CHINA EM FOCO

Modernização chinesa abre oportunidades para estreitar os laços entre Brasil e China

Evento realizado nesta quarta-feira (15), em Brasília, abordou os caminhos abertos para aprimorar as relações sino-brasileiras

Créditos: CMG - Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, abriu o seminário
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Nesta quarta-feira (15) foi realizado em Brasília (DF) o seminário "Modernização chinesa e as novas oportunidades nas relações sino-brasileiras". Organizado pela China Media Group (CMG) América Latina, Grupo Bandeirantes de Comunicação e Instituto Lula, o evento sucede o principal evento político anual da República Popular da China, as Duas Sessões, e antecede a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, prevista para o dia 28 de março. 

Alinhamento estratégico

CMG - Embaixador Zhu Qingqiao

O embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, foi o primeiro a falar. Ele destacou o processo histórico da modernização ao estilo chinês e afirmou que o país asiático está disposto a fortalecer a cooperação e avançar junto com o Brasil e elencou três prioridades para as relações sino-brasileiras: fortalecer o alinhamento estratégico, ampliar as fronteiras da cooperação e intensificar a concertação multilateral.

Quanto à necessidade de fortalecer o alinhamento estratégico, Zhu citou que, no contexto atual, China e o Brasil são os grandes países em desenvolvimento com relevância global e compartilham interesses e responsabilidades comuns para o desenvolvimento. 

"Gostaríamos de fortalecer os contatos de alto nível com o lado brasileiro, aumentar a confiança política mútua, intensificar o intercâmbio e o aprendizado mútuo, bem como se apoiar na busca independente por caminhos de modernização, para alcançar em conjunto progresso e prosperidade", destacou o diplomata.

Zhu afirmou ainda que com a cooperação nas áreas tradicionais consolidada, Brasil e China precisam criar novos pontos de crescimento em novos horizontes: economia digital, a economia verde e a inovação científica e tecnológica para contribuir com uma parceria bilateral de alta qualidade para a respectiva modernização. 

"Ao mesmo tempo, devemos expandir a cooperação em campos como redução e alívio da pobreza, proteção ambiental, prevenção e mitigação de desastres e saúde pública, para que a população possa usufruir de uma parceria bilateral mais ampla e mais tangível", citou.

Quanto à cooperação multilateral, o diplomata chinês garantiu que Pequim quer atuar com o Palácio do Planalto para fortalecer ainda mais a coordenação e a cooperação na Organização das Nações Unidas (ONU), no Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), G20 e outras plataformas. 

"Vamos trabalhar juntos para promover a democratização das relações internacionais, aumentar a voz dos países em desenvolvimento, promover a governança global mais justo e razoável e salvaguardar firmemente a paz mundial e o desenvolvimento comum, criando com isso um bom ambiente internacional para a modernização dos dois países", finalizou o embaixador. 

A vez do Sul Global

CMG - Márcio Pochmann

O presidente do Instituto Lula, Márcio Pochmann, também participou do evento e destacou que o mundo vive hoje momentos turbulentos, mas que oferecem a oportunidade de reflexão coletiva sobre uma virada de época histórica que favorece o sul global. "Há um desafio para compreender o novo mundo que se desloca do ocidente para o oriente", observou. 

Após o evento, Pochmann conversou com a Revista Fórum e falou sobre a expectativa do encontro entre os presidentes Lula e Xi Jinping, agendada para o final deste mês, que ele avalia como positiva. Sobretudo ao comparar com o que ocorreu nos governos anteriores, em especial a gestão de Jair Bolsonaro. 

"A experiência dos dois mandatos do presidente Lula, e também da presidenta Dilma Rousseff, foram momentos de construção de uma aproximação não apenas de uma relação comercial, mas política, com a China, que inclusive redundou na constituição dos Brics, que possivelmente implicará para as próximos anos e talvez décadas, o novo centro do dinamismo mundial a partir das relações do Sul Global", comentou.

Oportunidade para o Brasil

CMG - Zhu Boying

O diretor da CMG América Latina, Zhu Boying, ressaltou que a mídia testemunha e divulga a história e a modernização chinesa, que é uma alternativa nova para a civilização humana. 

"O desenvolvimento chinês pode trazer mais oportunidades para a parceria chinesa com o Brasil e com a América Latina. Todos nós estamos vivendo a história. Espero que a cooperação entre as mídias chinesas e brasileiras possa ser ainda mais fortalecida, de modo que registre e apresente o progresso da China e a vida cotidiana do povo chinês", afirmou. 

Consertando o estrago de Bolsonaro

CMG - Jorge Viana

Já o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Jorge Viana, ex-governador do Acre, fez uma apresentação sobre o trabalho da  agência e os destaques das relações comerciais sino-brasileiras. 

Viana listou que a China foi o principal parceiro comercial do Brasil em 2022, que é o principal destino das exportações brasileiras (26,8% do total), o maior fornecedor do mercado brasileiro e uma importante fonte de divisas externas para o Brasil
(46,6% do superávit brasileiro em 2022). 

Além disso, o Brasil é o sétimo maior fornecedor para a China, com participação de 4,2% do mercado. Enquanto a China lidera a lista de fornecedores nacionais, com 23,2% de participação no mercado brasileiro.

O presidente da Apex Brasil destacou que a China é hoje um dos países mais importantes do mundo em todos os aspectos, inclusive de modernidade, da agenda do clima e da revolução tecnológica em curso. "Um país como o Brasil que disputa o mundo não pode prescindir de ter uma relação estratégica com a China em todos os sentidos", observou.

Viana relembrou que o presidente Lula tem um enorme desafio pela frente para consertar o estrago deixado por Bolsonaro nas relações sino-brasileiras. "Nós tínhamos um governo que tratou com desdém a China, fez piada com a China, sendo que a China é o maior parceiro comercial do país. Eu não sei como a classe empresarial ainda criava um ambiente de simpatia com o governo, porque isso foi muito prejudicial para os negócios brasileiros", recordou.

Agora a página da história virou. Viana garante que o presidente Lula trouxe de volta a diplomacia presidencial e do melhor jeito e que vai levar um grupo de 200 empresários a Pequim para rodadas de negócios no final deste mês. "Com esse encontro empresarial nosso objetivo é mudar o perfil que nós temos dos investimentos diretos na China no Brasil e dos investimentos diretos do Brasil na China", antecipou.

Falta um plano estratégico do Brasil

CMG - Evandro Carvalho

O professor de Direito Internacional e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China na Fundação Getúlio Vargas (FGV) Direito Rio e professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), Evandro Menezes de Carvalho, parabenizou a iniciativa do evento porque ajuda a ampliar a interlocução com outras pessoas que querem conhecer a China.

Por outro lado, ele falou sobre a necessidade de o Brasil desenvolver um projeto estratégico para o relacionamento com a China. Ele cita que não está claro, por exemplo, se o Brasil irá aderir à iniciativa Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês), a Nova Rota da Seda.

Sobre a viagem de Lula a Pequim, ele ressalta que é preciso ligar os pontos dentro de uma estratégia de desenvolvimento, o que ainda não existe. Ele observa que os empresários brasileiros que irão à China na comitiva presidencial vão atrás das próprias oportunidades de investimento, mas não estão dentro de um plano mais amplo. "Pelo potencial do Brasil e da parceria vai ser ainda muito aquém do que deveria ser".

O evento contou ainda com a participação do diretor de conteúdo do Grupo Bandeirantes de Comunicação, André Basbaum; e do secretário da Secretaria-Executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Paulo Henrique Rodrigues Pereira.