"O ARIANO IBÉRICO"

André Ventura, o finório português que “ameaça” Gilmar Mendes

Confira o raio-x de um idiota. Em Portugal, que produz rolhas, 90% do investimento público é pago pela UE, mas ele retrata o Brasil, 10ª economia do planeta, como “3° mundo”. Só rindo

O deputado português André Ventura a gritar, como faz habitualmente, na Assembleia da República.Créditos: Henrique Rodrigues/Revista Fórum
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De LISBOA | Finório é a palavra que melhor define André Ventura, o deputado que lidera o Chega, principal partido de extrema direita de Portugal e que recentemente se tornou a segunda força política no parlamento nacional. Sempre posando de bom-moço e desinteressado, advoga em nome de um suposto patriotismo que coloca os portugueses em primeiro lugar em tudo, para no fundo revelar-se um sujeito agressivo, xenófobo e espertalhão, que com essa conversa fiada ganha cada vez mais poder.

Depois de conseguir emplacar uma narrativa nas eleições de maio deste ano que tornou os estrangeiros “o maior problema de Portugal”, e de ver suas cadeiras na Assembleia da República crescerem de 50 para 60, num universo de 230, Ventura agora além de demonizar os imigrantes expande seus horizontes. É preciso dizer que nos últimos anos seus discursos contra brasileiros tinham dado uma arrefecida, mirando mais no que os portugueses chamam de “hindustânicos” (pessoas provenientes da Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal). Só que uma onda de memes e sacaneadas que tomou a internet desde o início de 2025 retratando o pequenino país europeu como uma colônia do Brasil o fez recrudescer e voltar à carga contra os chamados não tão carinhosamente de “zucas” (de brazucas).

Nessa expansão de horizontes, emulando a família Bolsonaro, de quem é fã e vive a bajular, Ventura agora apontou seus canhões para Gilmar Mendes. Sim, o ministro brasileiro que integra o Supremo Tribunal Federal, que junto com Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia formam os alvos preferidos da extrema direita bolsonarista. O magistrado tem um apartamento em Lisboa, no bairro nobre de Príncipe Real, e isso para o deputado luso deve ser objeto de uma investigação para averiguar sua “influência, patrimônio e rede de interesses em Portugal”. Pois é, um apartamento fez com que o extremista anunciasse a abertura de um procedimento no parlamento para “enquadrar” Gilmar.

As questões envolvendo a imigração tomaram o país de uns meses para cá. Numa nação em que os aluguéis se tornaram os mais caros da União Europeia (está mais dispendioso conseguir um imóvel em Lisboa do que em Paris, Milão, Berlim ou Barcelona), fazendo com que multidões rumem para rua, e onde o sistema de saúde colapsou completamente e alguns hospitais fecham durante o fim de semana, com filas nos prontos-socorros de até 17 horas, uma fração significativa dos portugueses passou a acreditar da noite para o dia que tudo é culpa de quem não nasceu por lá. A teoria, completamente estúpida e absurda, cai por terra com alguns números.

Num país com uma superpopulação de idosos, as aposentadorias são garantidas com a contribuição dos estrangeiros à previdência social. Em 2024, imigrantes já somavam 13% de todos os recursos recolhidos nesse setor. E mais: eles contribuem cinco vezes mais do que “consomem” esses recursos. Na prática, são os agora demonizados estrangeiros que garantem a renda dos mais velhos e doentes num dos países mais pobres da União Europeia.

Aliás, a questão da grande autoestima de Ventura esbarra também nas estatísticas e dados oficiais. Sempre a falar de Portugal como uma “nação desenvolvida” e que “não precisa de imigrantes”, pois “Portugal deve ser dos portugueses”, o radical reacionário não menciona o fato de seu país ter o 7° pior salário mínimo da União Europeia, ficando apenas à frente de Bulgária, Hungria, Letónia, Roménia, Eslováquia e República Checa. Se isso fosse tudo, a coisa até estaria boa, mas a pequenina nação da franja ocidental da Península Ibérica é o país que mais depende dos vizinhos ricos do bloco: um relatório publicado na semana passada mostrou que 90% de tudo que é investimento público em Portugal vem do Fundo Europeu. Ou seja, de chapéu na mão e vivendo das migalhas das potências, Ventura ainda encontra espaço para seu ufanismo tosco e risível.

É curioso ver também o extremista e seus seguidores tentando retratar o Brasil como um país de “terceiro mundo”, enquanto eles, os portugueses, seriam “desenvolvidos”. Não é segredo para ninguém que Portugal se jacta de ser o maior produtor mundial de cortiça. Sim, enquanto fabricam rolhas, o Brasil, 10ª economia do planeta, desenvolve e projeta satélites, tem uma das mais modernas e tecnológicas indústrias farmacêuticas do globo, referência em projetos de vacina pelo método de mRNA, além de produzir os mais modernos antirretrovirais para o combate ao HIV, e é um dos seis únicos países do mundo a construir aviões comerciais, com a Embraer, que até colocou uma unidade da empresa em Portugal.

Distraídos pela bobajada de Ventura, os portugueses podem se lançar ao abismo em breve. O parlamento, por iniciativa e pressão do Chega, mas também por consentimento do PSD, de centro-direita, que tem maioria simples e nomeou o primeiro-ministro Luís Montenegro, passou a colocar em marcha uma série de projetos de lei para dificultar e infernizar a vida dos estrangeiros que vivem no país, como dificultar vistos e tornar mais complicada a aquisição de nacionalidade após vários anos em solo português. O problema é que o país depende totalmente dessa mão de obra para tudo e inclusive sobram empregados em quase todos os setores.

A boçalidade infantil de Ventura e de seu eleitorado, no médio prazo, se os estrangeiros optarem por outros países da União Europeia, mais ricos e com salários melhores, pode resultar em gravíssimos problemas econômicos para Portugal. Mas como no Brasil, o que vale é lacrar e explorar ao máximo essa verdadeira indústria do ressentimento que tanto une mentes e corações mundo afora, tudo em nome de um radicalismo cego e estúpido construído em cima de idiotices e propagado por finórios e malandros como o deputado que só grita e que não apresenta nada de real para a nação.

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