Chamado de "grande defensor" da liberdade de expressão por políticos de extrema direita, Mark Zuckerberg, dono da Meta, empresa responsável pelo Facebook, Instagram e Whatsapp, quer censurar o livro de uma ex-funcionária que denuncia práticas antiéticas e assédio da big tech.
No livro "Careless People: A Cautionary Tale of Power, Greed and Lost Idealism" ("Pessoas Descuidadas: Um Alerta sobre Poder, Ganância e Idealismo Perdido", em tradução livre), Sarah Wynn-Williams, ex-diretora de políticas públicas da empresa, conta detalhes sobre tudo o que aconteceu na Meta entre 2011 e 2017.
Te podría interesar
Enquanto por um lado anuncia diversas mudanças em suas redes sociais com o argumento de "proteger a liberdade de expressão", por outro, Zuckerberg tenta impedir a circulação da obra recém-lançada. No começo do mês, o bilionário entrou com um processo para bloquear a divulgação do livro. A Justiça de Chicago decidiu a favor da empresa e proibiu que Wynn-Williams divulgue a obra enquanto o processo judicial avança.
Na ação, a Meta argumenta que a ex-funcionária violou cláusulas de não difamação previstas no contrato que assinou quando trabalhava na empresa. Com a decisão da Justiça, tanto a Meta quanto Wynn-Williams terão que fazer negociações privadas. Enquanto isso, a escritora e ex-funcionária está proibida de falar sobre seu livro e de divulgá-lo em qualquer formato.
Te podría interesar
O que Zuckerberg tenta esconder
De acordo com Wynn-Williams, o livro traz relatos sobre como a "grande e poderosa empresa [Meta] realmente é". Ela traz relatos sobre abusos éticos cometidos pela Meta com o objetivo de obter lucro, além de abusos sexuais que sofreu durante seus seis anos na empresa.
Segundo a ex-funcionária, a Meta teria permitido que os dados de usuários de Pequim fossem usados como "moeda de troca" para que a empresa passasse a operar na China.
Além disso, o livro também inclui denúncias de Wynn-Williams sobre assédio sexual que sofreu de Joel Kaplan, alto executivo da empresa e influente político republicano nos Estados Unidos, sendo próximo do presidnete Donald Trump. Wynn-Williams também relata comportamentos abusivos de Sheryl Sandberg, ex-diretora de operações da Meta.
A Meta se defende das acusações, afirmando que o livro é “falso e difamatório”. Apesar de sua venda ter sido proibida, o livro virou "best-seller" logo após seu lançamento nos EUA, no dia 13 de março.
Mark Zuckerberg lança manifesto 'pela liberdade de expressão'
No começo deste ano, Mark Zuckerberg lançou um manifesto em que diz "defender" a liberdade de expressão, e ainda anunciou uma série de mudanças em suas redes sociais que fragilizam os sistemas de checagem de informações, permitindo maior circulação de fake news e discurso de ódio. O discurso de bilionário foi publicado através de um vídeo em suas plataformas no dia 7 de janeiro.
Em seu pronunciamento, Zuckerberg afirmava que "os checadores de fatos são muito enviesados politicamente e destruíram mais a confiança [das pessoas] do que a criaram, especialmente nos EUA”. Ele ainda acrescentou que o objetivo do fim da checagem de fatos é ‘reduzir erros’ e restaurar a ‘liberdade de expressão’.
“Criamos vários sistemas complexos de moderação, mas o problema é que eles cometem erros. Mesmo se eles acidentalmente censurem apenas 1% das publicações, isso significa milhões de pessoas, e chegamos a um ponto onde há muitos erros e muita censura", disse o CEO.
LEIA MAIS: Zuckerberg anuncia fim de sistema de checagem de fatos pela Meta
As mudanças nas plataformas foram anunciadas como um aceno Zuckerberg ao novo governo de Donald Trump, contrário à regulamentação das plataformas e impulsionador de fake news e discursos de ódio contra grupos socialmente minorizados, principalmente à comunidade LGBTQIAPN+.
Com o discurso de "liberdade de expressão", Zuckerberg passou a permitir que suas redes sejam cenários de ataques, preconceitos e violência contra pessoas LGBTQIAPN+, mulheres, imigrantes e outros grupos, como mostram as novas regras.
LEIA MAIS: Após acabar com checagem, Meta permite que gays e trans sejam rotulados como “doentes mentais”