O cérebro humano é composto por dois tipos de células: os neurônios (também chamados "células nervosas"), que transmitem informações por impulsos elétricos e controlam o sistema nervoso; e as glias, que protegem, nutrem e dão suporte aos neurônios.
As microglias, por sua vez, são tipos de glias menores, que correspondem a 10% de todas as células cerebrais. Elas são responsáveis por sondar o ambiente, nos vasos sanguíneos do cérebro, em busca de organismos invasores, como bactérias e vírus, para manter o cérebro saudável.
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Mas, de acordo com Linda Watkins, especialista em neurociência ouvida pela BBC, essas células podem também ser vilãs do sistema cerebral. Isso ocorre quando sua atividade se torna mais intensa; hiperativas, as microglias, que protegem o cérebro de infecções e são essenciais para o desenvolvimento cerebral, podem "sair do controle" e continuar a liberar substâncias inflamatórias mesmo depois de combater os invasores.
As citocinas, substâncias que combatem agentes infecciosos, são liberadas em excesso e começam a estimular patologias no cérebro, como doenças crônicas relacionadas à memória (Alzheimer), ou mesmo reagir a substâncias específicas, como os opiáceos, de forma a reforçar o desejo e a dependência.
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De acordo com Watkins, o receptor responsável por ativar essas células reage às substâncias ilícitas, como a metanfetamina ou a cocaína, incentivando sua busca e intensificando o ciclo de dependência.
Mas, ainda que você não use drogas, as microglias podem ser um problema: elas influenciam também a dor crônica. Quando o corpo sofre uma lesão, as microglias liberam citocinas que sensibilizam os neurônios da dor, por sua natureza inflamatória. Assim, bloquear a ação das microglias poderia ajudar a diminuir a dor intensa.
Mas o que pode deixar as microglias hiperativas?
O envelhecimento é uma grande causa do aumento na atividade dessas células, que passam a "trabalhar mais" e prejudicam o cérebro em idade avançada. Declínio cognitivo e na resposta a estímulos podem levar a uma acentuação do quadro de Alzheimer em pessoas com o gene da doença, que progride conforme as citocinas são liberadas em maior quantidade.
O aprofundamento dos conhecimentos sobre as microglias e sua forma aliada pode, entretanto, ajudar a ciência a combater diversos tipos de doenças, dores e vícios, desde que potencialize seu papel de aliadas no organismo — e combata sua forma vilanesca.