Duas praias ao sul da cidade australiana de Adelaide foram fechadas ao público após mais de cem surfistas que foram aos locais apresentarem sintomas diversos como dor de garganta, tosse seca e visão turva. Além disso, animais marinhos, como peixes e moluscos, foram encontrados mortos na costa.
Autoridades de saúde coletaram amostras de água e suspeitam que uma proliferação de algas tóxicas possa ter causado os problemas de saúde. Uma espuma descolorida é visível e se estende por centenas de metros ao longo da Praia de Waitpinga, que foi fechada.
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Um surfista australiano, Anthony Rowland, que esteve na manhã de sábado (15) com alguns amigos e descreveu o que aconteceu ao site australiano ABC News. "Enquanto estávamos lá, começamos a tossir", disse.
"[Nós] chegamos [da praia] e continuamos tossindo depois de subir a colina, e algumas pessoas no estacionamento se aproximaram e disseram que estavam com a mesma tosse e que nem tinham entrado na água ainda." Rowland afirmou ainda que sentiu dor nos olhos, dor de garganta e tosse que "continuou o dia todo".
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Os perigos da espuma do mar
A pesquisadora Ipek Kurtböke, professora de Microbiologia da Universidade de Sunshine Coast, alerta para o perigo das espumas no mar.
"Minha pesquisa mostra que as pessoas não devem entrar no mar quando ele estiver espumando. Esses 'smoothies' bacterianos podem conter mais patógenos nocivos do que uma estação de tratamento de esgoto – e você não iria nadar em esgoto", aponta ela, em artigo publicado no The Conversation.
Segundo ela, em praias com muita espuma do mar, as pessoas devem evitar qualquer contato com a água. "Estudo espumas marinhas desde 2003. Em 2021, meu aluno de doutorado Luke Wright e eu publicamos uma pesquisa sobre nossa descoberta de micróbios causadores de doenças infecciosas nas espumas marinhas da Sunshine Coast, em Queensland", conta a professora.
"Chamados de Nocardiae, esses micróbios são bactérias filamentosas que podem causar espuma em estações de tratamento de águas residuais, particularmente quando há uma alta carga de gorduras, óleos e graxas. Agora sabemos que as bactérias também podem produzir espuma no mar", aponta.
Kurtböke pontua que a bactéria Nocardiae é conhecida por causar infecções de pele, pulmão e sistema nervoso central em humanos e animais. "Mas a infecção geralmente só se instala em pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos. A bactéria pode causar abscessos no cérebro, pulmões e fígado", diz.
Poluição e mudanças climáticas
"Reduzir a poluição é fundamental para evitar surtos de espuma marinha contaminada. No entanto, a espuma também pode surgir em áreas naturais devido a óleos vegetais. Pesquisas contínuas e investimentos em tratamento de esgoto são essenciais para minimizar os riscos à saúde pública", aponta a pesquisadora.
Ipek Kurtböke afirma que o problema da espuma do mar não se limita à Austrália, sendo observado em diversas partes do mundo, em especial em países como Índia e Turquia. "À medida que a poluição e o aquecimento global aumentam, eventos de espuma tóxica podem se tornar mais frequentes, exigindo atenção científica e medidas preventivas constantes."