Em um discurso televisionado na noite desta quarta-feira (5), o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que vai conversar com aliados europeus sobre a ideia de usar a dissuasão nuclear da França para proteger o continente.
A dissuasão nuclear é considerada uma estratégia de segurança internacional baseada na ideia de que a posse desse tipo de armamento pode prevenir um ataque adversário em função da possibilidade de uma resposta devastadora. Atualmente, a França é a única potência nuclear na União Europeia (UE). O Reino Unido, que não faz mais parte da UE, também possui seu arsenal.
Te podría interesar
O discurso de Macron foi realizado em um contexto no qual fez duras críticas ao governo russo, afirmando que seu comportamento agressivo "não parecia conhecer fronteiras". "A Rússia se tornou uma ameaça para a França e a Europa", disse ele, acrescentando que "assistir e não fazer nada seria loucura".
Na sua fala, o presidente francês também criticou o cessar-fogo proposto pelos Estados Unidos e insistiu no papel da UE nas negociações de paz. “Nós devemos continuar a ajudar os ucranianos a resistir. O caminho não pode passar pelo abandono da Ucrânia”, disse. “O futuro da Europa não deve ser decidido em Washington.”
Te podría interesar
Os líderes da União Europeia devem abordar a questão da dissuasão nuclear, entre outros temas, durante uma cúpula especial que será realizada em Bruxelas, na Bélgica, nesta quinta-feira (6).
A dissuasão nuclear francesa funcionaria?
Para o pesquisador associado no Instituto de Estratégia e Estudos de Defesa, Universidade Jean Moulin Lyon 3, na França, Benoît Grémare, sem o apoio dos EUA, "o equilíbrio de poder parece amplamente desfavorável à França, que tem um total de 290 ogivas nucleares, em comparação com pelo menos 1.600 ogivas posicionadas e quase 2.800 ogivas armazenadas no lado russo".
"Certamente, o poder explosivo das ogivas termonucleares, combinado com o alcance do míssil balístico estratégico mar-terra francês M51, tornaria possível destruir as principais cidades russas, incluindo Moscou", explica ele, em artigo publicado no The Conversation. "No entanto, os russos precisariam apenas de “200 segundos para atomizar Paris”, de acordo com uma estimativa dada pela televisão russa sobre os mísseis termonucleares 'Satan II' ".
Ele ressalta que o tamanho do arsenal teria que ser discutido pra poder defender o restante do continente. "Mover-se em direção a uma europeização da força nuclear significa aumentar as capacidades de dissuasão e, portanto, expandir o arsenal francês para que ele possa responder às ameaças que afetam todos os 27 estados-membros da UE. Isso exigiria a criação de estoques adicionais de material físsil e a reativação das plantas de produção em Pierrelatte e Marcoule , que foram desmanteladas no final da década de 1990", pontua.
"O dogma sobre o que constitui um arsenal suficiente também deve ser questionado. Se 290 ogivas nucleares representam o valor que a França coloca na defesa de sua existência, esse preço parece negligenciar a escala do continente europeu, e a lógica confirma isso: potências nucleares de tamanho continental, como os EUA e a Rússia – e em breve, a China – estão implantando um arsenal de cerca de 1.000 ogivas termonucleares", destaca.