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De vilão a descolado das big techs, como Mark Zuckerberg reconstruiu a própria imagem

Dono da Meta, que controla as plataformas Facebook, Instagram e WhatsApp, exibe estátua encomendada para homenagear a esposa, ação faz parte de um plano para limpar sua reputação

Créditos: Fotomontagem (Wikipedia e Instagram @zuck) - CEO da Meta transformou imagem pessoal e postura desde 2018
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Mark Zuckerberg chamou a atenção ao encomendar uma enorme escultura de sua esposa, Priscilla Chan. Em uma foto da estátua, postada no Instagram, o CEO e cofundador do Facebook disse que estava "trazendo de volta a tradição romana de fazer esculturas de sua esposa".

A grande escultura foi feita por Daniel Arsham, um artista baseado em Nova York que já colaborou com marcas como Tiffany e Dior. Chan é representada em verde e parece estar em movimento, com um grande manto prateado fluindo atrás dela.

A foto de Zuckerberg foi postada nesta terça-feira (13) e mostra Chan ao lado da estátua, colocada sob uma árvore. Nos comentários, Chan escreveu: “Quanto mais de mim, melhor?” junto com o emoji de coração.

Reprodução Instagram Zuck

Reconstrução da imagem pessoal

A divulgação da homenagem romântica faz parte de um processo de reconstrução da própria imagem de Zuckerberg, que também trabalhou para reposicionar a marca de sua empresa.

Em 2018, quando explodiu o escândalo da Cambridge Analytica, o CEO da Meta - empresa que controla as plataformas Facebook, Instagram e WhatsApp, era considerado o maior vilão do mundo da tecnologia. Hoje, ele é o empresário mais descolado do Vale do Silício.

Para passar a ser visto como um mocinho, Zuck investiu pesado para aprimorar a sua comunicação pessoal e imagem pública. Começou a participar de mais entrevistas e eventos para discutir o futuro da tecnologia e explorar as próprias perspectivas sobre o papel social das empresas de tecnologia na tentativa de se posicionar como um líder reflexivo e consciente dos desafios éticos e sociais enfrentados pela indústria tecnológica.

Ajuda de um trumpista para ser porta-voz de millennials

Fotomontagem (Wikipedia) - Mark Zuckerberg e Peter Thiel

A partir de 2020, com uma mãozinha de Peter Thiel, um dos cofundadores do PayPal e notório apoiador de Donald Trump durante as eleições de 2016, Zuck se moldou como porta-voz dos millennials.

Thiel é  conhecido por suas amplas conexões no Vale do Silício e por sua influência considerável na tecnologia e na política. Ele foi um dos primeiros investidores externos no Facebook, o que proporcionou uma relação estreita e de longo prazo com Zuckerberg.

A partir dos conselhos do trumpista do Vale do Silício, Zuck tem investido fortemente em tecnologias avançadas como realidade aumentada e virtual e no desenvolvimento do conceito de metaverso, que são áreas de grande interesse para os millennials interessados em tecnologia e inovação digital.

Zuckerberg frequentemente organiza sessões de perguntas e respostas ao vivo, onde interage diretamente com usuários de todo o mundo, muitos dos quais são millennials. Nessas sessões, ele discute desde atualizações de produtos até questões sociais e políticas, mostrando uma abertura para diálogo que ressoa com esse público.

O novo descolado do Vale do Silício tem se posicionado a favor de várias causas sociais, como a igualdade racial e o casamento igualitário, temas que têm grande apoio entre os millennials. As plataformas de Zuck também têm sido usadas para amplificar vozes e movimentos sociais, alinhando-se com os valores dessa geração.

Sob a liderança de Zuckerberg, o Facebook e depois a Meta adaptaram seus algoritmos e plataformas para fornecer conteúdo que é relevante e atraente para os millennials, incluindo a introdução de recursos de vídeo como o Facebook Watch e investimentos em conteúdo original que apela para os interesses desta faixa etária.

Respondendo aos valores dos millennials, Zuckerberg tem falado sobre a responsabilidade corporativa da Meta em lidar com desinformação e impacto ambiental, buscando posicionar a empresa como um agente de mudança positiva.

Mudança no guarda-roupas e no visual

Nessa jornada para mudar a própria imagem, Zuck não poupou seu guarda-roupas ou penteado. As monótonas camisetas cinzas foram trocadas por peças de outras cores e o apareceu com cabelos mais longos e cacheados.

Além do tapa no visual, Zuckerberg expandiu sua presença além do mundo tecnológico. Já foi fotografado exibindo uma pele mais bronzeada e até consumindo um lanche de fast-food. 

Reprodução TikTok - Zuck em treino de jiu-jitsu

No esporte, avançou no jiu-jitsu e chegou a conquistar a faixa azul em julho do ano passado. O CEO da Meta também se aventurou na pecuária e agora gerencia uma fazenda de 600 hectares no Havaí. 

O perfil de Ronak Kadhi no X (antigo Twitter) fez um fio para mostrar as mudanças do CEO da Meta.

 "Zuck começou a se apresentar de maneira diferente. O Zuck 2.0 estava fazendo hydrofoil vestido de smoking, contando piadas em podcasts e, finalmente, parecendo humano", escreveu.

Mudanças na empresa

Ao longo desses seis anos, Zuckerberg fez várias mudanças significativas para remodelar sua imagem pessoal e da sua empresa de tecnologia. Em 2021, anunciou a mudança de nome do Facebook para Meta.

