropecuários para a China, o Brasil voltará a vender carne bovina para o país asiático, após o fim da suspensão da compra por razões fitossanitárias, nesta semana. Mais de 100 empresários do setor agropecuário fazem parte da comitiva que acompanha o presidente Lula.
Outras áreas de destaque na pauta do evento incluem o turismo entre os dois países, e investimentos. Os programas brasileiros de combate à fome, de proteção ao meio ambiente e de desenvolvimento sustentável poderão ser vistos novamente como referência pelo governo chinês.
Nas relações bilaterais, pelo menos 20 acordos bilaterais deverão ser assinados durante a visita. Um deles será para a construção do CBERS-6, o sexto de uma linha de satélites construídos em parceria entre Brasil e China. O diferencial do novo modelo é uma tecnologia que permite o monitoramento de biomas como a Floresta Amazônica mesmo com nuvens.
Agenda de compromissos
Os principais eventos diplomáticos da viagem vão ocorrer na próxima terça-feira (28) em Pequim, quando Lula terá reuniões com as principais lideranças da China: o presidente Xi Jinping, o primeiro-ministro Li Qiang, e o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji. A pauta bilateral irá envolver comércio, investimentos, reindustrialização, transição energética, mudanças climáticas, acordos de cooperação e paz.
A quarta-feira (29) será dedicada a um evento empresarial promovido pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível e pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, com a participação de mais de 240 empresários brasileiros. Também haverá um evento no dia 27, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), com cerca de 100 empresários.
Dilma Rousseff nova presidenta do Banco do Brics
A ex-presidenta brasileira foi eleita nesta sexta-feira, por unanimidade, pelo Conselho de Governadores do NDB. Na quinta-feira (30), o presidente Lula irá a Xangai, onde visitará a sede do Novo Banco de Desenvolvimento, entidade criada pelos Brics (grupo formado por Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul) para fomentar projetos em países em desenvolvimento.
No centro financeiro da China, Lula também vai acompanhar a posse oficial da ex-presidenta Dilma Rousseff na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), o Banco do Brics.
Outro item da agenda de Lula em Xangai deve incluir uma visita a um centro de pesquisa da Huawei e uma parceria no desenvolvimento de tecnologia de monitoramento.
Relançamento das relações bilaterais
A visita faz parte da reconstrução das relações internacionais do novo governo brasileiro, que inclui as viagens já feitas à Argentina, onde também ocorreu a reunião da Celac, ao Uruguai e aos Estados Unidos, além das reuniões com líderes europeus que vieram para a posse em janeiro. Será também a primeira visita fora do hemisfério ocidental.
O presidente Lula também será o primeiro chefe de Estado a ser recebido pelo presidente chinês, Xi Jinping, desde que ele foi novamente reeleito para o cargo pela Assembleia Popular Nacional, o parlamento do país, no início deste mês.
Esta será a terceira visita oficial do presidente brasileiro à China. A relação entre os dois países se estreitou - e a balança comercial passou a crescer de forma contínua e sustentada - desde 2004, com a primeira visita do presidente Lula a Pequim. A segunda vez foi em 2009.
Parceiros comerciais
O ano de 2023 é o cinquentenário do início das relações comerciais entre Brasil e China. A primeira venda entre os dois países aconteceu em 1973. No ano seguinte, foram formalizadas as relações diplomáticas sino-brasileiras.
Em 2022, o produto brasileiro mais vendido para o mercado chinês foi a soja, com 36% do total exportado, seguido pelo minério de ferro com 20% e o petróleo com 18%. O perfil da exportação mudou um pouco em janeiro e fevereiro de 2023, com o petróleo na liderança com 23%, seguido pela soja (22%) e o minério de ferro (21%).
O comércio com a China foi alavancado nos dois primeiros mandatos do presidente Lula. Em 2003, seu primeiro ano na presidência, as exportações para o mercado chinês somavam apenas US$ 4,5 bilhões e as importações, US$ 2,1 bilhões, um volume comercial de US$ 6,6 bilhões.
No último ano do segundo mandato, em 2010, as exportações tinham crescido 582%, para US$ 30,7 bilhões, as importações foram para US$ 25,6 (aumento de 1.100%), para um volume comercial de US$ 56,3 bilhões (crescimento de 753%).
Nova Rota da Seda
As negociações para a adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês), a Nova Rota da Seda, também podem avançar durante a visita de Lula à China. "Não tem razão para o Brasil não entrar", disse o embaixador Celso Amorim, chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, em entrevista ao jornal Valor Econômico desta sexta-feira.
A adesão, proposta pela China nos pontos preliminares do comunicado conjunto que as equipes diplomáticas dos dois países têm discutido desde a posse de Lula, ainda depende de muitos acertos, como a parceria com empresas brasileiras nos investimentos anunciados.
"Não tenho preconceito e não vejo nenhum dano político", disse Amorim na entrevista. O embaixador não vê, numa eventual adesão, uma opção preferencial pela China relativamente aos Estados Unidos.
A entrada brasileira na BRI tem sido tentada pela China desde 2013, quando a iniciativa foi lançada. Ao longo desta década, a Nova Rota da Seda avançou para toda a América do Sul. Apenas Brasil e Colômbia não aderiram ainda. O Paraguai não entra na lista porque não mantém relações diplomáticas com a China. Na União Europeia, a iniciativa já conquistou a adesão de Portugal, Grécia e Itália.
Carros elétricos e aviões
A visita ainda deve concretizar a vinda para o Brasil da fábrica chinesa de carros elétricos, BYD. A indústria vai se instalar nos galpões onde já funcionou, na Bahia, a fábrica da Ford. A fábrica chinesa gozará dos benefícios fiscais já concedidos à indústria americana. A expectativa, porém, é que a linha não seja 100% de carros elétricos, visto que o Brasil não tem uma rede nacional de abastecimento. A avaliação é de que uma boa parte da produção seja dedicada a carros híbridos.
A visita da comitiva brasileira à China também deve concretizar a venda de 20 aviões E-190, da Embraer, para a aviação regional chinesa. A oficialização do contrato ainda depende da autorização do órgão regulador chinês.
Combate à fome
Durante a visita, Lula e Xi vão assinar um compromisso de combater a fome e a pobreza extrema com a previsão de que seja construída uma aliança nos organismos multilaterais para colocar o tema na agenda internacional. O entendimento entre Brasil e China vai permitir designar áreas prioritárias para lidar com a fome e a pobreza e dar início aos trabalhos para implementar as medidas.
Do lado brasileiro, a missão ficará com os ministérios do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. Um primeiro encontro entre ministros já está programado para as próximas semanas. O acordo prevê uma cláusula para a colaboração multilateral, inclusive na construção de uma aliança contra a fome.
A parceria sino-brasileira no enfrentamento à fome deverá contar com o apoio da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Alimentos e Agricultura, a FAO, que é presidida pelo chinês Qu Dongyyu. Há poucas semanas, o governo brasileiro apoiou a reeleição do dirigente ao cargo em Roma. O presidente Lula, inclusive, chegou a se reunir com a FAO quando esteve na Argentina.
A China eliminou a extrema pobreza uma década antes do estipulado pela Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável. No dia 25 de fevereiro de 2021, em plena pandemia da Covid-19, o governo chinês anunciou que a extrema pobreza estava abolida no país. Em 40 anos, mais de 900 milhões de pessoas foram retiradas da situação de miséria extrema.
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