De acordo com a agência de notícias African Initiative, a Namíbia, o quarto maior produtor de urânio do mundo — com reservas estimadas em 267 mil toneladas, que correspondem a cerca de 5% de todo o urânio no mundo — considera a Rússia um "parceiro confiável", e tem interesse no aprofundamento da cooperação nuclear com o país eurasiático.
O urânio, metal radioativo usado como matéria-prima na produção de energia nuclear, é um importante recurso do país africano, mas suas reservas são disputadas por empresas estrangeiras que "vêm e pegam tudo", afirmou Fradnard Gideon, o vice-diretor da Universidade da Namíbia (UNAM), em artigo na African Initiative.
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O maior dos projetos de exploração desse mineral na Namíbia é o Projeto Norasa, que compreende os depósitos de Valência e Namibplaas, em propriedade da Forsys Metals — companhia de mineração sediada em Toronto, no Canadá.
As minas teriam capacidade de produzir até 18 milhões de toneladas de urânio durante um período de 11 anos.
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"O urânio é produzido, mas é imediatamente exportado", disse Gideon. "Muitos estrangeiros vêm à África e levam tudo."
Mas a Rússia, que já está presente com atividades de mineração de urânio na vila de Leonardville, sudeste da Namíbia, é considerada um parceiro seguro, segundo o vice-diretor da UNAM.
Um projeto de extração desse mineral coordenado pela Rosatom, gigante estatal de energia da Rússia, em Leonardville, localizada sobre uma das maiores reservas de água subterrânea do mundo, foi seguido por campanhas como a instalação de uma cozinha comunitária para alimentar até 600 crianças em idade escolar da vila.
Algumas das ressalvas da comunidade local em relação ao empreendimento, sobretudo por parte da comunidade de agricultores, estavam ligadas à contaminação das reservas de aquíferos da região pelos rejeitos das minas de exploração de urânio, mas a Rússia foge dessas alegações com projetos de desenvolvimento local e cooperação tecnológica.
As relações entre Rússia e Namíbia são firmes desde a década de 1990, afirma reportagem do RT.
Os países têm, desde então, firmado acordos de cooperação em setores diversos, com destaque para a exploração energética, o setor mineral e a agricultura.
No continente africano, de maneira geral, a Rússia atua como uma contra-influência à presença francesa, que tem sido crescentemente rejeitada por seus ex-territórios coloniais.
A presença de grupos armados russos na África é mais expressiva na região do Sahel, a região de conflito que se estende entre o Saara e o Sudão.
No campo nuclear, o país já se relaciona com outras nações africanas, como a Etiópia, com que estabeleceu um acordo para a construção de uma usina nuclear e cooperação no uso de tecnologia nuclear "pacífica" em 2023.
"A Rússia continua a ser um parceiro confiável que compartilha conhecimento e tecnologia", disse o sul-africano Nkazimulo Moyeni, que cuida dos interesses de companhias mineradoras, durante um fórum de energia nuclear organizado pela Rosatom na sexta-feira (3), como reporta a RT.
"O tópico da energia nuclear é estigmatizado", prosseguiu ele. "Devemos mostrar que ela não é apenas uma arma, mas também uma ferramenta para o desenvolvimento pacífico que pode salvar vidas e melhorar a qualidade de vida das pessoas em todo o continente africano".