A mudança serviu para refletir uma nova orientação estratégica para a empresa com foco em construir o "metaverso" - um ambiente digital imersivo que visa ser a próxima geração da internet. Essa mudança visava não apenas distanciar a empresa de controvérsias passadas, mas também posicionar Zuckerberg como um visionário tecnológico focado no futuro.

Zuckerberg implementou mudanças nas políticas de privacidade e segurança de dados do Facebook, limitando o acesso de terceiros aos dados dos usuários e aumentando a transparência sobre como os dados são coletados e usados.

Sob a liderança dele, a Meta investiu pesadamente em tecnologias emergentes, incluindo realidade aumentada, realidade virtual, inteligência artificial e mais. Esses investimentos visam não apenas melhorar a experiência do usuário, mas também criar novas plataformas para interação social, trabalho e entretenimento.

Ele também tem se pronunciado mais ativamente sobre questões sociais e ambientais, tentando alinhar a marca Meta com valores de responsabilidade social e sustentabilidade. Isso incluiu iniciativas para combater as mudanças climáticas, promover a inclusão e a diversidade, e participar em esforços de ajuda humanitária e desenvolvimento comunitário.

Esses esforços coletivos de reformulação da imagem têm sido parte de uma estratégia abrangente para reconstruir a confiança do usuário e posicionar tanto Zuckerberg quanto sua empresa como líderes em inovação tecnológica e responsabilidade social no novo cenário digital.

Relembre o escândalo da Cambridge Analytica

A ligação entre o Facebook e o escândalo da Cambridge Analytica é um dos episódios mais controversos na história das redes sociais e do uso de dados pessoais.

Em 2014, um aplicativo de quiz chamado "thisisyourdigitallife" foi desenvolvido por Aleksandr Kogan, um pesquisador acadêmico. Este aplicativo utilizou uma plataforma do Facebook para coletar dados de usuários que o instalaram. 

Devido às políticas de compartilhamento de dados do Facebook na época, o aplicativo também conseguiu acessar uma grande quantidade de dados dos amigos desses usuários, sem o consentimento explícito destes.

Kogan vendeu esses dados para a Cambridge Analytica, uma empresa de consultoria política britânica que utilizou esses dados para construir perfis psicológicos detalhados dos usuários, supostamente para direcionar publicidade política de forma mais eficaz durante campanhas, incluindo a campanha presidencial de Donald Trump em 2016 nos Estados Unidos e o referendo do Brexit no Reino Unido.

O Facebook proíbe a venda de dados coletados em sua plataforma para terceiros. Quando a notícia do vazamento veio a público em março de 2018, gerou uma enorme controvérsia sobre a privacidade dos dados, o consentimento dos usuários e a ética das práticas empresariais do Facebook. 

A empresa fundada por Zuck foi acusada de não proteger adequadamente as informações pessoais dos seus usuários e de não ter tomado medidas suficientes quando descobriu a transferência de dados para a Cambridge Analytica em 2015.

O escândalo resultou em uma grande queda na confiança dos usuários no Facebook, audiências perante o Congresso dos EUA e o Parlamento britânico onde Zuckerberg teve que testemunhar, e uma multa recorde de 5 bilhões de dólares imposta pelo Federal Trade Commission (FTC) dos EUA por violações de privacidade.

Em resposta, o Facebook fez várias mudanças em suas políticas, restringindo o acesso de terceiros aos dados dos usuários e aumentando a transparência sobre como os dados são coletados e usados.

O escândalo da Cambridge Analytica é frequentemente citado como um divisor de águas na compreensão pública sobre a privacidade na internet e motivou discussões e reformas sobre regulamentação de dados em várias partes do mundo.

Como era o estilo romano de esculturas

Fotomontagem (Instagram @zuck e Wikipedia) - Estátua encomendada pelo CEO da Meta (E) e de Lívia Drusa, a primeira imperatriz de Roma.

A tradição romana de esculturas tinha um significado cultural e social profundo, especialmente relacionado a figuras de destaque, como membros da elite e suas famílias. Essa peças eram uma forma de perpetuar a memória e a presença de uma pessoa, simbolizando seu status e papel na sociedade.

No contexto das mulheres na Roma antiga, as esculturas podiam servir vários propósitos:

  • Honra e Memória: Esculturas eram frequentemente feitas para honrar mulheres da nobreza ou da família imperial. Elas serviam como uma forma de memória permanente, especialmente após a morte da pessoa representada.
     
  • Representação Idealizada: Muitas vezes, essas esculturas não apenas capturavam a semelhança física, mas também idealizavam a pessoa retratada, incorporando atributos de beleza, virtude e dignidade, que eram valorizados pela sociedade romana.
     
  • Propaganda e Legitimação: No caso da família imperial, as esculturas de mulheres podiam ser usadas como ferramentas de propaganda para enfatizar conexões familiares, linhagem e legitimidade do poder. A representação de imperatrizes e outras mulheres da corte imperial em esculturas ajudava a reforçar a imagem pública de uma dinastia estável e honrada.
     
  • Aspectos Religiosos e Funerários: Esculturas também eram usadas em contextos religiosos e funerários. Nos mausoléus e nas tumbas, esculturas de mulheres podiam ser colocadas para marcar seu túmulo e servir como um ponto de contato para o culto memorial.