Em artigo publicado na revista Aging Biology, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, descrevem estudos de laboratório feitos com uma possível nova terapia para combater o Alzheimer — e os resultados avistados são promissores.
A terapia consiste em injetar no organismo uma molécula capaz de "restaurar a proteostase", o equilíbrio dinâmico que atua sobre as células — cuja função é diretamente comprometida pelo Alzheimer —, e mitigar a progressão da doença de forma significativa, ou mesmo restaurar as funções a um nível anterior ao da doença.
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A proteostase, ou homeostase proteica, é um conjunto de processos responsáveis por manter o equilíbrio das proteínas celulares. Ela é essencial para garantir que as proteínas sejam sintetizadas, dobradas, transportadas e degradadas da forma correta. Quando a proteostase falha, há um acúmulo de proteínas “mal trabalhadas”, o que contribui para a formação de diversas doenças neurodegenerativas, como é o Alzheimer.
No organismo afetado pelo Alzheimer, a função de proteostase das células é altamente comprometida, o que leva ao acúmulo de proteínas tóxicas — e, portanto, a uma “perda” da comunicação entre os neurônios e do transporte intracelular.
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A molécula usada na nova terapia em questão é o ácido 4-fenilbutirato (ou PBA), que tem propriedades ‘antiagregantes de proteínas’ (e uma função anti inflamatória). O PBA teria, assim, um potencial terapêutico para inibir a deterioração cognitiva típica de doenças como Alzheimer e Parkinson, atuando em estratégias voltadas à retomada da proteostase e à interrupção desse acúmulo de proteínas que danificam as funções do neurônio.
No estudo, os pesquisadores injetaram o composto PBA em ratos de laboratório afetados pela doença a fim de acompanhar seus sinais cerebrais, isto é, para comprovar que a presença do composto levaria a uma restauração da função de proteostase celular.
Os resultados obtidos foram positivos: de forma geral, o cérebro dos animais apresentou melhora após a terapia com PBA, mesmo naqueles casos em que o composto foi administrado num estágio avançado da doença.
Além de mitigar os efeitos cognitivos do Alzheimer, o PBA demonstrou poder ajudar no processo de desagregação de proteínas prejudicadas e até de restaurar funções cerebrais que haviam sido danificadas anteriormente. Ele ajudou sobretudo a melhorar regiões cerebrais relacionadas à perda de memória nos roedores, que passaram por uma melhora, após o tratamento, na capacidade de identificar objetos e distinguir objetos móveis de imóveis em testes de memória.
Os testes da terapia baseada em PBA foram feitos, além disso, tanto em roedores de idade avançada como em espécimes mais jovens, e os resultados obtidos mostraram que, independente da faixa etária, a terapia foi capaz de inibir alguns sinais deletérios do Alzheimer no organismo, causados pela tendência ao acúmulo de proteínas tóxicas.
Medicamentos à base de 4-fenilbutirato já foram aprovados por autoridades de saúde nos EUA (Food and Drug Administration) e no Canadá (Health Canada), usados para "reduzir a morte neuronal em pacientes com ELA [Esclerose Lateral Amiotrófica]", de acordo com o relatório Monitoramento do Horizonte Tecnológico, de 2023, do Ministério da Saúde.
Isso porque a ELA tem um mecanismo de ação similar ao efeito gerado pelo Alzheimer: é uma doença causada pelo acúmulo de proteínas, como TDP-43 e SOD1, que são agregadas nos neurônios e comprometem sua função. A ação dessas proteínas também causa uma disfunção da proteostase, permitindo o acúmulo de agregados tóxicos.