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Esquerda é favorita nas eleições presidenciais da Coreia do Sul

Candidato do Partido Democrata Lee Jae-myung pode ser o novo presidente após a destituição de Yoon Suk Yeol, que tentou impor uma lei marcial no país em dezembro; resultado pode mudar relação do país com EUA e China; entenda

Apoiadores de Lee Jae-myung, candidato presidencial do Partido Democrático de Coreia do Sul, durante seu último evento antes das eleições presidenciais
Apoiadores de Lee Jae-myung, candidato presidencial do Partido Democrático de Coreia do Sul, durante seu último evento antes das eleições presidenciaisCréditos: ANTHONY WALLACEAFP
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A Coreia do Sul vai às urnas nesta terça-feira (3) para eleger um novo presidente que vai substituir Yoon Suk Yeol, destituído do cargo devido à sua breve imposição da lei marcial em dezembro.

Desde a saída de Yoon do cargo, a Coreia do Sul enfrenta "uma catástrofe lenta", segundo Jeremy Chan, especialista regional do Eurasia Group, em entrevista ao GZero. O cenário se refletiu na economia, na política externa e na imagem de Seul como uma democracia estável.

O candidato vencedor tomará posse imediatamente na quarta-feira (4) para cumprir um mandato único e completo de cinco anos, sem o período de transição típico de dois meses.

Visões distintas

O país decidirá entre dois candidatos com visões bastante contrastantes para o futuro do país. Conforme o resultado das urnas, Seul pode permanecer alinhada com os Estados Unidos e o Japão ou se mudará para um rumo mais independente, favorecendo possíveis laços mais estreitos com a China.

À direita, o conservador Partido do Poder Popular, de Yoon, indicou Kim Moon-soo, um dos poucos políticos que permaneceram leais ao ex-presidente durante o drama do seu impeachment. Seu adversário é o candidato do Partido Democrata Lee Jae-myung, ex-prefeito, governador e legislador com um histórico de inclinação à esquerda.

“Por duas décadas, Lee tem sido um progressista clássico”, pontua Chan ao GZero. “Governo amplo, impostos altos sobre empresas e os ricos, e redistribuição.”

O favorito Lee entrou em conflito com o governo de Yoon como líder da oposição, após perder por apenas 0,73% dos votos na eleição presidencial de 2022. Yoon vetou um número recorde de projetos de lei aprovados pelo parlamento controlado pela oposição.

Segundo uma pesquisa Gallup Coreia divulgada na semana passada, Lee lidera as intenções de voto por uma diferença de 14 pontos sobre Kim.

Divisão do eleitorado

"A sociedade sul-coreana se tornou cada vez mais polarizada ao longo dos três anos do governo Yoon e dos cinco anos do governo anterior", explica o diretor de pesquisa de análise de opinião pública da Gallup Korea, Heo Jinjae, em uma entrevista coletiva, segundo o NPR.

Também ao site, a professora de política Yoo Sung-jin, da Universidade Feminina Ewha, em Seul, explica que se trata de uma divisão que vai além da política. "Não é uma questão de posicionamento sobre uma questão ou política. As pessoas simplesmente odeiam o outro lado. É uma polarização emocional. Então, vira um choque entre nós e eles, o bem e o mal."

Em uma pesquisa pós-eleitoral realizada pela Gallup Korea em 2022, o "ressentimento pelo outro candidato" estava entre os principais motivos que sustentavam a escolha entre os dois principais candidatos.

Impactos na região

No governo de Yoon, a Coreia do Sul tomou medidas importantes para normalizar as relações com o Japão e aprofundar a cooperação trilateral em segurança com Washington e Tóquio, culminando na cúpula de Camp David em agosto de 2023, que Chan pontua que "seria impensável sob o governo anterior do Partido Democrata".

Embora esteja publicamente comprometido em manter relações estáveis com Tóquio, buscando atrair os votos dos eleitores moderados, Lee já chamou a política japonesa de Yoon de "subserviente".

Neste reequilíbrio de aliados da Coreia do Sul, os chineses podem aumentar sua influência. Durante a campanha eleitoral, Lee afirmou que Seul deveria se manter fora de qualquer conflito entre China e Taiwan, embora ressalte que não é pró-Pequim. O presidente da Assembleia Nacional da Coreia do Sul, aliado de Lee, recebeu uma recepção calorosa em Pequim, incluindo uma reunião de uma hora com Xi Jinping .

“Eles [a China] estão tratando Lee como o próximo presidente — e como alguém com quem podem trabalhar”, aponta Chan.

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